Autismo: médicos querem métodos diferentes para diagnosticar meninas

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 4 de maio de 2019 às 16:39
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:32
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Segundo pesquisadores, meninas costumam apresentar características diferentes dos meninos

Diversas pesquisas já revelaram que os meninos são quatro vezes
mais propensos do que as meninas a serem diagnosticados com transtorno do
espectro do autismo.

No entanto, um novo estudo realizado pelo Hospital Infantil da
Filadélfia, nos Estados Unidos, desafia essa afirmação. Os pesquisadores
descobriram que meninas e meninos autistas contam histórias de maneiras
diferentes, o que poderia induzir a um “diagnóstico errado” em
meninas.

Para chegar a essa
conclusão, eles analisaram 102 crianças em idade escolar que tiveram um
diagnóstico de autismo ou estavam tipicamente em desenvolvimento, e foram
pareadas em idade, QI e educação materna.

Foi mostrada a elas uma sequência de fotos envolvendo um pescador,
um gato e um pássaro e, depois, elas contaram uma história baseada no que
viram.

Os cientistas se concentraram em como os participantes usaram
substantivos (palavras-objetos) em comparação com as palavras do processo
cognitivo. “O autismo é uma condição social diagnosticada usando um
comportamento observável, por isso queríamos estudar uma habilidade observável
relacionada à capacidade social. Nós escolhemos contar histórias porque envolve
muito mais do que gramática e vocabulário; ela depende de um senso de adequação
social e lança luz sobre o que os palestrantes decidem que é importante
transmitir”, explica a principal autora do estudo Julia
Parish-Morris, cientista do Centro de Pesquisa do Autismo e membro do corpo
docente nos Departamentos de Psiquiatria Infantil e Informática Biomédica e Saúde
do hospital.

DIAGNÓSTICO SENSÍVEL AO SEXO

Os resultados
revelaram que as meninas autistas usaram significativamente mais palavras do
processo cognitivo do que os meninos autistas, mesmo quando eles tinham níveis
semelhantes de gravidade do autismo. Curiosamente, meninos e meninas autistas usaram
mais substantivos do que crianças com desenvolvimento típico, demonstrando
narrativas focadas em objetos.

Assim, as meninas autistas mostraram um perfil narrativo único que
se sobrepôs às meninas e meninos típicos, bem como aos meninos autistas. “Para
colocar essas descobertas em contexto, é importante entender que, como as
meninas tendem a apresentar características diferentes dos meninos autistas,
elas são diagnosticadas incorretamente ou perdidas por ferramentas de
diagnóstico padrão. Essa discrepância também distorce a literatura de
pesquisa”, explica a pesquisadora.

“Estas descobertas sugerem que rastreios e
métodos diagnósticos informados ao sexo podem nos ajudar a identificar autismo em
meninas verbais em idade mais precoce, o que deve estimular esforços para
desenvolver intervenções precoces e personalizadas adequadas, resultando em
melhor apoio para meninas e mulheres com autismo”, finaliza. Os
resultados foram publicados recentemente na revista Molecular Autism.


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