Como a comunicação pode ajudar ou atrapalhar a carreira de um bom chefe

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 27 de outubro de 2019 às 21:39
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:57
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O que você quer dizer nem sempre é como os funcionários vão te ouvir; aprenda a se comunicar melhor

​Depois de aprender essa frase com um ex-chefe, não consigo parar de repetir “Não se preocupe” em resposta a qualquer comunicação no trabalho.

Alguém se atrasou? Não se preocupe. Recebi um elogio? Não se preocupe. O problema foi resolvido? Não se preocupe.

Esse tipo de frase sinaliza a intenção positiva, algo como “Não foi grande coisa” ou até uma afirmação, como “OK, muito legal”.

Mas ela também pode te prejudicar, dependendo de como a frase seja dita. O modo como você transmite sua mensagem depende de como a sua equipe te escuta.

Quando você é um líder ou aspira se comportar como um, você quer ter certeza de que suas ideias vão ser ouvidas e compreendidas.

Conversei com especialistas em carreira e linguistas sobre como a comunicação pode ajudar ou atrapalhar um bom gerenciamento.

Tente “Eu ficaria feliz em” 

Quando você usa frases como “Sem problemas”, ela pode realmente ter o efeito oposto. 

Depois que você disser que não há preocupação ou problema em determinada situação, o seu colega de trabalho pode entender que realmente havia um problema com o qual se preocupar.

Em outras palavras, apenas dizer a palavra “problema” introduz a possibilidade de a situação não ser boa.

Esse tipo de linguagem pode passar uma mensagem negativa de enxergar as pessoas como problemas a serem resolvidos, disse Judith Humphrey, fundadora da empresa de comunicações. 

“Você está posicionando a outra pessoa como um problema, mas decidiu que vai deixar para lá”, disse.

O objetivo de uma conversa com um chefe nem sempre é retransmitir informações, mas às vezes criar relacionamento com seus colegas.

E, nesse caso, um casual “Não se preocupe” pode apresentar perguntas indesejadas sobre o desempenho do seu colega. 

Imagine o cenário de um chefe dizendo ao funcionário “Não se preocupe” depois de saber sobre um pequeno atraso na produção.

“Embora o objetivo seja tranquilizar os subordinados, o impacto real é inconscientemente negativo”, disse Humphrey.

“Tente dizer: ’Tudo bem para mim. Eu estou bem com isso.′ Ou até algo do tipo: ‘Estou ansioso por isso. Tenho certeza de que será ótimo’. Enfim, substitua o negativo por positivo.”

Outros substitutos positivos que Humphrey recomenda são: “Eu gostaria”“O prazer é meu” e ”É claro”.

O desafio dos padrões de fala no ambiente de trabalho é que cada um de nós cresce aprendendo um jeito diferente de se comunicar e, quando somos líderes, podemos pensar que nosso estilo de fala é melhor do que o de outras pessoas.

Deborah Tannen, professora de linguística da Universidade de Georgetown, escreveu sobre os diferentes estilos de conversa que trazemos para o local de trabalho.

“A resposta sempre será a de que cada pessoa deve ser um observador de suas próprias interações”, disse Tannen. 

“Se você não gosta de como as coisas estão indo, alguém parece reagir de uma maneira engraçada, você pode recuar e se perguntar: ‘Será que alguma coisa na maneira como falei que causou esse efeito? ’”

Tannen disse que a frase “Não se preocupe” pode parecer depreciativa e pouco profissional, observando que aceitar agradecimentos por fazer seu trabalho é complicado.

“Você não quer dizer ‘de nada’, porque é como dizer: ‘Sim, fiz um grande favor’”, disse Tannen. Em vez de responder “Não se preocupe”, Tannen recomendou substituir por “Certamente”.

 “Qualquer um poderia fazer isso”

A linguagem autodepreciativa que minimiza sua experiência pode ser péssima dependendo de quem escuta.

Em seu livro Lead From the Outside, a ex-candidata governamental da Geórgia Stacey Abrams lembrou-se de ter recebido feedback no início de sua carreira sobre como lidava com elogios:

Quando alguém me elogiava, eu desviava. Minha resposta normalmente consistia em um agradecimento rápido e, em seguida, alguma variação de “qualquer um poderia ter feito isso”.
Um dia, uma legisladora me chamou de lado. “Você precisa parar de ceder seu poder”, ela me avisou sem rodeios.
Perguntei o que ela queria dizer com isso e ela respondeu: “Se esses homens pensam que você é mais inteligente do que eles, deixe-os. Isso significa que eles pedirão conselhos e você poderá ajudar. Mas isso também significa que eles podem seguir sua liderança. Mas se você continuar dizendo que não é nada especial, eles começarão a acreditar em você.”

Obviamente, uma linguagem depreciativa como “Qualquer um poderia fazer isso” ou “Não sou especialista” não favorece a comunicação de quem realmente sabe o que está fazendo.

Usar expressões como “Não sei dizer” e “Não tenho certeza, mas” subestima o conhecimento de um chefe. Um membro da equipe pode realmente pensar que você não tem certeza sobre uma decisão.

“Eles estão usando todas essas expressões que minimizam suas decisões e isso faz com que eles pareçam como se estivessem dando poder ao time, mas, na verdade, estão deixando o time desconfortável porque soa muito hesitante, inseguro e sem liderança”, explicou Humphrey.

Também é importante reconhecer que as líderes femininas enfrentam bem mais dificuldades quando se trata de validarem sua capacidade e suas idéias.

Tannen deu o exemplo de uma mulher que disse que foi deixada de lado por usar “nós” com muita frequência e não receber crédito por suas realizações, mas mais tarde foi chamada por ser agressivamente “autopromotora” quando passou a usar mais “eu”

“Nossas expectativas de uma pessoa com autoridade e nossas expectativas de homens são bem parecidas. Mas nossas expectativas em relação às mulheres e à autoridade estão sempre desalinhadas ”, disse Tannen.

“Qualquer coisa que você faça para cumprir uma expectativa realmente viola a outra. Foi nesse dilema que a mulher se meteu. ”

Um estudo realizado com engenheiros de uma empresa de tecnologia descobriu que os homens tiveram mais facilidade em obter crédito por parecerem autoconfiantes do que as mulheres.

“Quanto mais confiantes os engenheiros do sexo masculino em nossa amostra parecessem, mais influência eles tinham na organização”, afirmou o estudo de 2017. 

“As mulheres conseguiram reverter a sua imagem autoconfiante em influência nas decisões somente quando também exibiram alta orientação ou motivação para beneficiar outras pessoas.”

A dinâmica de gênero também explica por que as mulheres usam declarações que nem sempre dizem exatamente o que elas gostariam.

Tannen disse que a maioria dos homens é sensível ao status que eles ocupam, enquanto a maioria das mulheres é sensível ao relacionamento e leva em consideração o que a outra pessoa vai pensar.

“As mulheres estão focadas em ‘Isso nos aproxima ou nos separa?’ E os homens estão focados em ‘Isso coloca uma de nós em uma posição mais alta ou baixa?’”, explicou.

Falar como um chefe significa se tornar multilíngue, equilibrando as diversas linguagens usadas ​​por sua equipe. Uma solução para evitar possíveis suposições erradas é a comunicação objetiva sobre o que você quer dizer.

“Não tenha medo de se comunicar ou de falar sobre a comunicação”, disse Tannen. 

“Para mulheres que não querem parecer arrogantes, você pode tentar algo como “Quero esse documento na minha mesa, mas eu gostaria de estar com ele até às 3:00, é algo que você pode fazer?”, exemplificou Tannen.

*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.


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