Com eleição polarizada, 2020 deve ter elevado número de candidatos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 1 de janeiro de 2020 às 09:57
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:12
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Jair Bolsonaro e Lula prometem elevar o tom e outras legendas tentarão se distanciar desta briga ideológica.

Presidente Jair Bolsonaro

No mundo político, 2020 chegou bem antes deste 1º de janeiro. Era ainda outubro quando as primeiras reuniões formais para discutir os rumos para a eleição municipal deste ano começaram a acontecer.

Conversas privadas, então, foram inúmeras e tiveram início bem antes disto. 

São 5.570 prefeituras, 26 capitais, mais as regiões metropolitanas. Os cinco estados brasileiros com mais cidades são Minas Gerais (853), São Paulo (645), Rio Grande do Sul (497), Bahia (417) e Paraná (399).

Mas, antes de números, o que conta nas eleições municipais são as peculiaridades partidárias e a capacidade de articulação das legendas. 

Cada partido vai se posicionar de acordo com seu histórico regional e os acordos que conseguir construir. Aumentar o número de prefeituras em relação a 2016 e consolidar espaços nas capitais: esses são discursos semelhantes em grande parte dos partidos.

Mas 2020 conta com dois fatores determinantes: o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro, que demonstrou em 2018 toda sua capacidade de influenciar votos, e a soltura do ex-presidente Lula, que estará nos palanques tentando retomar o espaço perdido pelo PT nos últimos anos.

Será inevitavelmente mais um ano de polarização. E ambos prometem apelar à antítese com ainda mais força em 2020 – enquanto as demais legendas devem tentar se distanciar dessa briga.

Uma regra aprovada em 2017 que passou a proibir a partir deste ano coligações para concorrer às eleições proporcionais – ou seja, para vereadores, deputados estaduais e federais -, tende a determinar uma das características deste pleito: um elevado número de candidatos próprios por partidos, com o intuito de fortalecer as chapas.

É, ao menos, o que as legendas afirmam na largada. No decorrer do ano, com as conversas de costume e os desenrolares que virão, é inevitável que este número caia. 

O HuffPost conversou com parlamentares, assessores políticos e técnicos, e também com dirigentes de 11 das 33 legendas do País. 

A regra para a escolha de quais considerar para esta matéria foi a representação na Câmara: elegemos aquelas com mais de 20 deputados na bancada.

Chance de se reerguer 

Ex-presidente Lula

Empatado com o PSL no tamanho da bancada da Câmara, o PT vê em 2020 uma chance para se reerguer. No pleito de 2016, o partido perdeu mais da metade do número de prefeituras conquistadas em 2012 – dos 630 prefeitos eleitos naquele ano, para 256, na última eleição municipal.

Os petistas apostam todas as fichas em Lula e em sua presença nos palanques pelo País para retomar força. 

Como a maioria dos dirigentes partidários, ele deu ordens ao PT de lançar o maior número de candidatos possível. 

Atualmente o partido não tem nenhum prefeito em capital e a ideia é usar justamente esses locais para nacionalizar a disputa e fortalecer a legenda para 2022. 

O foco estará pelo menos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Aracaju, Teresina, Natal, Manaus e Goiânia.

Em São Paulo, a aposta é numa chapa composta por Fernando Haddad e Marta Suplicy. A ex-prefeita de São Paulo e ex-senadora tem sido disputada por várias legendas. Ao menos PDT, PT e PSB já a procuraram.

Para o PT, ela é esperança de retomar espaço. Pesquisas internas da legenda indicam que ela segue bem avaliada, sobretudo nas periferias e, por isso, é considerada um nome forte, especialmente por Lula. 

Seu retorno ao partido, que deixou em 2015, porém, enfrenta resistências. Ela deixou o PT batendo na legenda e apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. 

PSL sem Bolsonaro

Deputada Joice Hasselmann

Sem ter eleito nenhum prefeito em 2016, o PSL ganhou a prefeitura de Mirandópolis, no interior de São Paulo, em outubro deste ano numa disputa judicial. Mas os planos são ousados para 2020. 

Em São Paulo, o presidente do diretório estadual, deputado Júnior Bozzella, destaca a candidatura da deputada Joice Hasselmann à prefeitura da capital como um “alicerce” às demais cidades e uma expectativa de alçar voo em cerca de 100 a 150 delas.

