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Com quase 300 cães policiais no estado, PM conta com um batalhão voltado especificamente para a criação e treinamento dos animais
O trabalho de localização e apreensão de drogas das polícias de São Paulo contam com o auxílio do faro apurado dos cães policiais da Polícia Militar.
Além da localização de entorpecentes, o trabalho de varredura de explosivos ou de procura por pessoas desaparecidas também é feito com a ajuda dos cães policiais. Outra função dos animais dentro da corporação é o de atuar na proteção de tropas.
Em todo o estado, a Polícia Militar conta com aproximadamente 280 cães. Só o Canil Central tem cerca de 40 animais. A corporação tem ainda 27 canis setoriais espalhados pelo estado.
Relação antiga
A relação entre os cães e a polícia paulista é antiga. Os primeiros relatos de uso de cachorros por forças de segurança no estado datam ainda do início do século passado. Antes considerado um pelotão e, depois, uma companhia, em 2019, o canil central da Polícia Militar ganhou o status de batalhão.
De 2019 até junho deste ano, o 5º BPChq, por meio do emprego de cães farejadores, foi responsável pela retirada de circulação de quase 21 toneladas de drogas ilícitas.
“Até hoje, ninguém conseguiu desenvolver um equipamento que chegue perto da capacidade olfativa do cão”
O canil central
Os serviços do canil central ainda incluem vacinação, vermifugação e outros tratamentos. Os animais dos canis setoriais da PM são levados para lá quando precisam de internação.
É também no canil central que os cães passam pelo treinamento necessário até começarem a participar das operações. Além disso, a unidade abastece a PM com ninhadas de filhotes que, desde os primeiros dias de vida, começam a ser treinados para a atuação policial.
Essa preparação é feita por policiais que integram o Gabinete de Treinamento, o GT, como é chamado o Departamento de Cães do 5º Batalhão de Choque.
“São policiais com mais tempo de canil e que têm a função de coordenar os treinos. Eles têm a responsabilidade de fazer todo o treino quando tem uma ninhada”, afirma o capitão Juliano Cesar Sirio, chefe da Seção Operacional e do Gabinete de Treinamento. A PM ainda adquire os cães por meio de compra e doação.
Além de treinar e cuidar dos cães de todos os canis setoriais da Polícia Militar espalhados pelo estado, o canil central também é responsável por todos os cursos de cinotecnia da PM paulista, nome dado à técnica de utilização do cão em diferentes tipos de atividades.
Como um cão se torna um policial
O 5º Batalhão de Choque da PM abriga um o centro de reprodução canina, onde as fêmeas dão à luz ninhadas que fornecem os futuros K9s, como são chamados os cachorros que atuam na polícia.
O capitão Juliano Cesar Sirio explica que os cães começam a ser preparados para desempenhar funções policiais já nos primeiros dias de vida.
“Existem algumas manipulações que precisam ser feitas desde o terceiro dia de vida. Chamam estimulação neurológica precoce. Estudos mostram que isso faz com o que o cão tenha uma melhor resistência cardiorrespiratória e maior capacidade de aprendizado. Isso é feito pelo Gabinete de Treinamento”, afirma.
Essa primeira fase da vida do cão, até os seis meses de idade, serve para avaliar se o animal é apto a se tornar um K9. Após essa primeira etapa da preparação, o agente policial que passa a treinar o cão é o mesmo que vai acompanhá-lo durante as operações. Essa junção homem cachorro é chamada, no jargão policial, de binômio.
A relação costuma ir além do trabalho: muitas vezes, depois da aposentadoria do cão, que costuma ocorrer por volta dos 10 anos de idade, o policial acaba adotando o companheiro.
Dia a dia de atleta
O dia a dia de um cão policial é comparado ao de um atleta: treinamentos quase diários e intensos, além, claro, das operações das quais participa. E por conta disso, a alimentação deve ser regrada e altamente reforçada.
