Depressão na gravidez cresce entre mulheres mais jovens, diz pesquisa

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 14 de julho de 2018 às 00:43
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:52
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Pesquisa feita na Inglaterra aponta possíveis causas para sensação de isolamento e ansiedade

As mulheres jovens de hoje são
mais propensas a sofrer de depressão e ansiedade durante a gravidez do que suas
mães, constatou uma pesquisa realizada na Inglaterra e publicada na última
sexta-feira, 13 de julho, na revista científica “JAMA Network Open”.

De 1990 a 1992, cerca de 17% das mulheres grávidas no
sudoeste da Inglaterra que participaram do estudo tinham sinais de depressão.
Mas a geração que se seguiu, incluindo as filhas e parceiras dos filhos dessas
mulheres, está pior.

Vinte e cinco por cento dessas mulheres jovens, grávidas
em 2012 a 2016, mostraram sinais de depressão. “Estamos falando de muitas
mulheres”, diz a co-autora do estudo, Rebecca Pearson, epidemiologista
psiquiátrica da Universidade de Bristol, na Inglaterra.

Estudos anteriores também
sugeriram que a depressão durante e após a gravidez é relativamente comum. Mas
esses estudos são datados, diz Pearson. “Nós sabemos muito pouco sobre os
níveis de depressão e ansiedade em novas mães hoje”, diz ela.

A pesquisa

Para medir sintomas de
depressão e ansiedade, os pesquisadores utilizaram as Escalas de Depressão de
Edimburgo – 10 perguntas, cada uma com uma pontuação de 0 a 3, escritas para
revelar risco de depressão durante e após a gravidez. Uma pontuação combinada
de 13 e acima sinaliza altos níveis de sintomas.

De 1990 a 1992, 2.390 mulheres com idades entre 19 e 24
anos responderam a pesquisa durante a gravidez. Destas mulheres, 408 (17%)
marcou 13 ou mais, indicando níveis preocupantes de depressão ou ansiedade.

Quando os pesquisadores entrevistaram as mulheres da
segunda geração, incluindo as filhas das participantes originais e as parceiras
de seus filhos de 19 a 24 anos, os números eram ainda mais altos.

Das
180 mulheres grávidas em 2012 a 2016, 45 delas (25%) marcaram 13 ou mais
pontos. Não está claro se os resultados seriam semelhantes para mulheres
grávidas com mais de 24 anos ou menos de 19 anos.

Pânico e medo

Esse
aumento em mulheres jovens com pontuação alta para sintomas de depressão vem em
grande parte de pontuações mais altas em questões que indicam ansiedade e
estresse, diz Pearson.

Essas descobertas se encaixam
nas observações da psiquiatra Anna Glezer, da Universidade da Califórnia, em
San Francisco. “Uma parte muito significativa das minhas pacientes
apresenta seu problema primário como ansiedade, em vez de um mau humor”,
diz Glezer.

A pontuação de corte do estudo para indicar alto risco
de depressão foi de 13, mas Pearson aponta que uma pontuação mais baixa pode
sinalizar depressão leve. As mulheres que marcam 8 ou 9 “ainda não estão
se sentindo bem”, diz ela.

Embora os pesquisadores ainda
não saibam o que está por trás do aumento, eles têm algumas suposições. Mais
mães trabalham hoje do que nos anos 90, e dificuldades financeiras mais duras
levam as mulheres a trabalhar em empregos inflexíveis. Mais estresse, menos
sono e mais tempo sentadas também podem contribuir para a diferença.

O tempo gasto nas redes sociais também pode aumentar os
sentimentos de isolamento e ansiedade, diz Glezer.

Impacto da depressão nos filhos

Os pesquisadores também
descobriram que filhas de mulheres que estavam deprimidas durante a gravidez
tinham cerca de três vezes mais chances de ficarem deprimidas durante a
gravidez do que mulheres cujas mães não estavam deprimidas.

Esse risco elevado “foi novidade para mim”,
diz o obstetra e ginecologista John Keats, que presidiu um grupo do Colégio
Americano de Obstetras e Ginecologistas que estudou a saúde mental materna.
“Perguntar se a mãe de um paciente teve depressão ou ansiedade durante a
gravidez pode ajudar a identificar mulheres em risco”, diz ele.

Os efeitos negativos do
estresse podem ser transmitidos durante a gravidez de uma maneira que os
cientistas estão apenas começando a entender, e interromper esse ciclo é
importante. “Você não está falando apenas sobre os efeitos em um paciente
e sua família, mas os efeitos potenciais em seu feto em crescimento e
recém-nascido”, diz Keats, da Faculdade de Medicina da UCLA.


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