Ele mencionou vários municípios paulistas em que já há processo adiantado de conversas, como São José dos Campos, Taubaté, Campinas. “Onde não tivermos prefeito, devemos ter vice. Estamos avaliando as pesquisas”, disse. 

A legenda, que cresceu na esteira do presidente Jair Bolsonaro, tem planos para outros estados também. 

Alguns nomes já são dados praticamente como certos: o deputado estadual Rodrigo Amorim, no Rio; a deputada Professora Dayane, em Feira de Santana (BA); o deputado Delegado Pablo, em Manaus (AM); também o deputado Nicoletti, em Boa Vista (RR), o deputado Heitor Freire, em Fortaleza (CE); o deputado estadual Delegado Francischini, em Curitiba (PA).

Em Minas, o deputado Charlles Evangelista vai disputar a capital Belo Horizonte, e sua esposa, Ana Maria Evangelista, a prefeitura de Juiz de Fora. 

A dúvida que fica é, se com a saída do presidente Jair Bolsonaro da legenda e todo o bate-boca virtual que ainda segue nas redes sociais – meio que elegeu o mandatário e os seus, o PSL vai conseguir manter o bom rendimento nas urnas. Os representantes do partido se dizem confiantes. 

Recordista das capitais

Governador João Dória

Partido com mais prefeitos em capitais, o PSDB tem duas prioridades no ano: manter as 755 prefeituras tucanas e reeleger Bruno Covas em São Paulo. Sabe, porém, que os desafios são enormes. 

Embora o estado seja governado pelo correligionário João Dória, a capital paulista foi amplamente favorável a Jair Bolsonaro em 2018, com 60,8% dos votos válidos. 

Em Minas, onde por muito tempo o partido dominou com o deputado Aécio Neves, a ideia é renovar a cara do partido e lançar Luísa Barreto, secretária adjunta da Secretaria de Planejamento de Romeu Zema, em Belo Horizonte. 

No Rio, Marina Ribas já se lançou pré-candidata com aval de Dória. Além do foco nas capitais, há atenção também para algumas no interior consideradas importantes, como Campina Grande e Caruaru. 

Os tucanos já esperam uma redução na quantidade de prefeituras pela onda bolsonarista. Dois estados que deixaram de ser do PSDB, Goiás e Pará, farão falta na disputa. 

Ter o governador no palanque é sempre um diferencial. Mas a ordem é lançar o máximo de candidaturas que der e segurar as cabeças de chapa o quanto for possível.

O maior em prefeituras 

Deputado Baleia Rossi

Dono do maior número de prefeituras no País e com quatro capitais, o MDB está também consciente das dificuldades. O objetivo, claro, é tentar manter o quadro atual. 

A estratégia histórica do partido sempre foi apostar em pequenos municípios e seguirá assim. Mas a nova direção da legenda, com Baleia Rossi (SP), que trouxe uma renovação interna, quer mostrar quem tem o que entregar. É esta a determinação. 

Ainda no estágio de definir nomes, alguns já são apostas, como Sebastião Melo em Porto Alegre; Raul Henry, em Recife; André Puccinelli, em Campo Grande; Teresa Surita, em Boa Vista; e Íris Rezende, em Goiânia. 

O diretório nacional do partido vai apoiar os candidatos oferecendo treinamento digital sobre como fazer campanha nas redes sociais. 

A avaliação interna é de que há outras legendas muito melhor colocadas neste sentido e é necessário fazer uma corrida contra o tempo, já que a campanha não é mais na TV. 

Cada um com sua prioridade

Ciro Gomes

O PDT, do ex-presidenciável Ciro Gomes, vai apostar nas 50 maiores cidades brasileiras, afirmou o presidente da legenda, Carlos Lupi, ao HuffPost. 

Segundo ele, há uma tentativa de formar uma frente independente da polarização Lula X Bolsonaro. “Já tivemos até este fim de ano três reuniões neste sentido com a Rede e o PV”, disse Lupi. 

A legenda vai lançar candidato em algumas capitais. Em São Paulo, também está de olho em Marta Suplicy e em uma possível aliança com Márcio França (PSB). 

Em Salvador, Léo Prates – cuja filiação está agendada para este mês – já é dado como pré-candidato do partido. A deputada estadual Martha Rocha também já lançou pré-candidatura no Rio. Além disso, em Maceió, o PDT aposta em Ronaldo Lessa e, em Recife, em Túlio Gadelha. 

