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Segundo o departamento, reação do mercado de trabalho está compatível com crescimento da economia
Se a economia brasileira continuar neste ritmo, vai demorar uma década para o país recuperar o nível de emprego que havia antes da crise que começou em 2013.
Além disso, haverá mais empregos sem carteira assinada. É o que afirma o diretor-técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Clemente Ganz Lúcio.
“A reação do mercado de trabalho está sendo compatível com o tamanho do crescimento. É uma retomada fraca, semelhante ao baixo crescimento da economia, após uma grave recessão”, disse o especialista em mercado de trabalho do Dieese, que tem 700 entidades associadas entre sindicatos, federações e confederações de trabalhadores.
Segundo ele, no momento está predominando a abertura de vagas de emprego de “baixa qualidade”, sem carteira assinada e com emprego intermitente. O Brasil tem ainda 12,4 milhões de pessoas sem emprego, uma taxa de 11,6%.
Para o diretor do Dieese, a abertura de vagas de emprego que ele chama de baixa qualidade deve continuar. “Além da crise econômica, o Brasil tem ainda a questão da reforma trabalhista, com flexibilização das regras, que desprotegem o emprego. A tendência é então que você tenha postos de trabalho mais frágeis, seja no mercado informal ou formal, com o trabalho intermitente, a terceirização, a ‘pejotização'”, disse.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
UOL – Neste momento, considerando a taxa de desemprego no país, podemos dizer que a reação do PIB já tem reflexos no mercado de trabalho?
Clemente Ganz Lúcio – A reação é compatível com o tamanho da dinâmica do crescimento. Muito baixo, compatível com o baixo crescimento da economia, após uma grave recessão econômica e uma dinâmica no mercado de trabalho de emprego de baixa qualidade, predominando a informalidade [sem carteira assinada] e o emprego intermitente.
Quais segmentos da atividade econômica estão reagindo mais rapidamente e por quê?
A retomada é espalhada e tem relação com a distribuição das ocupações da atividade econômica no país, sendo mais de 60% em serviços. As respostas dos mercados informal e formal são coerentes com essa distribuição, não havendo um destaque.
A exceção tem sido o setor da construção civil, com a retomada da construção, que vinha demitindo muito, enxugando. E agora está retomando vagas.
Quais segmentos de atividade econômica estão com a reação mais lenta? Quais os motivos?
Houve um desmonte na construção pesada. Não há sinal de retomada e não vai retomar. Com a justificativa de combater a corrupção, houve a destruição desse segmento. E quando retomar, será com a empresa multinacional, com os chineses.
Com o ritmo de retomada da atividade econômica, quando voltaremos a ter taxas de desemprego semelhantes às de 2013?
Demoraria cerca de uma década para termos os postos de trabalho que existiam no começo de 2014. Naquela época, havia 5 milhões de desempregados, agora são quase 12 milhões. Gerando 500 mil postos de trabalho por ano, como vem sendo gerado e outros 500 mil postos informais, para absorver os desempregados atuais e mais as pessoas que vão entrar no mercado de trabalho, o Brasil precisaria acelerar o ritmo das contratações.
Mas o Brasil está saindo da crise de forma mais lenta do que o restante do mundo. E, mesmo que a economia volte a crescer 3% ao ano, os postos de trabalho não responderão na mesma velocidade por causa de novas dinâmicas, com inovações proporcionadas pela tecnologia.
Está havendo mudanças no perfil do mercado de trabalho no país, com precarização, por exemplo?
Há várias mudanças ocorrendo, conjunturais e estruturais. Tem uma mudança na tecnologia, que afeta o mercado de trabalho. Há estudos apontando que 60% dos atuais postos de trabalho serão afetados pela tecnologia, ou destruídos ou alterados.
Mas o resultado líquido será destruição de vagas porque a inovação se amplia e corta vagas. E há ainda uma mudança patrimonial, com o sistema financeiro comprando o sistema produtivo.
E, no Brasil, tem ainda a desestatização, que é acompanhada por aumento em tecnologia e busca de inovação e produtividade que reorganizam o sistema produtivo com redução de empregos.
Então temos uma mudança estrutural do mercado de trabalho no país, com maior flexibilização que veio para ficar?
Sim. E o Brasil tem ainda a questão da reforma trabalhista, com flexibilização, que desprotege o emprego formal. A tendência é que tenhamos cada vez mais postos de trabalho mais frágeis, seja no mercado informal ou formal, com o trabalho intermitente, a terceirização, a “pejotização” [contratação de trabalhadores como pessoa jurídica, “PJ”].
Uma economia aquecida poderia atenuar esse movimento?
Depende da qualidade da retomada, de quem vai induzir o crescimento mais acelerado. Se a Petrobras for indutora, por exemplo, ela pode induzir empregos mais formais, de melhor qualidade.
Se a economia aquecer, a empresa pode optar por investir na inovação tecnológica e não na busca de vagas de emprego de melhor qualidade em termos de proteção.
O Brasil poderia gerar mais emprego se as exportações aumentassem?
Depende. Se a gente exporta o minério e não o avião, não dá para esperar melhor qualidade de emprego. Se a gente exporta a laranja e não os derivados, como a vitamina C, não haverá maior empregabilidade.
No atual desenho, podemos ter um crescimento de produtividade no setor primário, mas sem dinâmica positiva para sustentar uma dinâmica favorável para o emprego de qualidade.
O Brasil precisa ter investimentos em setores que gerem valor. Se uma empresa que vai tocar um projeto de infraestrutura é chinesa, o engenheiro que vai ter emprego é o chinês e não o brasileiro. É o que vemos agora com a questão do aço envolvendo os Estados Unidos. Eles querem o minério, mas não o aço.
Fonte: Economia UOL