Como a ciência explica a aversão das crianças a legumes e verduras

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 23:13
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:31
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Resistência a alimentos vem da evolução para proteger humanos de toxinas, mas genética também influencia

De acordo com cientistas, a aversão aos vegetais que muitas crianças demonstram, especialmente a partir de 1 ano e meio de idade, pode ser ainda um resquício da “regra evolutiva” da Pré-história, quando os filhotes dos primeiros hominídeos corriam sérios perigos ao começarem a andar sozinhos e ganharrem mais autonomia. Os maiores riscos eram tornarem-se presas de animais maiores ou comer alguma coisa estranha que pudesse matá-los. A “regra” visava protegê-los: é verde e desconhecido? Melhor não comer, já que as plantas tóxicas e desconhecidas tinham uma característica em comum: eram verdes e um tanto amargas.

Especialmente no Ocidente, o principal problema atual da dieta é a insuficiência de vegetais e o excesso de açúcar e gordura. Mas o fato de comermos menos vegetais não é algo que nos impede de reproduzir, por exemplo. Então não há pressão evolutiva para que isso mude com as gerações, afirmou Jacqueline Blisset, professora da Universidade de Aston e especialista em comportamento alimentar de crianças nos primeiros anos de vida..

De um modo geral, crianças até os 18 meses se mostram mais dispostas a provar alimentos novos, desde que oferecidos por um adulto em que elas confiam, segundo a especialista.

A partir desta idade, no entanto, essa disposição diminui, e algumas se tornam mais resistentes a consumir verduras, legumes e, às vezes, frutas. “Vemos muita rejeição aos verdes. Verde é uma cor que pode indicar a presença de toxinas e geralmente têm o gosto mais amargo. Já as cores amarela, laranja e vermelha tendem a indicar níveis mais altos de açúcar e de gosto doce. Por isso, costumam ser mais bem aceitas”, explica.

Intensidade

As crianças também têm uma experiência de gosto mais intensa do que os adultos, segundo diversos estudos. Por isso, ao provar algumas verduras pela primeira vez, as percebem como mais amargas.

Adultos tendem a ter menos sensibilidade para os diferentes gostos. Por isso, é comum que verduras, legumes ou frutas odiados na infância passem a ser apreciados mais adiante.

Mas como os cientistas conseguem medir exatamente o gosto que verduras e legumes têm para cada um?

De acordo com a especialista, não. “Não conseguimos ter uma medida direta de gosto, só inferir coisas a partir do comportamento das crianças, que mostram mudanças nas preferências. Também fazemos alguns tipos de teste que mostram que elas precisam de menos sal numa solução com água, por exemplo, para perceber a diferença de gosto entre essa solução e a água pura”, explica Blisset.

Isso quer dizer que não só o perigo pré-histórico, mas também a influência da sociedade atual – o comportamento de pais e dos colegas em relação à alimentação, por exemplo – podem tornar as crianças mais ou menos resistentes em relação ao que comem durante os primeiros anos de vida.

Um estudo feito por pesquisadores da University College London (UCL), do Reino Unido, em 2016 concluiu que a genética é responsável por até 50% da disposição da criança (ou falta dela) em experimentar novos sabores, texturas e cores.

A pesquisa foi feita usando dados do maior estudo feito com gêmeos no mundo – são 1.921 famílias que têm bebês gêmeos de 1 ano e meio de idade.

Mesmo assim, a fase é vista como uma etapa normal da evolução do paladar da criança, e, de acordo com Jacqueline Blisset, costuma passar por volta dos sete anos. Por isso, pais não devem entrar em pânico com a possibilidade de seus filhos não consumirem leguminosas.


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