Crescimento sem emprego veio para ficar, diz sociólogo que estuda setor produtivo

  • Cláudia Canelli
  • Publicado em 12 de dezembro de 2021 às 10:00
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Segundo estudo do sociólogo, o trabalho que as máquinas nunca poderão tirar do homem é o de natureza cognitiva e criativa.

Operários, que representavam grande parcela da população ativa no mundo industrializado, foram substituídos por robôs

O crescimento econômico sem emprego — a capacidade de produzir cada vez mais bens e serviços com cada vez menos trabalho humano — é uma das tendências do mundo do trabalho evidenciadas pela pandemia que vieram para ficar, avalia o sociólogo italiano Domenico De Masi.

Criador no início dos anos 2000 do conceito de “ócio criativo” — a ideia de que o justo equilíbrio entre trabalho, estudo e descanso favorece a capacidade inventiva —, De Masi opina que a única maneira de evitar que o desemprego aumente de forma incontrolável é reduzir as horas de trabalho à medida em que a tecnologia avança.

O sociólogo também defende o Estado de bem-estar social e políticas de renda básica universal, num mundo onde o emprego é cada vez mais instável.

Temporários

“É cada vez mais frequente uma experiência de trabalho composta por múltiplos empregos que se sucedem e se entrelaçam, intercalados com períodos de desemprego; empregos temporários, “gig economy” [economia dos aplicativos], contratos periódicos”, enumera De Masi.

“Isso induz todos os trabalhadores a um sentimento de precariedade”, diz o sociólogo.

“Uma vez que o tempo para encontrar trabalho, ou reencontrá-lo, será mais longo, nos interstícios, será necessário que todos tenham a garantia de uma sobrevivência digna, assegurada através de uma renda básica de cidadania e, posteriormente, de uma renda universal”, defende.

Mercado de trabalho

Em entrevista para o portal BBC News Brasil, ele disse que após a pandemia, e por causa dela, o mercado de trabalho sofrerá mudanças significativas.

O lockdown prolongado tornou necessário fechar muitos negócios e, portanto, tem causado uma redução acentuada em suas atividades e a falência das empresas mais frágeis, com a consequente demissão de toda ou parte de sua força de trabalho.

Enquanto isso, as empresas que tinham capital para investir adotaram novas tecnologias, substituindo o trabalho humano.

Trabalho em casa

Por fim, a disseminação do trabalho remoto, permitindo que milhões de pessoas trabalhassem em casa, possibilitou reduzir o uso de veículos, combustíveis e refeitórios de empresa etc., causando desemprego nesses setores.

Os operários, que no início do século 20 representavam a grande maioria da população ativa em todo o mundo industrializado, agora, substituídos por máquinas eletromecânicas e robôs, foram reduzidos a apenas um terço; outro terço é composto por funcionários, por sua vez, substituídos por computadores; outro terço, por fim, é representado por trabalhadores criativos: executivos, gerentes, dirigentes, empresários, profissionais, cientistas, artistas.

O que está claro para nós também hoje é que a pandemia ama bilionários. Em 2020, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg, a fortuna total dos 500 mais ricos do mundo cresceu 31% em relação ao ano anterior.


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