​COMO FAREMOS PARA MUDAR ISSO

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 24 de maio de 2018 às 10:04
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:20
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(O BOCA DO INFERNO – NO DIA DA DESRAZÃO)

As coisas não estão encaminhadas, crianças caminham desnorteadas, rotas, desagregadas, sem futuro, nem comunhão.
O mundo nunca foi melhor e nem pior. O mundo tem a idade de cada história. Cada um de nós é a sua própria história.
Não somos apenas roupa rasgada e ideias na cabeça: não somos apenas canções ou bordões. Não precisamos de remendos nem costura. Não somos Frankenstein. Somos o presente. Ignóbil, sorridente, indecente. Somos o presente demente, histérico, imediatista, suicida.
Somos objetos para todo tipo de penduricalhos sim. Somos consumidores consumíveis sim. Somos o objeto do desejo sim. Somos o objeto que deseja sim. Somos o objeto.
Precisamos de mãos, olhos, ouvidos, boca e cérebro. Precisamos da palavra que não computa a dor, que não eleva dor, não acende a dor.
Precisamos mudar esse estado de coisas, esse estado e essas coisas: buracos na nossa percepção, mentiras dentro da nossa percepção, buracos, roubos para a nossa percepção, buracos, buracos e mais buracos e muito fedor. Há bandidos de gravata, tumor, câncer. Cansamos de ser? Cansamos de ter um dedo que ruma estirado, traído rumo à urna, rumo à tumba por quatro anos. Sofremos de Alzheimer político, de miopia politica, Sofremos. Não vamos omissos a bordo de um dedo às urnas? Nem vamos? Todos são o mesmo?
Ninguém nasce para ficar pequeno, nascemos para nos mudar, nos desfrutar, nos encontrar nas passeatas, nas praças, nas ruas, nas esquinas. Nascemos para querer, para pegar, para transformar, senão quem seremos?
Todo mundo nasce para tirar o lombo da chibata, não para presentear, com sua apatia, o feitor. Estamos com o lombo presente. Presente para o torturador. E reclamamos de que? Recusamo-nos a dar um passo à frente. Como sempre. Como nunca. Como quem não come.
O efeito dor está aí, temos que sair debaixo da toga dos desgraçados, dos que nos mandam respirar, calar, murmurar. Dos que querem nos subjugar. Dos que cobram dos outros a ética. Estética da qual sempre lançam mão por mau caratismo, por cacoete.

Como faremos para mudar isso?

É mentira: o nosso sol não brilha, nem brilhará um dia se você não acender a luz do seu quarto, do seu querer, da sua visão, da sua consciência, senão virará animal adestrado, objeto de consumo, produto de marketing..
Suas mãos viram a chave, abrem a porta, acendem a luz, suas ideias, suas utopias, suas epopeias. Suas mãos são suas, mas são guiadas, teleguiadas, armadas: morte do raciocínio, apenas rabiscos, garatujas.
Arme um idiota e ele destrói um mundo, usurpa um pensamento, enclausurada o que o desmascara, finge ser dono da moral e os bons costumes, seja lá o que isso signifique. Não estão nem aí para os seus filhos. Veem coerência nos incoerentes.
Arme um cretino e ele abraça outro fanático, constrói uma seita. Toda seita não aceita o seu contrário, o seu oposto. Simples assim. Lema: matar para justiçar.
Arme um energúmeno e ele mata garotos a esmo na escola. Mata a professora. O alfabeto, o analfabeto, o futuro na sua desrazão, mas reivindica suas razões, sua sde de vingança contra a sociedade, ouvindo vozes, vítimas suspeitas de bulliyng, maus tratos, solidão, pecado.
Ponha uma arma nas mãos de um cidadão de bem (?): se ele segurá-la, fuja. Ele não lhe quer tão bem assim. Mata o que crê inútil, fútil. Mata com sua viseira. Tem certeza nas suas incertezas. Não pensa nos próprios filhos nascendo na violência.

Como faremos para mudar isso?

Precisamos de adubos: precisamos de novas roupas coloridas, urgentemente de novos poemas, novas ideias, novas canções.
Nossos jovens estão monossilábicos, em que gaveta guardam o grito, lhes ensinamos o mutismo. Eles aprenderam rápido. Suicidam-se no silêncio, com silenciador e sua dor.
Nossos jovens sobreviventes preferem a disciplina à revolução, morreu a crença, agoniza o ideal, a fantasia. Cresce a mentira. Eles engolem. Mais fácil. Não há atitude a tomar, é só empacar. Como um jumento diante do córrego.

Como faremos para mudar isso?

É mentira, a ameaça de uma tempestade destruidora. A tempestade já está aqui há muito. A tempestade é a arma: ela afoga, através do discurso torto, da bala perdida com endereço certo, do assassinato do opositor que acha que sabe nadar. Ela afoga a poesia, a mudança. Ela quer destruir o que está, para nos presentear com o passado.
A chuva molha todo mundo, até quem acha que o guarda-chuva lhe protege. Não há inocentes numa dita chuva. A chuva de vento começa pelas pernas, chega à cabeça com o vírus, as secreções e a febre. Não há inocentes, dita a chuva. A chuva adoece o corpo e a alma. A chuva impede a luta. Aliena. É preciso pisar no barro. Afogar-se na lama, virar esterco. Como quem quer uma ditadura, se já vive sob ela? Como uma pessoa exige uma doença degenerativa? Bata no seu filho e atente para o monstro que criará?
Onde nossos jovens guardaram seus ideais, suas palavras de ordem, seu canto de guerra? Não pensam, não sabem da força da palavra, preferem o mutismo da vaca de presépio. Do não é comigo. Da brincadeira de cabra cega. 
Precisam ser ensinados, não doutrinados. Educação ou condução?

Então, como faremos para mudar isso?

É mentira do seu avô, no tempo dele nada era melhor: o passado está morto, mas não enterrado. É cadáver insepulto para culto dos saudosistas renitentes, a inflamação dos que não sabem e ódio dos motores, motores impulsionam para frente. 
Nossa estrada tem muitas curvas, curvas são necessárias para chegar às retas e as retas para chegar às curvas, como a mulher grávida que traz dentro de si sua continuação.
As coisas não estão encaminhadas, caminham, crianças precisam ser educadas, os velhos de velhas ideias precisam de empurrões.
O cotidiano cheira a merda nas páginas e nas telas e nas bocas. Insatisfação é bom. É o germe da ambição, o adubo da revolução.
Dente cariado precisa doer para ser tratado.
Há muitos traficantes e passantes; há bocas de lobo protegidas por dentes de ferro no passeio. Estão ali para machucarem saltos distraídos, romper tendões, ligamentos.
Há muita porrada a torto e a direito, os altos saltos agulha fingem não ver, é mais cômodo contornar a boca, já que lobos escondem a merda no submundo.
Dominar os ignorantes é torpe. Desapropriar a própria ignorância é distopia. Desabrigar a própria consciência virou mania.

Assim, como faremos para mudar isso?

Liberdade não existe, é mentira mal empregada, outrora desempregada, inventada para entreter quem se fartará com a revolução. Quem se infectará com a regressão.
Liberdade é como privacidade, cada um tem a ilusão de conseguir a sua.
Liberdade não é disciplina, é desrazão, é muro, é condução.
Como se faz para ascender a chama de quem não quer lutar, nunca soube idealizar, nunca soube o que é pensar? Sabe tão somente decorar.
A chama chama. Chama por uma utopia. Mas, não chama o ascendedor.


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