Além das capitais, também está de olho em cidades-chave do interior. No estado do Rio, vai apostar em Campos e Niterói. Já em São Paulo, quer Ribeirão Preto. 

No Espírito Santo, já tem conversas em estágio avançado em Itapemirim e Cariacica. Ivo Gomes, um dos irmãos de Ciro, será candidato em Sobral, Ceará. 

No PSB, o foco também é manter e crescer. Embora sem admitir pré-candidaturas ainda, nos bastidores já se fala que Recife vai de João Campos, filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em 2014 em um acidente. 

Essa promete ser uma disputa das mais acirradas ainda antes das urnas. Mas há outro herdeiro de olho nesta cadeira: Marília Arraes (PT), neta de Miguel Arraes.

A decisão, no fim das contas, vai acabar na mão das cúpulas partidárias, mas a rixa interna está lançada. 

São Paulo também é outro campo de batalha no qual o PSB pretende atuar, com o ex-candidato a governador Márcio França. Em 2018, ele teve com 48% dos votos válidos contra Doria e disse que há derrotas que parecem vitória. 

No Rio, o partido pretende alçar o deputado Alessandro Molon, que já disputou o cargo quatro vezes. 

O Republicanos, do pastor Marco Feliciano, trabalha de olho em tentar eleger 3,5 mil vereadores e 500 prefeitos – em 2016 foram 1,6 mil e 106, respectivamente. 

Já o PL tem realizado seminários e workshops para a formação de pré-candidatos a vereador, número que também pretende aumentar neste pleito, bem como de prefeituras. O partido também está investindo nas candidaturas femininas. 

O Aliança de Bolsonaro

José Luis Datena

Uma questão essencial de se desvendar sobre 2020 é como o presidente Jair Bolsonaro, que tenta viabilizar seu partido, o Aliança pelo Brasil, vai se portar. 

A legenda pouco provavelmente estará apta a concorrer e o próprio mandatário admite isto.

Em sua última entrevista do ano passado, no programa Brasil Urgente, ao apresentador José Luiz Datena, na Band, em 24 de dezembro, ele assentiu que o Aliança não deve estar concretizado até abril. 

De acordo com a lei dos Partidos, para disputar um pleito, a legenda deve estar com tudo formalizado até seis meses antes da realização da votação, em outubro.

O Aliança ainda tenta reunir as cerca de 500 mil assinaturas de apoio de pessoas não filiadas a partidos políticos para apresentar ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que então procederá a conferência das rubricas. 

Sem o Aliança na corrida, o presidente já afirmou também que vai escolher candidatos a apoiar. Caso do próprio Datena, com quem insiste para disputar a Prefeitura de São Paulo. 

“Em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife… Ganhamos a eleição em cinco capitais dos nove estados do Nordeste. A gente não pode abandonar isso daí. Eu tenho um bom relacionamento com ACM [Antônio Carlos Magalhães Neto, presidente do DEM], gente de vários partidos. A gente espera compor neste sentido para eleger bons candidatos”, disse Bolsonaro no Brasil Urgente. 

Das nove capitais nordestinas, Bolsonaro venceu em três no segundo turno: Natal (RN), João Pessoa (PB) e Maceió (AL). As outras seis capitais, porém, foram as únicas onde o petista Fernando Haddad ficou na frente do mandatário no pleito de 2018. 

Há riscos políticos de Bolsonaro subir no palanque. 2020 é um teste para 2022 e ele não esconde de ninguém sua intenção de disputar a reeleição. Na mesma entrevista da véspera do Natal, ele deixou isso claro:

Jair Bolsonaro em campanha

”Na minha campanha falei que abriria mão da reeleição se tivesse uma boa reforma política. O que é uma boa reforma política? De 500 deputados, passar para 300. De 81 senadores, passar para 50. Como isso sabemos que não vai acontecer, se eu estiver bem, eu disputo a eleição”.

Ele, contudo, voltar a adotar um discurso de que se sacrifica na Presidência. “Se bem que isso [disputar a reeleição] é um tremendo sacrifício. Pelo amor de Deus. 

“Se alguém acha que eu estou soltando fogos e feliz da vida, estou cumprindo missão. Como militar que sai do quartel para cumpri missão. E acho que estou cumprindo de forma, no mínimo, razoável.”


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