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O setor de serviços deve sentir os efeitos da reforma tributária, mas destacou que os MEIs não devem ser impactados.
Após mais de duas décadas de idas e vindas a proposta de reforma tributária foi aprovada em dois turnos na Câmara dos Deputados na madrugada de sexta-feira (07). Ainda na sexta-feira os deputados votaram os destaques ao texto base e, no pós-recesso parlamentar, o texto seguirá para o Senado.
Inicialmente, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma prevê mudanças somente em impostos que incidem sobre consumo. Itens da cesta básica, de higiene e produtos para pessoas com deficiência devem ter alíquotas reduzidas ou zeradas.
A tributação sobre alguns serviços também pode mudar.
Confira o que pode mudar nos tributos e como a reforma tributária pode impactar o seu dia a dia.
Cesta básica
Estudo divulgado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) gerou burburinho nas redes sociais devido a um possível aumento de 60% no imposto para produtos do setor.
No entanto, este aumento se refere ao percentual da alíquota do imposto pago pelo setor, e não interfere no preço final ao consumidor.
A pesquisa da Abras foi criticada pela equipe econômica do governo e rebatida por Eduardo Fleury, advogado, economista e consultor do Banco Mundial.
Impacto
Em nova estimativa, Fleury aponta que a reforma tributária deve impactar na queda de cerca de 1,7% no preço médio da cesta básica. Para o cálculo, foi utilizada como referência a alíquota estimada de 12,5% para alimentos (metade dos 25% do IVA padrão).
Segundo o estudo, vários preços da cesta básica poderão ter crédito tributário em sua cadeia, o que gera redução nos valores.
Com isso, não apenas os supermercados, mas empresas de todos os setores e portes devem ter menos custos com tributos.
Os itens da cesta básica que são industrializados e têm maior cadeia de produção devem ser os mais beneficiados, como papel higiênico, iogurte e sabonete. Também aparecem na lista de redução de preço creme dental, carne bovina e frango.
Por outro lado, os produtos com menor índice de manufatura, como macarrão e legumes, devem ter aumento de preço.
No entanto, apesar do aumento, a queda de preço em itens que hoje são muito mais caros ajudou a balancear a projeção, que ainda assim aponta redução média de 1,7% no preço geral da cesta básica.
Medicamentos
Rodrigo Leite, Professor de Finanças e Controle Gerencial, explica que grande parte dos medicamentos não devem ter mudanças no preço com a reforma tributária.
“Não acredito que tenha muita diferença nos remédios, principalmente os genéricos, que têm regulação própria”, afirma.
Vale ressaltar que uma parte dos medicamentos constam na previsão de alíquota reduzida. Além disso, ainda há remédios que estão na opção de alíquota zero, como os de tratamento contra o câncer.
Serviços
Com a unificação de impostos, a expectativa é de aumento da carga tributária média do setor de serviços.
O secretário Extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, afirmou que o setor de serviços será beneficiado pela reforma tributária devido ao crescimento econômico.
Appy reiterou que algumas áreas do setor devem ser beneficiadas com redução de carga tributária, como os tomadores de serviço, que podem ter redução de 7% a 13% na carga de tributos com as mudanças propostas.
E o Simples Nacional?
Para Leite, o setor de serviços deve sentir os efeitos da reforma tributária, mas destacou que os Microempreendedores Individuais (MEIs) não devem ser impactados.
No entanto, o professor destaca que o governo precisa avaliar quais serão os impactos para as empresas que utilizam o Simples Nacional.
“Não acredito que tenha diferença para os MEIs, mas o que certamente serão mais impactados serão os serviços prestados por grandes empresas”, afirma.
Serviços online e plataformas de streaming
Rodrigo Leite explica que todos os serviços realizados de forma online, por meio de aplicativos pagos, serão altamente impactados pela reforma tributária. “De todos os serviços, este é o que mais vai ter aumento, justamente porque o IBS vai ser maior”, afirma.
No entanto, Leite afirma que, apesar disso, o efeito global será praticamente nulo. “Algumas coisas vão ser prejudicadas e outras muito favorecidas”, diz.
Além disso, o Ministério da Fazenda afirmou que o aumento desse tipo de serviço seria “compensado” pela redução no preço da energia elétrica.
IPTU/IPVA
Segundo o texto da reforma, não há expectativa de aumento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). “O IPTU não está entrando na reforma porque não é um imposto de consumo”, explica Leite.
Com relação ao Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), a proposta apresentada pelo relator da reforma, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), prevê que o projeto final promova a expansão da cobrança do IPVA para veículos aquáticos e aéreos.
Isso faria com que os proprietários de bens como jatinhos, iates e lanchas, hoje isentos do imposto, passassem também a pagar o tributo.
E eu com isso?
Para o professor Rodrigo Leite, pessoas trabalhadoras assalariadas devem sentir muito pouco a diferença da reforma tributária.
“No entanto, se estivermos falando de um empresário ou de uma pessoa que deseja abrir um negócio, aí sim essa pessoa sentirá as mudanças, especialmente no caso de empresas de médio e grande porte”, afirma.
Segundo notícia da CNN Brasil, o professor Rodrigo Leite acredita que a grande questão da reforma tributária vai além da sua proposta.
“Não adianta mudar o regime tributário e garantir a simplificação se não forem simplificadas as obrigações acessórias, além dos processos de abertura e fechamento de empresas, que hoje são extremamente burocráticos”, explica.