Descoberta de diamantes transformou Franca na terra de lapidação e comércio

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 28 de novembro de 2024 às 11:30
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Extração na região de Franca começou no século 18, após o fim da mineração em Minas Gerais e a busca de garimpeiros por novas terras

Franca ficou conhecida como terra da lapidação por conta dos diamantes encontrados na região – foto Freepik

 

Os 200 anos que separam o passado de Franca dos dias de hoje mantém uma característica em comum: as riquezas da terra. Mas o brilho escondido na paisagem já foi motivo de muita cobiça.

Foi no fim do século 18, com a escassez da mineração, que a região foi ocupada. Por incentivo da coroa portuguesa, uma estrada que cortava São Paulo com destino a Goiás foi aberta para a busca de novas fontes de fortuna.

No caminho, a população que já não tinha como extrair recursos de Minas Gerais chegou em Franca: uma terra boa e com água abundante.

“Eles vieram do movimento de escasseamento da mineração, que ocupa o distrito do Cerro em Minas Gerais, e a região diamantina. E esse pessoal precisa de alimentos e precisa de espaço”, diz Pedro Geraldo Saad Tosi, professor de história econômica da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Franca.

Só que os mineiros, que dominavam as técnicas do garimpo, encontraram na cidade algo ainda mais valioso que o ouro: o diamante.

Professor de geografia, Alexandre Rangel Caretta explica como estas pedras tão preciosas se formaram na região.

“Houve um processo de vulcanismo em que muito magma saiu do manto terrestre, subiu até a superfície e esse magma incorporou esses diamantes, essa rocha é chamada de quimberlito, a rocha que armazena esses diamantes”.

“Esses quimberlitos se tornaram exposto aos processos físicos, químicos aqui da superfície e acabaram se desagregando”.

“O diamante é muito duro, muito resistente à erosão, os outros minerais do quimberlito acabam sendo levados embora e os diamantes acabam descendo pelo fluxo dos rios e se espalhando em toda essa região que a gente está agora”.

Região preciosa

Ao contrário do que se pensa, a maior parte dos diamantes de Franca foi encontrada em cidades vizinhas entre São Paulo e Minas Gerais.

As primeiras pedras preciosas, por exemplo, estavam em Patrocínio Paulista (SP), às margens do Rio Santa Bárbara, conta Alexandre.

“Os diamantes daqui na verdade não se formaram aqui. Se formaram em áreas adjacentes no entorno da Serra da Canastra até o grupo Araxá, região próxima à gente”.

“Ao longo da separação dos continentes, esses diamantes foram erodidos, retirados dessa região fonte e a água dos rios veio trazendo”.

“Eles são muito resistentes, então conseguem não perder suas características ao longo do transporte e se espalharam pelas bacias dos rios aqui da região no em torno de Pedregulho, Cristais Paulista, Franca, Patrocínio Paulista, Claraval, Ibiraci, Capetinga, então é uma grande região diamantífera”.

Franca, por estar no caminho dos tropeiros, se tornou um ponto estratégico de comércio de diamantes e o negócio resistiu por décadas na Praça Barão.

“Diamante, quando vem à luz, já é riqueza. Passar de mão em mão é uma forma de pagamento, também, em uma época em que escassez de metal pra moeda com garantia de valor era muito incomum”.

“Então, o simples fato de o sujeito levar umas pepitas de ouro, umas pedrinhas de diamante na gibeira, permite que ele possa fazer compra, venda, subsidiar, ocupar a terra. Para essas populações coloniais, a mineração é importante porque traz riqueza à luz”, diz Pedro.

Terra de lapidação

Leandro Vilaça, filho do lapidário Miguel Vilaça – foto Aurélio Sal/EPTV

 

Além do garimpo, a lapidação do diamante foi outra habilidade aprendida pelos homens da cidade.

“De alguma maneira, essas populações que iam e que vinham adquiriram o hábito de colocar Franca como o lugar da lapidação dos diamantes”, explica o professor de história.

Miguel Vilaça foi um desses lapidários. Até hoje, o filho dele, Leandro de Almeida Vilaça, guarda algumas das ferramentas utilizadas pelo pai como lembrança daquele tempo.

“Ele entrou nesse ramo por causa do meu tio, que já tinha oficina de lapidação. É uma coisa muito artesanal porque a pessoa precisa ser delicada, a pedra é pequena e é muito difícil, tem de ter o dom pra fazer isso. Se não, não consegue fazer”.

Segundo ele, como Franca estava no centro da região diamantífera, o comércio na cidade cresceu.

“A região toda conseguia extrair as pedras e, como Franca é o centro, o comércio ficou forte”.

Ainda segundo o comerciante, naquela época era possível encontrar para venda os dois tipos de diamante: pedra bruta e lapidada. E era na rodoviária, onde começou o comércio do diamante. Anos mais tarde, a Praça Barão se tornou centro do negócio.

Muita gente em Franca se especializou na lapidação e trabalhou com diamantes por muito tempo também. Hoje, no entanto, sobraram apenas as lembranças.

“Essa técnica [de lapidação] é característica da cidade, mas hoje em dia isso não existe mais. É feito em máquina. São grandes empresas que fazem essa lapidação. Manualmente é muito difícil você encontrar alguém que faça isso”, diz Leandro.

Hoje o comércio de diamantes em Franca já não é tão forte como foi no passado. E também precisa mais fiscalização para que a atividade não tenha tanto impacto no meio ambiente.

Isso porque, segundo Alexandre, o garimpo ainda é a forma mais utilizada para a extração da pedra preciosa na região.

“O predomínio da extração de diamantes aqui na região é feito na forma de exploração pelo garimpo. A maioria dos garimpos que a gente tem aqui na região não é regulamentada, é uma atividade executada de forma bastante amadora e com técnicas bastante rudimentares”.

“Eles exploram as várzeas dos rios em busca das linhas de cascalho que estão na sub superfície. Encontrando, eles vão fazer a cava da mineração, geralmente em espaços de três metros quadrados e vão remover esse cascalho e lavá-lo, então é uma técnica ainda bastante antiga, de baixa produtividade, e continua seguindo na ilegalidade até os dias de hoje”.

Para ele, além de legalizar a exploração por meio da mineração, também é preciso pensar em formas sustentáveis de fazer o processo.

“Primeiro, a fiscalização efetiva por parte do poder público, para que essa atividade cessasse definitivamente”.

“Todavia, é uma atividade secular e eu acho muito pouco provável que ela se encerre completamente. Talvez pensar em uma exploração de certa forma sustentável para que possa legitimar o trabalho dessas pessoas e também tirá-los da clandestinidade e talvez melhorar a qualidade de vida do meio ambiente regional”.

*Informações G1


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