Da Serra da Canastra: conheça o vinho brasileiro mais bem pontuado no Descorchados

  • Joao Batista Freitas
  • Publicado em 28 de março de 2022 às 20:00
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Para a edição de 2022 foram mais de 4 mil vinhos provados, de 230 vinícolas argentinas, 223 chilenas, 35 vinícolas uruguaias e 35 brasileiras

Primeiro foi o Syrah Vista do Chá 2012, ao se destacar como melhor vinho brasileiro no concurso da revista inglesa Decanter, em 2016. Agora, o Sacramentos Sabina 2021 é considerado o melhor tinto brasileiro na edição de 2022 do guia chileno Descorchados.

O destaque aos dois vinhos, elaborados com a mesmíssima uva syrah e em regiões pouco tradicionais no mapa vinícola brasileiro, revela uma técnica de cultivo que vem revolucionando a viticultura do Sudeste e do Centro Oeste. A notícia é da seção Paladar, publicada pelo Estadão.

O primeiro tinto vem de vinhedos da Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal, no lado paulista da Serra da Mantiqueira; o segundo é um projeto novo da Sacramentos Vinifer, na Serra da Canastra, em Minas Gerais.

Colheita de inverno

A técnica utilizada no cultivo de suas uvas é chamada de dupla poda, poda invertida ou colheita de inverno. Desenvolvida pelo pesquisador brasileiro Murillo Regina, ela dá certo ao “enganar” a videira a partir da poda, obviamente, e também da irrigação e de um hormônio que a faz a planta hibernar.

Com isso, as uvas conseguem amadurecer tranquilamente no início do inverno, quando não há o risco de muitas chuvas, e quando é maior a amplitude térmica, a diferença de temperatura entre o dia e a noite que faz a uva se desenvolver com maior complexidade.

Murillo Regina explica que as noites mais frias de junho e julho nesta região permitem o maior equilíbrio entre álcool, estrutura e acidez do vinho, fazendo com que sejam mais equilibrados.

“E as uvas, ainda, têm uma sanidade impressionante, ao contrário de muitas frutas que recebo no meu laboratório”, afirma o enólogo Alejandro Cardozo, que elaborou o Sabina.

“As uvas têm uma sanidade impressionante”, afirma o enólogo Alejandro Cardozo, que elaborou o Sabina

Neste vinho, ele definiu o momento da colheita por fotos, imagens por zoom e exames de laboratório. Não provou as uvas antes da colheita, já que ele estava em Caxias do Sul (RS) e o vinhedo, em Minas.

Imediatamente depois de colhidas, as uvas viajaram por dois dias em caminhão refrigerado até chegarem à Caxias. O tinto premiado neste ano pelo Descorchados é o primeiro que Cardozo faz com uvas originárias da dupla poda.

Uruguaio, ele é sócio dos espumantes gaúchos Estrelas do Brasil e dá consultoria para mais de 20 vinícolas, na América do Sul, na sua Empresa Brasileira de Vinificações.

Sonho do pai

Jorge Donadelli Júnior, sócio da Sacramentos Vinifer, conta que a poda invertida possibilitou realizar o sonho do seu pai de ter o seu próprio vinho. “Imaginávamos que seria impossível ter um vinhedo na nossa região, até conhecermos o trabalho do Murillo”, conta ela.

Primeiro com negócios no ramo calçadista (a marca Donadelli) e hoje também com investimentos nos ramos imobiliários e do agronegócios, ele plantou os primeiros dois hectares de vinhedos numa fazenda a 1.100 metros de altitude do nível do mar em 2018.

Aumentar a produção

O plano é chegar a 30 hectares. Além do tinto, Jorgito, como é conhecido, lançou também um rosé, resultado da sangria do tinto, e se prepara para colher as primeiras uvas de sauvignon blanc neste inverno.

Vendido por R$ 378 (a safra 2017 do Syrah Vista do Chá 201) e por R$ 150 (o Sacramentos Sabina 2021), os dois vinhos são exemplos do potencial desta região para o cultivo na dupla poda.

Outros vinhos devem surgir, assim como novos prêmios, de instituições mais conceituadas, também devem ser anunciados não apenas para estas vinícolas, porque é bem perceptível na taça o ganho de qualidade do vinho brasileiro.


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