Brasil bom de boca

  • Aromas em Palavras
  • Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 09:36
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:11
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

E chegou a Quarta Feira de Cinzas, o fim do Carnaval, as apurações e arrastões. E apesar do esplendor dos desfiles paulistas e impossível falar sobre escola de samba e não lembrar de Sapucaí e Rio de Janeiro. Ontem, as apurações foram cheias de fervor, protestos e até um saudosismo ao torcer ponto a ponto quando as tradicionais escolas Mangueira, Salgueiro, Portela e Beija Flor disputavam as primeiras posições. Beija Flor venceu, Grande Rio e Império Serrano foram rebaixadas e a tradicional Viradouro voltou ao grupo de elite. Uma das mais elogiadas foi a Paraiso do Tuiuti, principalmente nas redes sociais, conseguiu ficar em segundo lugar com a brilhante crítica ao governo e uma bela figura que lembrava nosso presidente vestido de vampiro como o destaque de um dos carros.

Uma das escolas que não passou desapercebida porém ficou em 10° lugar foi a União da Ilha do Governador, com o belíssimo enredo “Brasil bom de boca”. Foi a terceira escola a desfilar no segundo dia e entrou na avenida 0h de terça feira e completou sem desfile em 73 minutos sem nenhum problema técnico, apenas um show para os nossos 5 sentidos, ao menos para os que ali assistiam de ‘camarote’.

A escola levou alegorias elaboradas como o carro abre-alas grande e luxuoso que mostrou a chegada das caravelas ao Brasil, mostrando os produtos que vieram de fora trazidos por eles. A partir daí, as influências dos portugueses e seu país de origem se misturaram com alimentos que encontraram por aqui, como milho, caju e a pimenta. Esse exalava cheiro de café pela avenida. Já a ala das baianas, tinha um toque especial, elas estavam vestidas com alusão à pacova da terra, uma espécie de banana. Depois uma ala que mostrou a influência dos negros que vieram para o Brasil e dos seus pratos que se tornaram comuns na nossa gastronomia como a feijoada e o acarajé. Em outra ala a escola fez uma crítica que apesar de produzir e exportar grande quantidade de alimentos, grande parte da população ainda sofre com a fome.

Logo na sequência, uma enorme alegoria mostrou a alegria dos doces, uma homenagem as avós que fazem os bolos caseiros, comuns nas lembranças de muitas famílias, e de tantos outros doces e esse carro exalava o maravilhoso cheiro de chocolate pela avenida. O desfile terminou com um grande boteco, uma verdadeira instituição do nosso país onde são servidas grande parte das nossas melhores iguarias, com vários dos nossos melhores chefs.

A escola com 3,2 mil integrantes divididos em 29 alas e 5 alegorias foi fundada em 1953 e ainda busca seu primeiro campeonato no grupo especial do Carnaval do Rio de Janeiro. Não foi dessa vez, mas pode-se dizer que o desfile foi incrível, cheio de cores, sabores, cheiros e alegria! O samba enredo eu deixo aqui para você poder sentir o astral:

PÕE LENHA NO FOGÃO!
O AROMA ESTA NO AR.
EXALA A NOSSA POESIA!
CARAVELAS A BAILAR NO MAR,
CHEGAM PRA MISCIGENAR ESSA FOLIA.
EITA TEMPERO BOM. EU QUERO PROVAR!
DERRAMA O CALDO DE LÁ, NOS FRUTOS DE CÁ.
EITA TEMPERO BOM, EU QUERO PROVAR
NAS TERRAS TUPINIQUINS O QUE SE PLANTA DÁ.
E TUPÃ ABENÇOOU ESSE SABOR DA ALDEIA.
INCENDEIA, AGUÇA O PALADAR.
MERGULHEI NO GOSTO QUE MAREIA.
RIQUEZA MILENAR

FOGO ACESO NO TERREIRO DAS YABAS Ô Ô
NA MISTURA A HERANÇA DOS MEUS ANCESTRAIS
BOTA ÁGUA NO FEIJÃO QUE O SAMBA ESQUENTOU
ÓÔÔÔ NA BATIDA DO TAMBOR

E NA FARTURA DO MEU TABULEIRO
O GRÃO É VIDA, MOSTRA O SEU VALOR
SINTO O CHEIRO DE CRAVO E CANELA
VÓ QUITUTEIRA MEXENDO A PANELA
DA NOSSA TERRA, UM GOSTINHO SEM IGUAL
PRO SEU PRAZER DOCE CACAU
ILHA…PREPARA A MESA, NO BAR FAZ A FESTA,
SERVINDO UM BANQUETE À FANTASIA
UMA RECEITA IMPOSSÍVEL DE ESQUECER
DUAS PITADAS DE AMOR, EU E VOCÊ,
JUNTANDO A FOME COM A VONTADE DE VENCER

VEM PROVAR O SABOR DESSE MEU CARNAVAL!
EU SOU A ILHA, SOU O PRATO PRINCIPAL
VOU DEIXAR ÁGUA NO BOCA
PROVOCAR UMA VONTADE LOUCA!


*Esta coluna é semanal e atualizada às quintas-feiras.​


+ zero