Covid-19: 7,8 milhões de brasileiros estão a 4 horas de distância do atendimento

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  • Publicado em 25 de maio de 2020 às 13:35
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:45
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Em 16 de maio, 60% dos 5.570 municípios brasileiros já tinham registrado casos da doença

Mais
de 7,8 milhões de brasileiros estão a pelo menos quatro horas de distância de
um município que ofereça atendimento de alta complexidade, com Unidade de
Terapia Intensiva (UTI), equipamentos e pessoal especializado para doenças
respiratórias graves e agudas provocadas pela epidemia de Covid-19. 

Essa é uma
das principais conclusões da mais recente análise dos pesquisadores do
Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz.

Publicada
na nota técnica do sistema MonitoraCovid-19 (bigdata-covid19.icict.fiocruz.br)
intitulada Regiões e Redes
Covid-19: Acesso aos serviços de saúde e fluxo de deslocamento de pacientes em
busca de internação
, a análise mostra que a situação é pior nos
estados de Amazonas (1,3 milhão de habitantes), Pará (2,3 milhões) e Mato
Grosso (888 mil). 

Nessas três unidades da federação, mais de 20% da população
mora em áreas com até quatro horas de deslocamento para chegar ao município
mais próximo que ofereça condições de atendimento em casos graves de Covid-19.

Outras
regiões com elevado percentual de população que leva mais de quatro horas de
deslocamento até um município que ofereça atendimento especializado são o
interior do Nordeste, o norte de Minas Gerais e o sul do Piauí e do Maranhão.

A
análise da equipe do Icict/Fiocruz cruzou as informações de hospitalização por
problemas respiratórios (entre eles a Covid-19) do banco de dados do
Sivep-Gripe, do Ministério da Saúde, com os deslocamentos populacionais e as
distâncias potencialmente percorridas pela população, considerando as Regiões
de Influência das Cidades (IBGE, 2018) e as Regiões de Saúde (CIR) definidas
pelas Secretarias Estaduais de Saúde.

A
nota técnica constatou também a rapidez da interiorização da Covid-19. Por
exemplo, em apenas uma semana (de 9 a 16 de maio), nos municípios com população
entre 20 e 50 mil habitantes, a cada dia seis cidades registravam pela primeira
vez uma vítima fatal de Covid-19. 

Entre municípios menores, com população de 10
a 20 mil habitantes, na mesma semana cinco cidades a cada dia entravam na lista
de municípios com óbitos por Covid-19.

Na
mesma semana, em média, nos municípios com menos de 50 mil habitantes, a cada
dia 15 cidades apresentavam pela primeira vez casos de Covid-19 por dia. 

O
primeiro caso de infecção por Covid-19 foi registrado em 227 municípios com
população menor que 10 mil habitantes; em 197 com entre 10 e 20 mil habitantes;
e em 112 com entre 20 e 50 mil habitantes. 

Até 16 de maio, 60% dos municípios
brasileiros registravam casos da doença e 21%, óbitos. Nos municípios com
população acima de 50 mil habitantes, 98% apresentavam casos e 58%, óbitos.

A
nota técnica destaca a importância da integração e do diálogo entre municípios,
estados e União nas políticas de contenção da Covid-19 e mostra o desafio
representado pela interiorização:

“Um
dos grandes problemas para a rede de saúde brasileira é a acessibilidade
geográfica. O Brasil possui dimensões continentais e, por isso, algumas regiões
mais remotas impõem à sua população o deslocamento de enormes distâncias para
busca de atendimento (…) É evidente que nem todos os municípios do país devem
ter um centro de tratamento intensivo, mas é necessário definir serviços de
referência e contrarreferência no atendimento à saúde, evitando vazios de
atendimento, bem como deslocamentos longos, que podem afetar o estado de saúde
do indivíduo”, diz a nota técnica.

A
nota ainda conclui que a definição e utilização de regiões compostas por
conjunto de municípios é o caminho para adoção de medidas de restrição ou
relaxamento do isolamento social.

Leia a nota
na íntegra.


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