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Requalificação profissional ou ansiedade, fazem com que milhares de pessoas busquem plataformas de EAD
A quarentena vigora há pelo menos dois meses na maioria dos estados brasileiros. O isolamento social, fruto desse período, produziu um verdadeiro fenômeno de busca por aprendizagem.
Um levantamento do Google aponta que a procura por cursos de especialização à distância teve um crescimento de 130% no período da quarentena.
Instituições de ensino tradicionais também ganharam mercado, como a Fundação Getúlio Vargas (FGV) que apresentou um crescimento de 400% na adesão aos cursos onlines gratuitos, em comparação com os meses de janeiro e fevereiro.
A Udemy – plataforma líder de mercado na distribuição de cursos à distância – realizou uma análise da base de dados de alunos nos últimos dois meses, que revelou um crescimento de 425% no número de matrículas em cursos da plataforma no mundo todo e cerca de 95% de aumento no Brasil.
Sergio Agudo é diretor de negócios da Udemy na América Latina e atribui o crescimento da busca por aprendizagem à distância ao momento de instabilidade que a maioria das pessoas encara neste momento.
“É o resultado de uma situação muito atípica na história da humanidade. Estamos vendo o mundo mudar de um dia para o outro , creio que há muito receio em relação ao desemprego. É um momento delicado.
Acredito que há uma motivação de ‘como eu vou sobreviver nesse novo contexto ‘”, diz Agudo.
Para ele, o tempo livre que as pessoas adquiriram por passarem os dias integralmente em casa e a fragilidade emocional da imprevisibilidade do futuro são os dois pontos principais para a busca por ocupar o tempo adquirindo conhecimento .
O crescimento das plataformas de cursos não presenciais é alavancado por uma massa de alunos com interesses difusos , que enxergam a quarentena como o momento propício para adquirir novos conhecimentos ou aperfeiçoar habilidades.
É o caso do Ygor Damsceno, estudante de publicidade, auxiliar de comunicação na Laboratório Fantasma e iniciante em uma série de cursos.
Assim como apontou o diretor de negócios da Udemy, Ygor acredita que o tempo livre é um fator essencial para que as pessoas busquem pelo ensino à distância.
“O período da quarentena dá impressão de que a gente tem mais tempo . Como se a gente economizasse o tempo e pudesse investir em outras coisas. E em um momento de crise como este, o conhecimento é essencial para ter alguma garantia de se manter no mercado ”, afirma o comunicador.
A preocupação com a mercado profissional também move diversos alunos à buscarem especialização ou qualificação para se recolocar no pós-pandemia .
Paola Santos é formada em Comércio Exterior e está desempregada há seis meses, ela ingressou em um curso de empreendedorismo na exportação distribuído pela plataforma Aduaneiras .
“O comércio exterior foi uma das áreas mais afetadas por conta da contaminação ao importar e exportar. Eu acho que vai ser uma das últimas áreas a normalizar, então eu preciso melhorar o meu currículo para me encaixar de novo no mercado de trabalho”, argumenta.
Paola investiu cerca de R$ 240 no curso que tem duração de 32 horas. Ela destaca que o conteúdo e a carga horária são dois fatores importantes para a escolha curso e da instituição.
Além de empreendedorismo na exportação, ela deve iniciar um curso de libras pois reconhece que não há profissionais aptos para se comunicar com deficientes auditivos nas empresas e isto pode ser um diferencial no mercado.
Paola revela que encontrou os cursos enquanto navegava na internet em busca de especialização na sua área de atuação, e que “não estava procurando nada específico” até encontrar.
Assim como Paola, Ygor também utiliza a internet para identificar workshops e treinamentos que garantam qualificação na área da publicidade.
Ele conta que os grupos do Whatsapp com publicitários e jornalistas é o lugar onde encontra as indicações para iniciar as aulas.
Atualmente ele está inscrito em dois curos , um workshop de estratégia digital e telling para redes sociais da ESPM e uma extensão da graduação pelo Projeto Repórter do Futuro da Oboré . Também deseja fazer aulas sobre como usar o Tik Tok para vender mais no e-commerce que mantém.
Ygor revela que escolheu os cursos por conta da qualidade do ensino e do renome das instituições , mesmo que outras plataformas como a Udemy ofertem conteúdos semelhantes.
