Carro popular, que já foi barato, encareceu 235% em 10 anos, mostra pesquisa

  • Robson Leite
  • Publicado em 5 de maio de 2023 às 09:00
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Volta de carros com preços acessíveis é discutida pelo governo, que avalia incentivar setor automotivo, que sofre com queda das vendas

O carro zero quilômetro mais barato vendido no Brasil hoje em dia, o Renault Kwid, é vendido a partir de R$ 68.100,00. Para os parâmetros de “carro popular”, criado no governo Itamar Franco, em 1993, está bem longe da proposta inicial, que era ser acessível para todos os brasileiros.

Um levantamento da KBB (Kelley Blue Book), empresa de avaliação de veículos e pesquisa automotiva, mostra que os carros populares encareceram mais 200% em 10 anos.

O Volkswagen Gol, por exemplo, foi um dos carros que mais encareceram. Em 2013, um modelo zero quilômetro era vendido por R$ 20.600,00. Hoje, em 2023, vale R$ 68,500,00, alta de 235,5%.

O levantamento da KBB considerou preços referentes às versões de entrada ano/ modelo, verificados a partir de março de 2013.

Fora de linha

Os modelos Chevrolet Celta, Ford Ka e Fiesta, que estão no levantamento, saíram de linha e não possuem sucessores atualmente, por isso foram verificados os seus modelos mais novos para cada um deles.

Segundo o consultor do setor automotivo, Paulo Garbossa, quando o carro popular chegou ao mercado brasileiro, eram totalmente despojados.

“Os veículos tinham revestimentos da lateral de eucatex, para-choque pintado, ou seja, coisas que se faziam para baratear efetivamente o custo do carro”, explica.

Na década de 1990 não se via carro com airbags, não tinham a base e nem frenagem ABS, lembrou Garbossa.

Itens obrigatórios

“Não tinha uma série de equipamentos que atualmente são obrigatórios em todos os veículos. Hoje todos os carros são carburados, têm injeção eletrônica, todos equipamentos de segurança e multimídia. Isso significa que houve uma obrigação em investir nos veículos por várias razões, como emissões de gases veiculares, dentre outros acordos com as normas vigentes do país”.

Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da JATO no Brasil, ressaltou que no Brasil o carro nunca existiu popular.

“Sempre o denominei por ‘veículo de entrada’. O advento da tecnologia nos veículos de hoje fez com que os custos de produção se elevassem. Além do mais, não podemos nos esquecer no custo Brasil – infraestrutura, logística e custos tributários -, sem contar a alta desvalorização pela qual nossa moeda passou. Todos os fatores juntos e tornou o veículo de entrada inacessível.”

Mais modernos

Desde o implemento do Inovar-Auto, pela obrigatoriedade de alguns investimentos em powertrain e em segurança (ABS e airbag), os preços dos veículos deram um salto. Milad enfatiza que, se o brasileiro “puxar pela memória”, perceberá que os veículos de hoje são bem diferentes dos veículos de 10, 20 e principalmente 30 anos atrás.

As montadoras estão estudando ressuscitar o carro popular. A iniciativa tem sido discutida entre fabricantes de veículos e o tema começa a ser avaliado em Brasília.

O setor acredita que, se houver acordo e o governo oferecer incentivos tributários, seria possível oferecer um veículo popular com valor pelo menos R$ 10 mil abaixo do praticado atualmente.

Tema em discussão

O tema está em discussão entre os ministros do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e da Fazenda, Fernando Haddad. O assunto está sendo pautado para as pastas avaliarem iniciativas para incentivar o setor que sofre com a queda das vendas.

Segundo a CNN Brasil, a intenção é criar um programa que permita reduzir o preço ao consumidor em pelo menos R$ 10 mil. Assim, segundo a indústria, seria possível oferecer carros de entrada com valor entre R$ 50 mil e R$ 60 mil.


+ Economia