Já o expediente do animal é semelhante ao de um agente: ele trabalha 12 horas e folga outras 36 horas. Por desempenhar funções cansativas, como varreduras de ambientes para a procura de drogas, explosivos ou desaparecidos, geralmente, em uma operação, o cão atua por, no máximo, seis horas. No resto do expediente, ele descansa ou faz sessões curtas de treinamento.
Nos dias de folga, o cão fica no canil descansando, realizando apenas algumas baterias mais leves de treinamento e exercícios de condicionamento.
Quando o policial tutor está de férias, o cão também não atua. Nesses casos, um outro policial fica responsável por realizar os treinos periódicos com o cachorro, para mantê-lo em forma enquanto seu tutor não retorna ao serviço.
Como os cães policiais conseguem localizar drogas e explosivos?
Os K9s auxiliam as polícias de SP na localização de apreensões de diversos tipos de drogas ilegais; São porções de maconha, cocaína, crack e até das novas drogas sintéticas em circulação, as chamadas drogas K, localizadas a partir do faro apurado dos cães policiais.
“O cão ainda é usado na área de detecção porque, até hoje, ninguém conseguiu desenvolver um equipamento que chegue perto da capacidade olfativa do cão. E mesmo que você tenha um equipamento com o mesmo poder de detecção, ele não vai ter a capacidade de mobilidade do cão. Dependendo do tamanho do local, um cão consegue fazer um trabalho que exigiria na média uns 30 ou 40 homens”, afirma o capitão Juliano Cesar Sirio.
Até os seis meses de idade, o cachorro passa por um ciclo inicial de treinamento, mais voltado à socialização, coordenação motora, superação de obstáculos e exercícios de agilidade.
Para treinar a socialização, por exemplo, o Canil da PM recebe a visita de escolas. O convívio dos filhotes com as crianças serve tanto para o treinamento dos futuros cães policiais como para o trabalho de conscientização de prevenção às drogas junto aos estudantes.
Ciclos de treinamento
Depois, já sob a tutela do policial que ficará responsável por guiar o cão nas operações, o animal passa por outros três ciclos de treinamento específicos, que podem ser para detecção de entorpecentes, varredura de explosivos ou para proteção de tropas.
O capitão Sirio explica que um cão policial, depois de treinado, consegue reconhecer a presença de alguma droga pelo faro porque, na verdade, ele associa o cheiro ao de uma presa (que, no caso, trata-se do brinquedo).
“Quando ele localiza a droga, na cabeça dele, ele está localizando a presa. E quando ele faz isso e emite uma resposta treinada, que é o comportamento de sentar, a ‘presa’ aparece, que na verdade é um objeto, pode ser uma bolinha, um mordedor. É um brinquedo que pelo movimento errático simula uma presa. Lá no começo do treinamento, esse movimento é o que gerou a agressão predatória, que foi associada ao cheiro do brinquedo”, explica o capitão. “Depois, eu associo o cheiro desse objeto ao cheiro da droga”, completa.
Proteção
Além do faro, os cães também são treinados para fins de proteção, como um equipamento de menor potencial ofensivo, já que há ocasiões em que são empregados para proteger tropas.
Em certas situações, pode ser que o cão seja acionado para ajudar na captura de um fugitivo, por exemplo. Para isso, ele é treinado a atacar o alvo após um comando dado pelo condutor.
São 10 pontos de ataque que o cão policial aprende: normalmente, em áreas do corpo que concentram massa muscular, como braços e pernas. O objetivo é minimizar as lesões causadas pela mordida e apenas imobilizar o alvo.
Outra técnica é a utilização de diferentes guias ou coleiras para indicar ao cão o “modo de ação” que ele deve estar: se é para descansar, se é para atacar depois do comando ou se é para farejar e localizar algo.
O cão costuma ser considerado totalmente apto e pronto para o trabalho policial por volta dos dois anos de idade. Antes disso, porém, ele já é colocado em alguns trabalhos operacionais, como parte do treinamento para reconhecer ambientes externos.