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Quando você me dá a caixinha cheia de vidrilhos, uma agulha mais comprida, a linha quase grossa, e me ensina a encadeá-los, com um nó justo depois de cada conta, eu ainda custo a perceber que você me coloca sob um céu azul, junto com a lua cheia e uma estrela dourada, no desenho do seu sonho. Mas mesmo sem conhecer gestos e intenções eu estou decidido a aprender os movimentos que você se propôs a me ensinar. Quando você puxa o crepe georgete salmão e com uma tesoura afiada esgarça os fios, criando um corte simétrico que dimensiona bem o tamanho do nosso viver, eu apanho o rolo de babado e começo a fixar nele as miçangas e as lantejoulas com o cuidado de um artesão iniciante que se esmera para ver o seu esforço admirado. Eu olho nos seus olhos quando suas mãos pegam nas minhas para fazer os pontos com linhas suaves trespassar o pano incerto do destino. Dou a juntar paetês e a fazer apliques, admirando a parte como se fosse o inteiro, assim como os fragmentos se mostram para tentar explicar a clandestinidade. Nas muitas e muitas noites acordado na construção dos sonhos, quando o cansaço me chega deito minha cabeça no seu colo, apoio meus cotovelos nas suas pernas e sou seu cúmplice na construção de algumas fantasias. Então, olho com ternura o traje da esperança que brilha com a luz do luar, que não por acaso é testemunha da primeira prova. Ele combina bem com a faixa da saudade, que aperta mais do que o cinto da distância. Gosto também do vestido de coragem, feito de shantung amarelo palha, cortado no risco da determinação, para ser usado quando os laços cruzados despertam a emoção. Mas quase me perco com sorrisos, que de tão intensos provocam lágrimas, quando você veste o vestido da alegria, feito de seda, forte como o brilho do dia, intenso como o azul do céu, firme como o chuleio de ponto duplo. Ele te transforma em encanto, que só se desfaz no fim da madrugada, quando o dia inicia a volta. Ainda como a sonhar, você se esquece do jeans e faz das fantasias os trajes da vida.