Covid-19 deixará um triste saldo de desemprego no polo calçadista francano

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de abril de 2020 às 18:55
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:34
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Com 550 empresas calçadista e 17.500 trabalhadores, setor pode ter o pior ano de toda a sua história

O presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Franca (Sindifranca), José Carlos Brigagão, traçou uma dura  realidade do setor: demissões e fechamento de empresas. 

Ao falar com exclusividade sobre o setor durante essa pandemia do coronavírus, Brigagão deixou claro que o momento é de muita tensão.

Ao responder algumas perguntas do Jornal da Franca, Brigagão detalhou a realidade do setor calçadista.

P – Como o senhor avalia essa situação da pandemia para o setor produtivo regional? O que impactou no setor calçadista?

R – A produção da Indústria calçadista de Franca já vem em declínio desde 2014, com a recessão. Terminamos o ano de 2019 com o pior resultado dos últimos 20 anos, tanto para o mercado interno como para o externo. 

Iniciamos o 2020 com a expectativa de recuperação da economia, mas, veio o coronavirus. A indústria de Franca está parada há 15 dias. 

Os lojistas estão pedindo prorrogação das duplicatas e até mercadoria entregues anteriormente à crise e estão cancelando os pedidos, porque também o consumidor esta em isolamento. 

Portanto, não há consumo e vendas. O futuro é incerto, não sabemos até quando esta situação vai persistir. É uma guerra onde todos perdem, será preciso, após este caos, planejar, replanejar a reconstrução da economia e das empresas.

P – Qual o numero de empregados hoje na indústria calçadista?

R – Terminamos o ano de 2019 com a média de 17.600 funcionários. A sazonalidade que ocorre todos os anos em novembro e dezembro era recuperada no primeiro trimestre. 

Infelizmente ainda não recebemos o Caged deste ano, não sabemos o número exato de funcionários nas empresas no ano.

P – Quantas fabricas existem hoje em Franca?

R – Em nossos registros, temos 550 fábricas registradas, nos portes de grande, médio, pequeno e micros.

P – É possível haver demissões?

R – Sim, infelizmente. As empresas estão fazendo um grande esforço para evitar demissões. 

Mas, vai chegar um ponto em que não terão condições financeiras de continuarem bancando esta situação, então, não havendo vendas, haverá demissões. 

As condições de financiamento de capital de giro que os governos estão disponibilizando, é burocrático, caro e muitas exigências, que poucas empresas vão conseguir empréstimo ou se interessarem, num cenário incerto da recuperação da economia nesta situação de guerra em que estamos vivendo.

P – Se houver demissões, qual o número de trabalhadores desempregados?

R – Estamos realizando uma pesquisa junto ao setor, mas, podemos adiantar que haverá muitas demissões.

Como eu disse, as empresas vão aguentar até certo ponto para não demitir, mas, vai chegar um momento e em breve, que elas não terão opções a não ser demitirem.

P – E as medidas do governo federal e estadual não auxiliam os empresários calçadistas?

R – Os recursos que os Governos Federal e Estadual estão anunciando e disponibilizando, não estão chegando ao chão de fábrica ou ao alcance de muitos. 

Os bancos estão até aumentando os juros. Quando estes recursos chegam aos bancos, o governo garante a maior parte dos financiamentos, mas, parte fica por conta e risco dos bancos, então, eles estão muito criteriosos e exigentes. 

Por outro lado, há varias medidas que os Governos Federal e Estadual estão tomando, no adiamento dos pagamentos de impostos, parcelamentos, redução temporária das tarifas de energia elétrica, através da redução de encargos setoriais etc. 

Só a CNI (Confederação Nacional da Indústria), já apresentou 37 pleitos ao Governo Federal. Mas, ao final, se não houver consumo, não haverá pedidos para as fábricas trabalharem.

No momento, o grande esforço que todos devem fazer é resguardar a sobrevivência das empresas, para pós-crise retornarem às suas atividades.

P – O que significa a pandemia em termos de produtividade. Qual é a expectativa de produção da indústria calçadista francana?

R – Como eu disse acima, não havendo consumo, não teremos vendas. Enquanto o comercio não voltar a sua normalidade não terão vendas, e o quadro para voltarmos aos patamares antes da crise será por meados de outubro deste ano.

Portanto, a produção da indústria calçadista francana hoje esta totalmente paralisada. É uma situação gravíssima e sem perspectiva de futuro.  

P – Qual a perda em termos financeiros para no setor?

R – É muito difícil calcular hoje estas perdas. Mas, se considerarmos que a capacidade produtiva instalada de Franca, anteriormente à crise, que era de 40 milhões de pares/ano, e, se considerarmos um preço médio por par de R$ 70,00, a previsão de faturamento era de R$ 2,8 bilhões. 

Pelas nossas previsões, o ano passado produziu 24 milhões de pares, em decorrência da recessão que já vinha assolando o País. Daí já se vê o quanto à indústria perdeu em faturamento, a cidade em arrecadação de impostos, a perda de vendas do comércio, empregos, etc.

P – E a recuperação desse momento – pode se estimar?

R – A recuperação, pós-crise, será gradativa. Pelas informações que temos, a normalidade está estimada por volta de outubro deste ano. Se não ocorrerem novos eventos, tanto da crise, quanto da instabilidade política do Pais.


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