Crescimento das Fintechs vai baratear empréstimos pela concorrência

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 28 de abril de 2018 às 22:27
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:42
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Expansão dessas empresas fará com que uma parcela maior da população tenha acesso a serviços financeiros

O crescimento das fintechs, empresas
de tecnologia no setor financeiro, deve acelerar a partir da regulamentação,
determinada na última quinta-feira, 26 de abril, pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN).

A ideia é que, com a expansão dessas
empresas, aumente a concorrência no sistema financeiro, consequentemente os
custos de empréstimos para clientes desse segmento devem cair e uma parcela
maior da população ter acesso a serviços financeiros, como empréstimos,
seguros, investimentos e meios de pagamento.

O CMN estabeleceu dois modelos para
as fintechs operarem: a sociedade de crédito direto (SCD) e a sociedade de
empréstimo entre pessoas (SEP). No primeiro sistema, as empresas emprestam
recursos próprios por meio de plataforma eletrônica. No segundo, empresas ou
pessoas físicas entram numa plataforma para emprestarem dinheiro a outras
pessoas, modalidade conhecida como peer-to-peer lending.

As resoluções abrem caminho para as
fintechs atuarem sem estarem vinculadas a uma instituição financeira convencional.
Elas também não podiam emprestar com recursos próprios. O CMN estabeleceu
capital mínimo de R$ 1 milhão para as fintechs de ambos os tipos poderem
operar. Na modalidade peer-to-peer, cada credor poderá emprestar até R$ 15 mil
para um tomador. Este, no entanto, poderá contrair vários empréstimos de R$ 15
mil com credores diferentes. A SEP não pode operar com recursos próprios,
apenas fazer a intermediação entre emprestador e tomador.

Levantamento

O CMN permitiu que as fintechs façam
análise de crédito, cobrança, representação de seguros e emissão de moeda
eletrônica. Elas, no entanto, não poderão vender investimentos ao público, como
certificados de depósitos bancários (CDB), debêntures e demais instrumentos
financeiros para captarem recursos.

Diretor de Regulação da Associação
Brasileira de Fintechs (ABFintechs), Mathias Fischer informou que hoje quase 50%
da população brasileira não têm acesso a serviços bancários e empresas de menor
porte, como as startups, e têm dificuldades para conseguir financiamentos.
“Em função dos seus procedimentos simplificados e do uso intensivo de
tecnologia para a realização das análises de crédito, espera-se que a gente
consiga reduzir o custo dos empréstimos e fornecer o acesso ao crédito a
algumas parcelas da população e de empresas. São as pessoas sem conta em banco
e que têm dificuldades de acessar empréstimos ou empresas de menor porte,
starups, que não tem os 36 meses de faturamento que alguns bancos pedem”, disse
Fischer.

Atualmente, existem 343 fintechs
associadas. A ABFintech pretende concluir no próximo mês um levantamento com
mais dados sobre o setor. Fundador da Kavod Lending, fintech de crédito voltado
para empresas, Fábio Neufeld disse acreditar que haverá aumento da competição
no mercado. “Com a regra clara, as fintechs vão conseguir fazer mais
investimentos e crescer mais rápido. Os bancos terão de acompanhar a redução de
juros ou fazer parcerias com as fintechs.”

Conforme Neufeld, com a
regulamentação não será mais necessário depender de uma instituição financeira
para atuar no mercado. “Para cumprir a legislação, há a necessidade de estar
ligado a uma instituição financeira e atuar como corresponde bancário. Hoje,
fazemos a modalidade de peer to peer lending, mas, na realidade, estruturamos
toda a operação e entregamos para uma instituição financeira fazer a
formalização”, afirmou Neufeld.

Vantagens

A Kavod Lending opera no modelo de
financiamento coletivo peer to peer, em que qualquer pessoa pode emprestar
dinheiro para empresas de pequeno e médio portes com faturamento anual mínimo
de R$ 6 milhões. As operações contam com garantias como recebíveis, máquinas, automóveis,
imóveis, aplicações financeiras, entre outros bens materiais.

Segundo Neufeld, a aprovação do Banco
Central para proponentes atuarem como instituição financeira deve levar cerca
de seis meses. “A vantagem é que deixa as operações mais flexíveis, mais ágeis
e mais baratas, sem a intermediação de outra instituição.”

Para o fundador da Fintech, essa
operação como correspondente bancário acaba deixando os empréstimos com taxas
mais caras. “Os bancos cobram, às vezes, uma comissão, um custo desproporcional
ao trabalho que tem e a responsabilidade deles nessa operação. Então, na
prática, ter mais um intermediário encarece a operação”, avaliou Neufeld. Ele
afirmou que atualmente as taxas dos empréstimos às empresas variam de 1,5% a
1,9% ao mês. Sem a intermediação de bancos, essas taxas podem cair entre 30% e
40%.

Investidor, Lucas Cimino, 28 anos,
dono de uma galeria de arte, começou a aplicar dinheiro por meio das fintechs
em 2016. Segundo ele, as primeiras duas experiências, no modelo peer to peer,
não foram tão boas por não ter sido exigido garantias das empresas que tomavam
os empréstimos. “É muito importante ter uma fintech que faça um bom controle de
risco para os seus clientes. Vai emprestar para empresas que têm capacidade de
pagar. Tem de ser muito seletivo na hora de empresar dinheiro, ter uma garantia
em troca”, disse.

De acordo com Cimino, com a taxa
básica de juros, a Selic, mais baixa, fixada em 6,5% ao ano, é preciso procurar
investimentos mais rentáveis no mercado, apesar do aumento do risco. Para ele,
os investimentos por meio das fintechs são alternativas ao CDBs ofertados pelos
bancos e os títulos do Tesouro Direto, por exemplo, com o dobro dos
rendimentos. “O fato de ter uma garantia das empresas que tomam o empréstimo mitiga
o risco. Com o tempo as pessoas vão passar a conhecer mais essa forma de
investimento”, concluiu o investidor.


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