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Chega: a escalada de provocações está criando um ambiente político em que alguma tragédia acabará acontecendo. Os dois principais candidatos têm adeptos fervorosos, que odeiam o adversário. Há grupos perigosos de ambos os lados: ou milicianos, ou invasores (e destruidores) de propriedades. Para os dois principais candidatos, ideias, rumos, planos são bobagens. Ambos se oferecem como produtos contrabandeados: “La garantía soy yo”. Que se pode esperar de uma campanha suja, marcada por raiva e agressividade?
Já existem faíscas. Jogaram fezes e urina no carro do juiz que ordenou a prisão do ex-ministro acusado de terceirizar a distribuição de verbas. Já deram um tiro nas janelas do jornal Folha de S.Paulo. Jogaram uma garrafa de urina e fezes (deve ser padrão), numa garrafa com explosivos, no comício de Lula no Rio. Há dias, militantes de um grupo comunista impediram uma palestra de políticos adversários na Unicamp – numa universidade! Por enquanto a coisa está limitada à grosseria e à falta de educação. Mas basta que um desses grupos nojentos encontre alguém irritado que acelere o carro e atropele alguém, ou um dos milhares de clientes das lojas de armas, para que haja a tragédia completa. Vamos fingir que não vemos até que alguém seja morto? A eleição existe para que o eleitor escolha seus dirigentes sem a necessidade de luta armada. Se é para haver luta armada, para que eleição?
Não é exagero. A Primeira Guerra Mundial começou com um atentado.
Os limites
A primeira consequência do clima de guerra já surgiu: a Polícia Federal, que até 2018 dava alguma proteção aos candidatos, tem hoje protocolos dos mais rígidos tanto para os policiais quanto para os que devem ser protegidos. Fica difícil fazer, numa campanha, algo que era normal: ter conversas a sós com dirigentes locais, conversar com a população, fazer o que se chamava de corpo a corpo. Comício, passeata, tudo virou espetáculo: os astros ficam numa bolha de segurança, protegidos do povo a quem pedem os votos.
O som e a fúria
Os alucinados não provocam risco apenas aos adversários: odeiam a Rede Globo (de ambos os lados), odeiam jornalistas. O presidente Bolsonaro viu de perto quando seguidores seus agrediram dois fotógrafos. Tanto ele quanto seus seguranças não se mexeram. Entrou na moda, no meio de uma matéria ao vivo, entrar um idiota na frente das câmeras para gritar “Globo Lixo”. Os idiotas não sabem que, enquanto esbraveja contra a Globo e promete cassar a concessão da TV, Bolsonaro anuncia pesadamente na empresa, com verbas públicas, por ser a emissora de maior prestígio e audiência. E Lula? Enquanto Bolsonaro exibe as armas, Lula as guarda numa caixa de violino: para ele, o bom é o tal “controle social da mídia”, o nome da censura que quer implantar.
Semeando ventos
E as autoridades? Bem, vamos lembrar um caso recente. Num debate com um professor universitário, a deputada bolsonarista Carla Zambelli se irritou quando ele lembrou que ela tinha falado publicamente contra o aumento do Fundo Eleitoral e votado a favor do aumento. Disse que o debatedor era burro e reagiu com grosseria: “Vou mijar e deixar você aqui sozinho”. O marido de Carla Zambelli, coronel Aginaldo de Oliveira, é o comandante da Força Nacional. No dia seguinte, disse que o professor é que havia insultado sua esposa e xingou-o com palavrões. Talvez o caro leitor tenha dificuldade em acreditar, mas a função da Força Nacional, que ele chefia, é manter a ordem.
O que conta
Este colunista, cidadão brasileiro e eleitor, não tem a menor curiosidade em saber o que é que a deputada Carla Zambelli vai fazer quando sai de um debate. Também não tem interesse na opinião de seu esposo sobre um debatedor, nem nos motivos de Lula para apoiar ditaduras latino-americanas. Mas eu gostaria de saber quais os planos dos candidatos para evitar a alta contínua dos preços. O leite longa vida subiu 37,61% nos últimos 12 meses. Algum leitor sabe de algum salário que tenha acumulado alta igual?
Cinquentinha
Louvemos, por sua sinceridade emocionante, o senador Marcos do Val (Podemos–Amapá). Numa boa, sem que ninguém o pressionasse, contou ter recebido R$ 50 milhões para destinar a emendas do Orçamento secreto por ter votado em Rodrigo Pacheco (PSD–Minas) para a Presidência do Senado. “Foi gratidão”, disse. “O critério que Pacheco colocou para mim foi o de eu o ter apoiado enquanto outros não apoiavam”. Marcos do Val até achou que R$ 50 milhões era muito, já que o Amapá é um Estado pequeno; mas, já que as verbas estavam à disposição, ele fez o possível para aplicá-las bem.
Agora vai!
O presidente Bolsonaro resolveu reformular o comando de sua campanha. Levou para lá o general Eduardo Pazuello, aquele que (lembra?) foi ministro da Saúde. Pazuello, como Braga Netto, é especialista em Logística.
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