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Nunca, na história do homo sapiens, “que não sapiens, que não sapiens”, ocorreu um fenômeno de tal magnitude. Nem nas guerras tramadas pelos mandatários, que nunca estarão no front da batalha, ocorreu nada igual. Eles, que espetavam percevejos em cima de pedaços do mapa e contabilizavam homens mortos como baixas, nunca viram um inimigo tão invisível, tão insensível, contra o qual não adianta cavar trincheiras.
Os seres insepultos, mortos, derrotados pela ganância da primeira grande “guerra para acabar com todas as guerras”, os esfaimados, os corporalmente deletérios abrigaram o vírus da gripe, que nunca viveu em casulos, nem tréguas. Dizimou a humanidade, desumanamente fragilizada, utilizada como bucha de canhão. Mas, os exploradores de corpos e mentes pagaram também o preço.
Coloque percevejos, hoje, e eles cobrirão os territórios do mapa-múndi, como se fossem uma plantação de lírios. Povos estarão enfiados dentro de casa, amedrontados pelo inimigo que os olhos não veem, nascido da fome, das guerras. E já há tantos mortos, que não há como sepultá-los. O inimigo está à espreita. Insepultos, alimentam o inimigo que não conhece casulo, nem trincheiras.
O vírus imperativo afasta ainda mais pessoas desumanizadas pela solidão. A Inglaterra, há tempos, criou o ministério da solidão, dos trancafiados, dos que perderão a guerra para a ilusão. Não abrace. Não beije. Não cumprimente. Fique a dois metros de distância uns dos outros. Desinfete-se ao voltar da rua. Não saia de casa. Não… e … não… e…não. Entregue-se ao mundo do vírus virtual, o vírus real vem espalhando o mal.
D… I.. S… T… Â… C… I… A…
E os distantes, o que farão? Desobedeciam à regra. Agora a obedecerão? Todos, entrincheirados na “Balsa da Medusa”, dar-se-ão as mãos? A realidade deglutiu a ficção. Nunca imaginei que minhas “retinas tão fadigadas” sobreviveriam para ver isso: homens mascarados, entubados, estupefatos, esgotando as gôndolas dos mercados, acreditando piamente na televisão, no Facebook, no Watsapp, no Instagram, obedecendo, cada vez mais cegos, às ordens do grande irmão.
Curiosamente, o vírus que afasta é o mesmo que aproxima. Nunca os negociantes da vida dos outros perceberam que teriam agora que negociar também as suas. o álcool, que os mata, é agora o que os salva. Agora terão tempo suficiente para lamber suas crias, educar os seus rebentos. Saberão como fazê-lo? O dinheiro não manda mais tanto na sua direção. É o vírus que delimita o sim e o não. Teriam se esquecido de como é amar no lugar restrito da casa: em ritos, sem reuniões? Teriam esquecido de que “é preciso amar as pessoas, como se não houvesse amanhã”? E os rebentos agradecem ao vírus. Finalmente, não receberão apenas ensino, e sim educação.
Muitas empresas falirão, muitas pessoas ficarão sem seus empregos, muitos lugares ficarão vazios, porém a crise da nação virou a crise sem perdão. Todos destruímos nosso mundo, não há inocentes, os enclausurados nada fizeram, conscientes nada fazem, os exploradores nada farão.
Reconstruir e reconstruir-se exige aproximação entre os inimigos, os indiferentes. Solidariedade, sem disfarce, não a hipócrita para ser descontada no imposto de renda.
Você rirá, virulento leitor, descrendo da minha visão romântica: uma leva de capitalistas ganhou dinheiro com o despencar das bolsas de valores e a disparada do dólar. Sei disso, como sei também que o mundo já acabou há muito, só se esqueceram de contar para você e você fez de tudo para não retirar a venda. Você já é um zumbi faz tempo, zumbi com GPS, agora com máscara guiado pelo grande irmão.
Sente-se e pense: As sextas-feiras chegam cada vez mais rápido. Isso interessa a você? Você está envelhecendo rápido. Então, interessa a quem essa cega dedicação? “O tempo passou na janela, só Carolina não viu”. A pesca esportiva machuca o peixe, mesmo que o joguem de volta no rio. Com um chip acoplado, poderá ser monitorado. O vírus destruiu essa lógica Aristotélica e o mundo sensível de Platão.