Divã

  • EntreTantos
  • Publicado em 12 de dezembro de 2017 às 17:06
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:27
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Saudações paciente leitor!

Faço aqui meus sinceros votos para que, ao ler tal analogia sórdida, você esteja guarnecido de todas as maravilhas que a data propõem.

Mais um ano que finda, dissipando lentamente, sugado pelo ralo, violado pelos dias que por ele passaram. Para trás, a macula, o rastro melancólico das retrospectivas, nos propondo devaneios e frustrações.  Um divã se oferece, tal qual o confessionário, no qual, sentimos tentados a nos sentar e suspirar nossas reminiscências.  Formulamos novos planos, reformulamos promessas que, mesmo que vivamos um século mais, jamais as cumpriríamos.

Este ano que morrerá sob espetáculos pirotécnico e incitações de “viva” leva para sua cripta, meus dias sombrios, que me torturaram em infindáveis instantes de angustia. Porém, rouba-me também os dias floridos que se assomaram em minha existência, onde mistos de sentimentos rejuvenescedores suavizaram minha alma.

 No frigir dos ovos, ao balancear minhas ações, descubro que ainda não foi desta feita que cravei meu passaporte certo, direto aos jardins do Éden. No entanto, concluo contente que estou a uma distância segura dos portões de qualquer inferno, embora, tal qual Dante Alighieri, confesso que desci por várias vezes os círculos, vales e fossos, propostos pelo estado que rege minha existência social, no qual comi o pão que algum chifrudo amassara (falo do Diabo mente suja ha ha ha). Foram longos e miúdos 365 dias. Dias de luta, onde voltar para casa desfigurado pela labuta era um privilégio restrito a poucos miseráveis. Dias de risadas, abençoados pela criança que as vezes se encarapita na rispidez de minha vida adulta. E mais do que isso, a repetição sistemática de todos estes horrores e glórias. Dias em que novos amigos nasceram dos vales mais insólitos, a ensinar-me que é sempre necessário fecundar a amizade, independentemente do quão estéril seja o solo. É óbvio que antigas alianças se romperam, mas, ninguém, jamais perdera algo que nunca lhe pertencera.

 Foram dias tempestivos de solidão, onde padeci miserável a ausência de alguém, ou ainda, a pior de todas as solidões, a ausência de sentido, das questões existenciais. Dias de alivio, figurados em novas projeções, em reviravoltas, no reencontro com nós mesmos.

Neste ano que dezembro envolve na lápide, amadureci suficientemente bem, a ponto de lhe propor o ensinamento de que sempre sentirei a necessidade de aprender muito contigo. Ah! Enternecido leitor!  Se realmente o que importa de verdade é a intensidade com os quais foram vividos os momentos, confesso que a cada novo ano tenho dedicado demasiado esforço em seguir tal filosofia, pois, a cada minuto meu dedico merecido apreço, tudo deve ser vivido com extremo calor. Afinal, o tempo há de seguir sempre em frente. E se ainda não aprendi de fato os ensinamentos enigmáticos, desbotados nos papiros, um novo ano se abre e, com ele, a oportunidade e esperança de reviver tudo mais uma vez, cometer os mesmo erros, dos quais me arrependerei no próximo dezembro. Surge uma nova oportunidade de conquistar novos sorrisos, aliás, talvez seja, justamente no sorriso que induzimos, que esteja incrustada a verdadeira motivação de se viver.

Nos ventos, as projeções dos novos dias que nascerão, onde seremos coadjuvantes, ou atores principais, depende de nossas escolhas. Onde aplaudiremos ou agradeceremos os aplausos. Vilão ou mocinho, sei que, na maioria das vezes não se trata de escolha, é consequência, o fato é que de toda forma, para todos nós, a cortina há de baixar um dia, esteja você no palco, ou acomodado na plateia, e o que realmente ficará, será a intensidade em que conduzimos esta confusa peça, mesclada de todos os gêneros, chamada vida.  

*Essa coluna é semanal e atualizada às quartas-feiras.


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