O headhunter garante que a análise do currículo não leva em conta o tempo que o profissional ficou sem trabalhar.
Pelo contrário: se durante esse período o profissional usou o tempo para se aperfeiçoar, estudar, empreender ou se arriscar em um novo projeto, tudo isso é extremamente válido. “Pois disso ele tira experiências ricas que provavelmente não teria em uma empresa ou dentro de seu trabalho anterior”, comenta.
E de que forma o candidato pode colocar esse período sem trabalho no currículo? Segundo o recrutador, é pedido para que o candidato coloque de uma maneira bem clara o que ele fez nesse período.
Por exemplo, se ele parou de trabalhar em julho de 2018 e voltou somente em janeiro de 2019, deixar claro no currículo o que ele fez nesse período. Se foi algum curso, a construção de um novo negócio, a dedicação a uma ONG ou um projeto paralelo, por exemplo.
“Isso é sempre positivo. Porque na hora em que o entrevistador abordar o candidato sobre essa fase, ele trará, realmente, as experiências ricas que teve e as atividades desenvolvidas que não teria a oportunidade de desenvolver em suas posições anteriores. É favorável porque o profissional não vai ficar em casa sem fazer nada, ele realmente estuda e tenta se desenvolver de outra maneira em outro negócio”.
Lourenço ressalta que no currículo devem ser colocadas apenas as passagens relevantes. “Então é claro que, se o indivíduo foi tirar férias com a família, ele não deve colocar. Mas se ele foi viajar para o exterior para estudar ou fazer algum curso, pode colocar sim, e é muito bem-vinda a informação”, explica.
E se o profissional fez “bicos” durante o desemprego? Segundo Lourenço, se nesse trabalho o profissional doou horas para ser conselheiro em uma ONG, é excelente. Mas se é uma atividade sem tanta relevância profissional, não vale a pena colocar.
De acordo com a especialista em RH e fundadora do site Admirável Emprego Novo, Renata Felix, quem não exerceu nenhuma atividade remunerada enquanto esteve fora do mercado de trabalho deve usar aquilo que fez como base para as competências desenvolvidas nesse período.
Se atuou no seu próprio negócio ou ajudou alguém da família, se fez trabalho voluntário ou intercâmbio, se cuidou dos filhos ou se aproveitou um sabático, tudo isso trouxe conhecimento que levou ao desenvolvimento de competências.
“As competências são características únicas de cada profissional e elas são a parte mais importante de um currículo. Justificar um período sem trabalhar fica mais fácil quando você oferece ao entrevistador aquilo que você desenvolveu enquanto estava focado em outras atividades”, diz.
Ela afirma que um profissional capaz de mostrar suas competências no currículo tem muitas chances de conseguir um bom emprego, tenha ou não um buraco no currículo. “O importante é mostrar suas capacidades e o comprometimento com a oportunidade que lhe é oferecida”, completa.
Entrevista
E na entrevista? Como o candidato à vaga pode expressar de forma positiva esse período de pausa?
Segundo Bruno Lourenço, a melhor forma de o profissional expressar isso de maneira positiva na entrevista é mostrar o que de fato foi realizado ao longo desse período. Quais as conquistas obtidas com as atividades feitas no período sabático ou de trabalho em outro projeto, o que foi realizado daquilo que foi planejado e quais foram as vitórias.
“Independentemente do projeto, o mais importante, para os recrutadores, é que tipo de experiência foi obtida, as dificuldades enfrentadas, os obstáculos e os aprendizados finais, que deixam a trajetória vitoriosa de alguma forma”, explica.
E se o profissional foi empreendedor, mas fechou o negócio e agora quer voltar para o mercado formal?
Lourenço afirma que, mesmo que o projeto tenha dado errado, os recrutadores querem saber o que o candidato aprendeu com isso. “Hoje, há inúmeros casos de startups que não passam do quinto ano de vida e os profissionais provenientes conseguem emprego depois. Principalmente porque eles tiveram experiências que são necessárias em outros negócios ou companhias”, afirma.
Razões para ficar fora do mercado
De acordo com Renata Felix, é preciso entender por que o candidato ficou um período sem trabalhar formalmente.
Alguns motivos para não trabalhar por um período são mais simples de comunicar aos recrutadores, diz ela. Há quem se afaste do trabalho por prioridades com a saúde, e falar sobre isso na entrevista não deve ser tabu, pois faz parte da vida de todos.
“Uma demissão pode ser um momento difícil e esse rompimento inesperado traz mudanças na vida de qualquer profissional. Muita gente aproveita o desligamento de uma empresa para refletir sobre sua carreira, sua vida e toma a decisão de aproveitar temporariamente o período de outras maneiras. Com a conveniência do seguro-desemprego, há a possibilidade de reestruturar a rotina e pensar melhor sobre o futuro”, afirma.
Renata cita que a saída de um emprego também costuma ser aproveitada para estudar para concursos. “É uma prática comum, mas que exige muito esforço e acaba esgotando quem não consegue a vaga. Quando voltam ao mercado, esses profissionais precisam se posicionar. Se parou de trabalhar para estudar para concursos e agora quer voltar ao mercado de trabalho, é preciso justificar esse tempo da maneira correta”, ressalta.
Depois de entender e esclarecer os motivos para esse tempo fora do mercado de trabalho, fica mais fácil entender como justificá-lo, garante Renata.
Fonte: G1