Conheça Carolina Maria de Jesus, homenageada pelo samba do Salgueiro

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 08:21
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:34
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Escritora nascida em Sacramento foi lembrada com trechos do livro ‘Quarto de despejo’ em carro alegórico

Uma das alegorias mais comentadas dos desfiles do Grupo Especial do carnaval carioca, o carro da Pietá negra, que encerrou o desfile do Salgueiro na segunda-feira, levou à Sapucaí a obra de uma escritora pouco conhecida do grande público, mas que se tornou uma das maiores expressões negras das letras brasileiras. 

A escultura trazia partes do texto de “Quarto de despejo”, primeiro livro publicado em 1960 por Carolina Maria de Jesus (1914 — 1977), uma catadora de papéis que foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas na extinta favela do Canindé, Zona Norte de São Paulo.

Filha de pais analfabetos, Carolina de Jesus nasceu numa comunidade rural em Sacramento (MG) e se mudou aos 23 anos para São Paulo, onde teve seus três filhos. 

Em 1947, sem emprego e grávida aos 33 anos, foi obrigada a seguir para a comunidade do Canindé, onde começou a registrar o seu cotidiano e de seus vizinhos. 

Em 1958, Audálio Dantas a conhece durante uma reportagem sobre a favela para a “Folha da Manhã” e decide publicar um de seus cadernos, com o título de “Quarto de despejo”, que logo se tornou um sucesso editorial.

Após ter edição inicial de 10 mil exemplares rapidamente esgotada, o livro vendeu mais de um milhão de cópias e foi traduzido para 14 idiomas. 

Carolina de Jesus foi tema de reportagens de revistas “Time”, “Life”, “Paris Match” e do jornal “Le Monde”. O dinheiro dos direitos autorais a possibilitou deixar a casa improvisada na favela, embora sem mudar sua situação financeira.

Carolina de Jesus publicou depois “Casa de alvenaria” (1961), “Pedaços de fome” (1963) e “Provérbios” (1963), mas nenhum obteve o mesmo destaque de seu livro de estreia. Após a sua morte, foram publicados “Diário de Bitita” (1982), “Meu estranho diário” (1996), “Antologia pessoal” (1996) e “Onde estaes felicidade” (2014).

A homenagem à escritora foi realizada dentro do enredo “Senhoras do ventre do mundo”, um tributro à mulher negra, representando desde rainhas e guerreiras a figuras contemporâneas da força feminina. 

O Salgueiro venceu o Estandarte de Ouro e ficou com o terceiro lugar entre as escolas do Grupo Especial.


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