compartilhar no whatsapp
compartilhar no telegram
compartilhar no facebook
compartilhar no linkedin
Saudações paciente leitor.
É até bíblico a velha questão entre apedrejadores e apedrejados. Mas, é curioso
como, em tempos de crise, aflora esta questão milenar. Nós, brasileiros,
estamos com os nervos à flor da pele, e tudo se torna motivo para protestarmos,
para uma oposição. Todo mundo querendo ser pedra. E, às vezes, as palavras, nas
mãos de quem não tem, ao menos a humildade de ponderá-las, tornam-se uma
verdadeira ogiva nuclear. É óbvio que tudo isso é reflexo da crise medonha que
se instalara na atmosfera de nosso país, uma crise que afeta não somente os
setores financeiros mas, a ética, os princípios e os valores, não somente da
classe política, mas, de uma sociedade inteira. Crise no setor financeiro, não
é uma tarefa impossível de se resolver, basta ajustar orçamentos, cortar
gastos, acrescentar um numerozinho aqui, esfolar a carne de um trabalhador ali
e pronto. Mas, e quanto à crise de valores, de princípios?
Honestamente, assumo que, muitas vezes, abuso de vossa paciência, amigo leitor,
não com a malandragem dos políticos, mas, propondo reflexões absolutamente
indecifráveis, mas, em minha defesa, alego que, sinceridade, é o norte, no qual
amparo minhas rasuras. Portanto, digo que, momentos de crise intensa, como
estes que vivemos, é capaz de nos proporcionar bons frutos. Muitas lições boas
podem ser subtraídas da crise. Não, paciente leitor, definitivamente, não
enlouqueci, pelo menos é o que assegura meu psiquiatra. Uma crise é capaz de
moldar a sociedade, propor uma lapidação, um novo curso, que se instala no
comportamento da massa. É só olharmos ao redor, para percebermos a guinada
brusca que nossa sociedade sofrera, se adequando a uma nova estrada, sinuosa e
repleta de calombos. Assim como ocorrera nas guerras mundiais, na inquisição,
nas revoluções francesas, espanholas e outros tantos conflitos que se levantam
diariamente, surgiram novos padrões de comportamento da massa, novas filosofias
sociais que foram modelando a sociedade, de acordo com um novo prisma.
Mas, o que realmente é preocupante, e até o leitor mais otimista há de convir,
é que as novas tecnologias, produzidas com objetivo de acelerar a vida dos
homens, tem se revelado uma arma perigosa, nas mãos de determinados setores da
massa, em alguns casos, ouso dizer, vaso sanitário. As redes sociais, por
exemplo, extremaram as pessoas, ou seja, aquele indivíduo pretendente à
sensibilidade, ficou extremamente sensível, quem era vulnerável em questões da
carne tornara-se pervertido, quem era idiota, mais, idiota e assim por diante.
Todo mundo margeando a linha tênue do comportamento humano. Então, estes
extremos provocados pelo acesso compulsivo e anárquico às redes sociais, aliado
a uma crise que afeta todos os elementos sociais, torna-se um verdadeiro caos.
Particularmente, creio que uma crise tão estrondosa como esta que paira sobre o
Brasil, tende a nos motivar a agir um pouco mais, sair do comodismo que a vida
de gado oferece e atuar, em todos os setores, porém, muitas vezes, temos
confundido atuação com aversão, com manifestação gratuita de hostilidade.
Protestamos contra tudo e contra todos, sem reflexão, sem escrúpulo. Um exemplo
claro, acontece agora, em pleno evento futebolístico mais importante do
planeta. Frequentemente somos seduzidos à nos solidarizar com os tantos posts,
que colocam o gosto do brasileiro pelo futebol como o responsável direto por
este desmoronamento do país. Mesmo que milhões destas pedras se voltem em minha
direção, devo opor-me a tal pensamento. Países de primeiro mundo, os quais
usamos como referências em nossas analogias, são obcecados por eventos
esportivos, mesmo assim, mantêm sua sociedade sólida. Concordo que, no Brasil,
eventos esportivos e préstitos públicos atraem mais a população do que sessões
das câmaras municipais, estaduais e nacionais, mas, não vejo de que maneira eu,
por exemplo, ajudaria meu país, protestando contra a paixão dos torcedores pelo
futebol. Aliás, e com este artigo é bem provável que alguém peça minha cabeça
no editorial, quase sempre, os protestos que vejo expostos nas redes sociais,
não passam de justificativas para nossa apatia, nosso desinteresse em
participar diretamente das mudanças. Vejo profissionais alegando que não
prestam um serviço descente, porque não recebem vencimentos à altura, absurdo!
Quem necessita de seus préstimos não são os responsáveis por sua
desvalorização. Quer assegurar seus direitos? Vá na fonte, reivindique-o no
andar de cima. Em quase todas as edições, eu sugiro olharmos todos na mesma
direção, ao invés de atacarmos uns aos outros, ao invés de valermos das redes
sociais, deste estreitamento de comunicação global, para semearmos um vírus
altamente contagioso da discórdia. Eu poderia dedicar horas aqui, a defender
melhor esta minha reflexão, mas, é necessário, por hora, assassinar este
artigo, que já vai por demais se alongando.
*Essa coluna é semanal e atualizada às quartas-feiras.