“O nome! O conteúdo também me interessou, porque eu trabalho muito com redes sociais, então é bom que eu saiba lidar com este ambiente. Mas também tem a questão do nome da instituição”, defende dizendo que as universidades tradicionais garantem maior destaque do currículo .
O fenômeno da procura por aprendizagem online também é acompanhado de outros fatores inerentes a este momento peculiar do país: a ansiedade, a insegurança e a necessidade de se reinventar diante de um cenário indefinido.
“Estava muito difícil de organizar as demandas do trabalho, da faculdade e ainda intercalar outras atividades, como assistir alguma aula ou fazer alguma atividade que eu gosto, como ler newsletter. A solução que eu encontrei foi madrugar”, conta Ygor.
Ele afirma que acordava às 6h30 da manhã para fazer algumas coisas, “tirar um tempo para respirar, tomar café da manhã e iniciar as atividades do dia a dia”, acrescenta.
Ao mesmo tempo, Ygor está participando de dois cursos, trabalha, assiste às aulas da universidade, e também se prepara para integrar um festival de filmes curta-metragem.
Ygor afirma, ainda, que se inscreveu em um curso de programação gratuito da Digital Inovation One, porém está atividade foi negligenciada em meio às outras por conta da falsa sensação de tempo livre que ele revela ter durante a quarentena.
Ele conta que a realização dos cursos é fruto deste momento de isolamento social e crê que a aprendizagem online dificilmente seria parte da sua vida em outro contexto.
“A realização desses cursos é algo muito propício desse momento que estamos vivendo, não acredito que dentro da antiga normalidade eu me sentiria confortável para assumir tantas responsabilidades online. Antes da pandemia não acredito que seria uma realidade na minha vida”, afirma.
Completamente inserido na experiência virtual, Ygor revela um problema das instituições tradicionais que migram para a plataforma online: “essas instituições não sabem reconhecer o EAD (Ensino à Distância) como um universo próprio que tem características próprias e métodos de funcionar diferentes do presencial”, diz.
“As instituições parecem ainda não ter entendido qual é a dinâmica desse ambiente digital para manter a atenção do aluno e compreender a interação do aluno. Não há como perceber a fisionomia ou gestos corporais que indicam se a pessoa está entendendo ou não’’, argumenta.
Ele destaca o trabalho do Descomplica, uma rede de cursos preparatórios para o vestibular, que nasceu completamente voltado para a experiência online.
Ygor conta que foi aluno durante o ensino médio e que esta foi a melhor interação online de ensino aprendizagem que já teve, por conta da estrutura das aulas e dos atendimentos individuais.
Agudo, diretor de negócios da Udemy, garante que este é um dos diferenciais da empresa, pois permite que o aluno escolha um profissional com o curso voltado especificamente para a área de interesse e que ele tenha contato direto com o instrutor.
Ele também destaca que muitos educadores que realizavam atividades presenciais migraram para Udemy depois da oficialização da quarentena.
O diretor de negócios da empresa indica que o momento gerou um crescimento exponencial que foge dos padrões, mas que deve ser mantido com a volta à normalidade.
“Existe um fator artificial para o crescimento, temos cerca de 4 bilhões de pessoas no mundo obrigadas a ficar em casa. Por outro lado, acredito que o mundo vai mudar, já mudou. Escritórios que comportavam 100 pessoas agora só podem funcionar com 50 para manter o distanciamento. E nós da Udemy sabemos, que geralmente, o aluno volta depois de encontrar uma boa experiência de aprendizagem”, explica.
Diferente das instituições de ensino tradicionais, a Udemy adota uma proposta de cadastramento de instrutores que podem ofertar cursos livres nas diversas áreas do conhecimento, que vão desde aulas de yoga, de ukulele e de como limpar a casa até conteúdos voltados para o mercado de trabalho.
Além da massa de alunos que passou a consumir os conteúdos ofertados no site, houve um crescimento de 55% no número de cursos criados, o que representa uma parcela de profissionais tentando se adequar a está nova realidade ou buscando mudar de carreira para fugir do desemprego.
A nova realidade imposta pela Covid-19 gerou o prenúncio de uma recessão econômica no país e a paralisia de diversos setores, como o turismo e a hotelaria.
Porém, algumas áreas puderem experimentar uma verdadeira explosão em meio a crise, como é o caso das empresas e instituições de ensino que ofertam cursos online.
*IG