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Especialistas explicam que jogos de apostas funcionam de forma semelhante a outros tipos de comportamentos viciantes, como o uso de drogas
Sites de apostas esportivas estão causando uma verdadeira epidemia do vício no mundo – foto Agência Pública
Os sites de apostas esportivas, as chamadas bets, se popularizaram no Brasil nos últimos anos, especialmente com a divulgação ostensiva de celebridades e influenciadores.
O número de usuários que se endividam para manter o hábito de jogar virou uma preocupação de saúde pública nos últimos dias após a divulgação que, somente em agosto deste ano, 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões com as bets.
O psiquiatra Lucas Benevides, professor de Medicina do CEUB, em Brasília, explica que os jogos de azar ativam os centros de recompensa do cérebro, principalmente por meio da liberação de dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer e à satisfação.
O mecanismo de “quase acerto”, em que a pessoa sente que quase ganhou a aposta, também aumenta a liberação de dopamina, criando uma sensação de expectativa e prazer que impulsiona a vontade de jogar mais.
“Os jogos de aposta funcionam de forma semelhante a outros tipos de comportamentos viciantes, como o uso de substâncias”.
“A repetição da aposta, associada à imprevisibilidade dos resultados, faz com que o cérebro fique constantemente buscando a próxima ‘recompensa’, mesmo que ela não venha de forma imediata”.
‘Isso gera uma compulsão, o jogador sente que precisa continuar apostando para ter a sensação de satisfação ou para tentar recuperar perdas”, afirma o médico.
Quando se perde há também um impacto negativo na mente humana, podendo levar a um desejo de recuperar o que foi perdido, colaborando para um comportamento viciado, explica a psicóloga clínica e da saúde Deyse Sobral, que atende em Brasília.
“Os jogos de apostas podem interferir na nossa capacidade de tomada de decisões, havendo aumento da impulsividade e prejuízo na tomada de decisões”, considera.
Os jogos de aposta sempre existiram, mas a psicóloga avalia que a divulgação massiva em meios de comunicação e a popularização das plataformas agravou os casos de vício, especialmente após a pandemia da Covid-19.
“O vício pode surgir em diversos tipos de jogos, sendo mais comum no caso dos jogos de azar e nos jogos eletrônicos”, afirma.
Como reconhecer o vício em bets?
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) estabelece alguns sinais e sintomas do vício em jogo, como:
– Dificuldade em controlar, diminuir ou parar de jogar;
– Agitação ou irritação ao diminuir ou parar de jogar;
– Necessidade de jogar com quantidades crescentes de dinheiro para alcançar a excitação desejada;
– Preocupação e pensamento constante em relação ao jogo;
– Sentimento de angústia ao jogar;
– Ilusão de que conseguirá reaver o valor perdido;
– Arriscar relacionamentos familiares, amizades, finanças e emprego em nome de apostar;
– Mentir para esconder a extensão do envolvimento em jogos de azar;
– Negação do problema;
– Isolamento social.
A psicóloga Deyse Sobral esclarece que, embora os sintomas do vício em jogos sejam bastante evidentes, eles costumam ser melhor percebidos pelos familiares e amigos e não por quem joga.
“O vício em jogo pode ser difícil de diagnosticar devido à facilidade com que se esconde e, muitas vezes, as pessoas têm dificuldade de admitir que têm um problema com jogos de azar”.
“É comum que as pessoas não reconheçam que têm um vício e resumam as suas sequências de derrotas à má sorte. Já os jogadores que conseguem identificar a problemática, não raramente, enfrentam a vergonha e evitam pedir ajuda”, aponta.
Tratamento
O tratamento para o vício em jogos de aposta pode ser feito com acompanhamento psicológico, psiquiátrico, e com o uso de medicamentos para melhorar o manejo do humor e da fissura.
Também são indicadas a participação em grupos de apoio; além do fortalecimento dos laços de afeto.
“Os grupos de apoio podem ajudar a criar uma identificação e melhorar a sociabilidade do paciente. A participação da família e amigos também é importante para a eficácia do tratamento”.
“Em alguns casos, pela vergonha ou pela associação de transtornos de personalidade, é frequente a baixa adesão ao tratamento e pouca motivação”, esclarece Deyse.
Dá para jogar sem se viciar?
O psiquiatra Lucas Benevides avalia que o jogo saudável é aquele visto apenas como entretenimento, sem prejuízos financeiros ou emocionais.
A psicóloga Deyse Sobral concorda. Ela afirma que os jogos podem ser uma forma de entretenimento ocasional nas situações em que há equilíbrio entre o lazer e as obrigações.
“Existem também os entusiastas de jogos, conhecidos como “gamers”, que não necessariamente apresentam vício em jogos, atribuindo um cunho de hobby ou até profissional aos jogos”, explica.
Mas ela pondera que algumas pessoas podem começar a jogar por diversão, por curiosidade ou mesmo na intenção de ganhar dinheiro e acabam com dificuldade de estabelecer limites.
“Há um risco iminente de apresentar dificuldades em estabelecer limites nas atividades de jogar, começando a se tornar dependente de estar jogando, investindo muitas horas e dinheiro nos jogos, e prejudicando compromissos sociais, profissionais e familiares”, pondera.
*Informações Metrópoles