Consumir frituras em excesso aumenta o risco de morte em até 13%

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 22:20
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:20
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Se na hora do almoço você costuma optar pelas frituras talvez queira repensar sua decisão

Se na hora do almoço você
costuma optar pelas frituras talvez
queira repensar sua decisão. Um estudo publicado no British
Medical Journal
mostrou que mulheres que adicionam porções
diárias de alimentos fritos à refeição apresentam maior risco de morte
por qualquer causa, exceto câncer.

Os resultados mostraram
que uma porção regular de frango frito, por exemplo, eleva o risco em 13%; já
pescados, como peixe e marisco, elevam em 7%. “As pessoas já sabem
que alimentos fritos podem ter resultados adversos na saúde. O que a nossa
descoberta mostra é que o consumo de frituras está associado à mortalidade
geral”, comentou Wei Bao, da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, à
revista Time

Segundo os pesquisadores, o aumento
do risco pode estar relacionado a vários motivos, como a possibilidade de esses
alimentos serem ultraprocessados – o que indica maior quantidade de sódio; ou
os métodos de cozimento, temperatura do processo de fritura e tipo de óleo usado
– todos associados ao risco de morte.

Além disso, um estudo já havia
indicado que pessoas que comem batatas fritas duas ou mais vezes por
semana têm risco dobrado de morte prematura; outra pesquisa apontou a
existência de ligações entre o consumo de alimentos fritos e a probabilidade de
desenvolver diabetes tipo 2 e doenças cardíacas.

Para proteger a saúde e reduzir os
riscos, a sugestão da equipe é controlar o tamanho das porções e reduzir a
frequência de consumo, em particular de frango frito e peixe. Esse é o primeiro
estudo a analisar a relação entre o consumo de alimentos fritos e a mortalidade
ao longo do tempo. 

O estudo

Para chegar a esta conclusão, os cientistas
analisaram os hábitos alimentares
de aproximadamente 107.000 mulheres
de 50 a 79 anos ao longo de 18 anos. Ao se inscreverem no estudo, entre 1993 e
1998, as participantes completaram um questionário de frequência alimentar
que verificava o consumo e o tamanho da porção de 122 itens alimentares, incluindo
frango e peixe fritos, batatas fritas, tortillas e tacos. A equipe ainda
considerou outros fatores ligados à mortalidade, como nível de
escolaridade, renda, consumo total de energia e qualidade geral da dieta.  

A análise mostrou que as mulheres que ingeriam uma
ou mais porções de alimentos fritos por dia tinham um risco 8% maior de morte
por todas as causas, incluindo àquelas relacionadas ao coração. 

Para os
pesquisadores, este achado não foi estatisticamente significativo; no entanto,
alimentos específicos, como frango e peixe, mostraram-se mais preocupantes.
Comer frango frito, por exemplo, teve um risco 13% maior de morte por qualquer
causa e 12% para causas conectadas ao coração; no caso do peixe frito, os
números foram 7% e 13%, respectivamente. A
única causa de morte descartada pelo estudo foi câncer. 

Ainda que os
resultados da pesquisa tenham sido descobertos em mulheres mais velhas, os
pesquisadores acreditam que eles podem ser aplicados à população em geral. “Não há nenhuma razão para que os efeitos possam
diferir por idade ou sexo. Suspeito
que a associação possa ser semelhante entre mulheres mais jovens ou até entre
os homens”, revelou Bao à Time.

Perigo da fritura

Carne branca, como frango e peixe, são consideradas
mais saudáveis, entretanto, a forma de preparo pode reverter possíveis
benefícios. Em entrevista à CNN,
Bridget Benelam, da British
Nutrition Foundation, explicou que o
processo de fritura em altas temperaturas aumenta o teor de gordura do alimento
e estimula a produção de gorduras trans e outros compostos danosos,
como produtos finais da glicação avançada (AGEs, na sigla
em inglês). 

De acordo com o estudo, esse composto – que surge quando alimentos
ricos em proteína são cozidos em altas temperaturas – está associado à maior
probabilidade de todas as causas de morte, incluindo por doenças
cardiovasculares. 

Os
cientistas ainda que a reutilização do óleo pode ser um fator de risco: muitos
restaurantes reutilizam o óleo ao fritar alimentos e esse processo gera
substâncias prejudiciais à saúde, o que aumenta o risco de morte; quando consumidos em casa há menor probabilidade
de que o óleo seja reutilizado. 

‘Não podemos generalizar’

Embora os resultados sejam significativos, Bao
alertou para o fato de que as descobertas do novo estudo “não podem ser
generalizadas” globalmente. Isso porque em cada país existem métodos de
frituras diferentes: na Espanha, por exemplo, a população costuma preparar a
comida em casa e optam por utilizar óleos mais saudáveis, como o azeite de
oliva, o que reduz riscos de saúde – ou mesmo onde se come a fritura (em casa
ou restaurantes).

Já em outras partes do mundo, como nos Estados
Unidos, boa parte a alimentação é frita e/ou consumida em rede de fast
food. Ao comer em restaurantes, o indivíduo consome mais calorias uma vez
que as porções são maiores; além disso, essas frituras fornecem maior
quantidade de gordura e sal, conhecidos vilões da saúde – e ainda vale
considerar a reutilização do óleo.

Por causa disso, Tracy Parker, da British Heart Foundation,
recomendou fazer escolhas mais saudáveis dentro e fora de casa. “Usar métodos de cozimento mais saudáveis ​​em casa,
como assar, grelhar ou escolher opções mais saudáveis ao sair para comer são
mudanças simples que podem fazer uma grande diferença para a saúde do coração”,
disse ela à CNN

Críticas

A principal crítica ao estudo é por ser
observacional, ou seja, não foi possível determinar causa-efeito dos resultados
encontrados; os autores observaram, por exemplo, que a pesquisa não
desconsiderou o impacto de outros fatores que afetam a saúde, como o fato de
que mulheres habituadas a consumir regularmente alimentos fritos tendem a
ser menos saudáveis, implicando na existência de uma série de outros fatores –
e não só a fritura – que podem gerar os resultados encontrados.


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