CoronaVac não conseguiu atingir 90% de eficácia em testes no Brasil

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 24 de dezembro de 2020 às 21:49
  • Modificado em 11 de janeiro de 2021 às 12:36
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Turquia afirmou que, em testes feitos no país, CoronaVac teve 91,25% de eficácia contra o novo coronavírus

O secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse na quinta-feira (24) que a CoronaVac não atingiu 90% de eficácia em testes realizados no Brasil, diferentemente do anunciado pela Turquia.

A taxa obtida no Brasil deveria ter sido divulgada na quarta-feira (23) pelo Instituto Butantan mas, segundo o instituto, o laboratório chinês Sinovac pediu adiamento do anúncio. 

A empresa quer analisar os dados dos testes para entender percentuais diferentes obtidos nos países onde o imunizante é testado.

Em entrevista a Rodrigo Bocardi, no programa Ponto Final, da CBN, Jean Gorinchteyn disse que, considerando a técnica usada no desenvolvimento da vacina, não havia expectativa de chegar a esse percentual. 

“Nós sabíamos que a efetividade jamais atingiria 90%”, disse Gorinchteyn.

O secretário justificou a expectativa citando que vacinas formuladas com fragmentos de vírus, os chamados vírus inativados, como é o caso da CoronaVac, acabam produzindo um percentual de defesa inferior ao daquelas que usam, por exemplo, técnica chamada de vírus atenuado.

“Mas o que nós não imaginávamos é que a empresa (Sinovac) queria, e objetivava, uma unicidade, um resultado muito próximo em todos os países, e não somente em um ou outro país”, disse o secretário. 

Durante a entrevista, Gorinchteyn não explicou como a Turquia, usando a mesma vacina, obteve o percentual de 90%.

Na quinta-feira (24), a Turquia divulgou que o imunizante teve 91,25% de eficácia no resultado preliminar dos estudos de fase 3 da CoronaVac no país. 

Em nota, o Instituto Butantan disse que “não comenta informações relativas a contratos da Sinovac com outros países”.

O comunicado foi publicado após oficiais do governo da Turquia anunciarem que os testes da CoronaVac no país teriam obtido eficácia de 91%. 

Os resultados obtidos no país são fruto de análises preliminares e foram obtidos em testes com uma amostra de voluntários menor.

“Nos testes do Butantan não atingiu 90% e, mesmo não tendo atingido isso, valores menores, esses valores menores já nos dão, que é acima de 50%, nós não sabemos o quanto acima de 50%, se foi 60%, 70% ou 80%, mas eles estão em níveis que nos permitem fazer uma redução de impacto de doença na nossa população”, completou Gorinchteyn.

Antes, ao SP1, o secretário disse que a vacina tem eficácia superior ao mínimo exigido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de 50%, e que o atraso da divulgação dos dados ocorre porque a Sinovac, empresa chinesa que produz a vacina em parceria com o Butantan, quer saber por que houve resultados diferentes nos países que fizeram os testes.

“A informação que nós, da Secretaria da Saúde, temos é de que ela [CoronaVac] é superior, bem superior, aos níveis mínimos desejados [50% de eficácia é o mínimo recomendado pela OMS)]”. 

“A única questão que não passaram são os números percentuais. A Sinovac [farmacêutica chinesa, parceira do Instituto Butantan na produção da vacina], pelo fato de termos variáveis de resultados em outros países; ela quer entender por que tivemos um resultado, e, em outros países, outro”, disse Jean Gorinchteyn em entrevista ao SP1.

“A gente sabe que toda vacina que não é formulada por vírus vivo tem eficácia menor. Assim o é porque lidamos com fragmentos virais”. 

“O seu poder, que chamamos de imunogenicidade, o seu poder de proteção é um pouco menor, e é por isso que esses dados estão sendo avaliados – para garantir toda a transparência”. 

“Temos dados aqui que são, com certeza, diferentes dos de fora”, continuou o secretário.

Os dados divulgados pelo governo turco em coletiva de imprensa sinalizam que os percentuais estão relacionados a uma “análise interina”, ou seja, a uma avaliação parcial dos resultados. Sites locais apontaram que o governo divulgou que houve 29 casos de Covid-19 em um universo de 1,3 mil voluntários (3 casos entre os que tomaram a vacina e 26 no grupo que tomou placebo).

No Brasil, o Butantan declarou em 23/11 ter alcançado o mínimo de infectados para abrir a análise interina (eram necessários ao menos 61 casos de Covid-19 ocorressem entre os 13 mil voluntários, e na data já havia 74). 

Apesar disso, na ocasião, os pesquisadores brasileiros não divulgaram os percentuais de eficácia e preferiram aguardar a continuidade dos estudos.

Anúncio adiado​

A previsão inicial de divulgar a eficácia do imunizante era no dia 15 de dezembro, mas foi adiada para quarta-feira (23). 

Contudo, o anúncio foi postergado novamente ontem, embora o diretor do instituto, Dimas Covas, já tenha garantido que o estudo de fase 3 comprovou que a vacina contra a Covid-19 é segura e eficaz.

“Não houve nenhuma frustração. A frustração foi que nós queríamos saber números, o quanto [eficaz]. Isso ainda não tivemos”. 

“Mas, pra nós, como gestores públicos e médicos, ter uma vacina superior a 50, 60, 70%, é importante”. 

“É esta a única forma que teremos de diminuir casos graves, internações e mortes. O Programa Estadual de Imunização está previsto e acontecerá no dia 25 de janeiro”, completou.

Em nota, o Butantan disse que “atendeu a um pedido da biofarmacêutica visando unificação de dados de eficácia da vacina” e que “os testes clínicos realizados no Brasil com 13 mil voluntários, a vacina já se mostrou extremamente segura e em patamar de eficácia acima do indicado pela OMS (Organização Mundial de Saúde)”.

“Trata-de de um grande avanço, porque a vacinação em massa por meio do imunizante já garantiria expressivas reduções no número de internações por complicações relativas ao coronavírus”, completa o Butantan.

Histórico​

Para que a vacina comece a ser distribuída é necessário que o Instituto Butantan envie o relatório à Anvisa, e que o órgão aprove o uso do imunizante.

Se aprovada, a CoronaVac pode se tornar a primeira vacina contra o novo coronavírus disponível no Brasil. 

Pelo cronograma do governo de São Paulo, a vacinação no estado deve começar no dia 25 de janeiro.

O acordo entre o laboratório chinês e o Instituto Butantan foi anunciado pelo governo de São Paulo em junho e prevê, além do envio de doses prontas, os insumos e tecnologia para que a vacina possa ser produzida e comercializada pelo Butantan.

No Brasil, a vacina foi testada em 16 centros de pesquisas, em sete estados e no Distrito Federal.12,5 mil voluntários brasileiros participaram dos testes.

Até ó final de dezembro, o governo paulista deve ter 10,8 milhões de doses prontas para aplicação. O maior lote de insumos chegará a São Paulo nesta quinta (24).

No dia 9 de dezembro, o Instituto Butantan começou o processo de envase da vacina a partir da matéria-prima importada da China.

A produção é feita na fábrica do Butantan, que tem 1.880 metros quadrados, e contará com o reforço de 120 novos profissionais, além dos 245 que normalmente atuam no instituto.

*Informações G1


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