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“Adestrar” alunos com “modelos” de redação é mais velho que andar para frente. Parece novo, mas não passa do velho com botox. Nos anos 80, não havia metodologia para redigir textos, pois a prova de redação ainda era novidade: era comum os cursos “adestrarem” alunos. Nos anos 90, a Fuvest deixou claros seus critérios de correção e revolucionou ao não punir as dissertações em 1ª pes./sing. (saíamos finalmente da ditadura). A Unicamp deixou bem claros os seus critérios, quanto a considerar o texto “autoral”. As escolas abandonaram o decoreba para investirem em “ensino de qualidade”. Nos dias dias de hoje: “Quem ensina, propõe um texto autoral”. Os amantes dos 80: “Quem adestra, enfia modelos goela abaixo do aluno” fazendo-o acreditar em modernidade.
O ENEM prestou um desserviço à educação, retrocedeu aos anos 80 criando o seu “modelito”. Arrastou consigo universidades federais (obrigadas) e boa parte de estaduais e particulares a ENENZAREM. Criou também o “show” do vestibular, além do professor “dador de aula”. Segundo o professor Mário Sérgio Cortella, em livro, o aluno adestrado entra na faculdade, mas raramente permanece, devido à SUA dificuldade de ler, analisar e passar o que depreendeu para o texto. Muitas escolas e cursos impedem seus alunos de publicarem suas redações, não para que outros não os copiem, mas para não se exporem. Na verdade, ficaria descarado que usam a mesma “fórmula mágica” para quaisquer vestibulares. E pior, copiarão uns aos outros. Vestibular é competição? Sim. Robotização é educação? Não. Já levaram Admirável Mundo Novo? Se não leram, deveriam. O diferente revoluciona. Os iguais se tornam medíocres.
Você não verá uma redação de aluno do Criar que copie redações de outros alunos ou do site do INÉPITO. Todos os nossos alunos fazem questão de terem suas redações publicadas, inclusive, que façam parte do nosso material didático. Essa é a conduta seguida pelas 18 UNIDADES DO CRIAR, que comportam mais de 1000 alunos por ano. Não aceitamos, nem incentivamos, nem propomos que nossos alunos copiem modelos prontos. Já viram “Escritores da liberdade?”. Deveriam.
Todos os professores, coordenadores, diretores, que debatem comigo, todos os jornalistas para os quais dei entrevistas, todos os meus alunos sabem que sou um crítico feroz do ENEM, há muito tempo, justamente porque ele fez com que vivêssemos hoje uma “deforma” educacional. Li e vi várias entrevistas de alunos, que se preocuparam em usar o filósofo tal, o sociólogo tal, o filme tal, o livro tal na prova e nada falaram sobre qual tese defenderam e quais os argumentos que utilizaram para defendê-la. Tiram nota 1000? Até tiram. O problema é, passam no vestibular? Boa parte, não.
Deixo claro que minhas opiniões são claras há anos, portanto, para evitar casos de vitimização, “não estou perseguindo essa ou aquela escola”, “esse ou aquele curso”, “essa ou aquela pessoa”. Inclusive, o MEC erra tanto, nos mesmos lugares, que estou ficando repetitivo.
Em 2009, desde que virou porta de entrada para universidades públicas, o ENEM escancarou o que já se sabia há décadas, ao publicar o questionário socioeconômico. Óbvio: os ricos entram nas melhores universidades. Em 2020, o INÉPITO e o MEC passaram de qualquer limite: uma prova “sem viés ideológico (?)”, “uma organização perfeita, para evitar vazamentos (?)”, “O maior ENEM de todos os tempos (?)”. Os humoristas vão perder o emprego e o governo o pouco de credibilidade que ainda lhe resta, se é que lhe resta alguma. É desonroso dizer que “foi fruto de sabotagem”. Inépcia não é sabotagem. Nós fomos sabotados por um ministro incompetente e falastrão. Infelizmente, para nós, e felizmente, para eles, os candidatos à universidade, em sua maioria, são passivos.
Não há tempo para reverter isso, mas esse ENEM desmoralizado deveria ser anulado.