Covid mata em menos de 6 meses o mesmo que HIV matou em 9 anos no Brasil

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 8 de agosto de 2020 às 10:53
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:04
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Comparação com outras doenças virais mostra o tamanho do estrago que o coronavírus vem faz no Brasil

Castigado há séculos por epidemias e surtos dos mais variados tipos, o Brasil não é estranho a crises de saúde. Até hoje, no entanto, nenhum dos flagelos que atingem os brasileiros periódica ou continuamente matou tantos em tão pouco tempo como a covid-19.

O país deve chegar neste sábado (8) à trágica marca de 100 mil mortes causadas pela doença. Desde a gripe espanhola, há 102 anos, o Brasil não via algo assim, com a perda de vidas em uma velocidade muito superior a enfermidades como Aids, tuberculose e dengue.

“Isso é inédito, algo que nunca teve. Deveríamos estar em desespero, isso é uma tragédia como uma guerra de verdade, um conflito armado. Mas o Brasil está em uma anestesia coletiva”, diz o infectologista José Davi Urbaéz, porta-voz da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A comparação com outras doenças que, como a covid-19, são virais e não têm vacinas, mostra o tamanho do estrago que o novo coronavírus — que também pode atingir no sábado a marca de 3 milhões de casos confirmados no país — vem fazendo no Brasil.

Considerada a epidemia do século 20, o HIV e as doenças associadas à Aids fizeram 270.591 vítimas entre 1996 e 2018, de acordo com o DataSUS, sistema de vigilância em saúde do governo federal. O HIV, no entanto, levou 9 anos para alcançar o número de mortos que a covid-19 fez em pouco mais de 5 meses.

Quase endêmica no país, a tuberculose é outra doença que matou muitos brasileiros. Foram 104.268 óbitos entre 1996 e 2018, último ano em que o DataSUS tem contagem completa. Foi em 2017, depois de 22 anos de registros, que a doença atingiu a mesma marca de vítimas fatais que a Covid deixará até este fim de semana.

A dengue, outro flagelo que atinge os brasileiros a cada verão, apesar dos milhões de casos registrados, matou 6.984 pessoas em 23 anos. Em 2019, um dos piores anos da série, foram 782 óbitos. A malária, no mesmo período de 1996 a 2018, fez 2.342 vítimas fatais.

Chamada de “gripezinha” pelo presidente Jair Bolsonaro, a covid-19 é ainda bem mais mortal que os diferentes tipos de influenza, que em 23 anos causaram a morte de 9.836 pessoas no país, segundo os números do DataSus.

A influenza de 1918, que entrou para a história como gripe espanhola, matou entre 30 e 50 milhões de pessoas no mundo. Em um Brasil ainda majoritariamente rural, a estimativa é de 35 mil a 50 mil mortos, sendo quase 15 mil no Rio de Janeiro, maior cidade do país à época.

O início da epidemia no Brasil é marcado como 26 de fevereiro, quando foi confirmado o primeiro caso, em São Paulo. Foram praticamente três meses para chegar em 50 mil mortes, e mais 50 dias para se chegar a 100 mil, se o número for de fato atingido neste sábado — até quinta-feira, foram confirmadas 98.493 mortes por covid-19 no país.

Há sete semanas epidemiológicas consecutivas o país tem registrado mais de 1.000 mortes por dia em média, e caminha para a oitava semana acima desse patamar após registrar 4.930 óbitos nos últimos cinco dias.

Paralelamente, o número de casos permanece elevado, com média superior a 50 mil registros por dia nos dias de semana, levando o Brasil a passar de 2 milhões para 3 milhões de infecções confirmadas em apenas 23 dias caso o número seja alcançado no sábado — uma aceleração em relação ao milhão de casos anterior, que foi acumulado ao longo de 27 dias.

Depois de começar a epidemia com fechamento da economia nas primeiras semanas, hoje o Brasil vê a maior parte das cidades com a vida voltando ao normal, inclusive com discussões sobre a retomada de aulas presenciais, além de bares, restaurantes e academias abertos e circulação de carros e pessoas pelas r


+ Saúde