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Os velhos como todos, aprendem, e levam a vantagem de ter visto tudo acontecer. Eu vi, no início da década de 50, o professor Francisco Antônio Cardoso, com apoio do governador Lucas Nogueira Garcez, seis partidos, um pedaço do PTB, empresários, financistas, ser para prefeito de São Paulo por um pouco conhecido vereador Jânio Quadros.
Vi Jânio se eleger governador e eleger como sucessor um ótimo político, ultra sério, com fama de pão-duro, sempre de paletó e gravata, o professor Carvalho Pinto – que nas urnas triturou o cacique Adhemar de Barros. Carvalho Pinto, respeitadíssimo, foi vencido pelo bem menos conhecido Orestes Quércia, que bateu recorde de votos para virar senador. Vi Jânio, como candidato de oposição à Presidência da República, derrotar o marechal Teixeira Lott, que tinha o apoio do popularíssimo presidente Juscelino Kubitschek e do maior conjunto de partidos do país, mais a turma do dinheiro. Vi o jovem Sarney, um deputado esquerdista, vencer a então invencível oligarquia de Vitorino Freire no Maranhão. São histórias que se repetem por todo o país.
Apesar disso, vemos Lula usar sua ampla vantagem para jogar parado na campanha. A vantagem é grande, Bolsonaro não pode ver jornalista mulher que a insulta, quer brigar com as urnas eletrônicas (que não são candidatas), mas não tem limites e já o mostrou. A vantagem é grande, 44×31, mas se esvai aos poucos. Ou Lula expande a base ou chega a 2 de outubro em risco.
A aula chilena
No Chile, a Constituição foi revogada e a população votou pela criação de uma nova. Elegeu um governo de esquerda bem radical. E, pouco tempo depois, rejeitou a nova Constituição esquerdista apoiada pelo Governo há pouco eleito. Surpresa! Pois é, eleição tem disso. Fernando Henrique Cardoso estava com a eleição tão ganha para prefeito de São Paulo que seu partido tinha encomendado a festa da vitória num bufê excelente e caro. Eu fui ao bufê para sentir o clima. Não havia ninguém: só os garçons à espera.
Quem pensa que vai ganhar porque já ganhou está sujeito a imprevistos.
Independência
O Brasil nunca cuidou muito de ensinar sua História nas escolas. Mas há algumas coisas nos ensinamentos escolares de que todos lembram: D. Pedro proclamou a Independência às margens do riacho Ypiranga, quando chegava a São Paulo. Independência ou Morte, dizem meus livros escolares, foi o que bradou na ocasião. O Brado Retumbante é citado no Hino Nacional como tendo sido proferido às margens plácidas do Ypiranga.
Pois bem: numa cerimônia macabra, o presidente Bolsonaro conseguiu trazer de Portugal ao Brasil o coração de D. Pedro, que é guardado longe do corpo, na cidade do Porto. E cadê o coração de D. Pedro no local onde foi proclamada a Independência? Nada! Nem passa por São Paulo, nem perto do principal museu do país destinado à Independência, recém-reformado. É pena: a festa programada para São Paulo é uma das melhores que já houve.
Festejando
O desfile cívico-militar é o que ocorre todos os anos, com seis mil homens das três Armas, mais 1.052 policiais, três mil civis e 117 veículos militares. O desfile começa hoje cedo, às oito, e vai até 12h30. Mas a festa continua, com os soldados da Brigada Paraquedista saltando na avenida. E à tarde o Museu do Ypiranga será reaberto, depois de mais dez anos fechado. Pelo que a TV mostrou, foi um trabalho muito bem-feito: até o quadro famoso de Pedro Américo na hora do Brado Retumbante está novo, todo restaurado.
Sem caça-voto
Haverá autoridades no local (e ex-autoridades), como o ex-governador João Doria Jr, que não é candidato a nada). A pauta é a apresentação do Museu restaurado e de seus arredores, a região onde é provável que tenha ocorrido o Grito da Independência. O governador Rodrigo Garcia é candidato à reeleição, mas promete que o assunto não será sequer lembrado.
Um detalhe: não havia dinheiro para a reforma do Museu. Doria, então governador, reuniu doações de empresários (alguns recorreram à Lei Rouanet, que permite a isenção fiscal das quantias oferecidas, outros optaram por doações diretas). E está aí o Museu de volta à vida nacional.
Olha a fogueira!
A informação é de organismos oficiais: há vários dias que dizem ocorrem 3 mil incêndios simultâneos na Amazônia. Coincidência, talvez: mas em 2007, quando os índices de desmate eram tão altos quanto os atuais, a sequência de incêndios por dias seguidos era idêntica à atual. E isso não tem nada a ver com política ou eleições. Em 2007 o presidente era Lula e as eleições iriam ocorrer três anos depois.
O problema é outro: visivelmente o sistema federal de controle de fogo não dá conta da prevenção e combate e será preciso aperfeiçoá-lo e dar apoio ao pessoal, que é bom, para que possa agir.
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