Autismo: desinformação e falsos mitos ainda alimentam preconceito

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 2 de abril de 2019 às 18:08
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:28
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Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo é lembrado nesta terça-feira, 02 de abril

Muitas pessoas ainda acreditam que o autismo
representa uma espécie de condenação sem volta e que o diagnóstico significa
uma vida sem oportunidades – e é exatamente esse tipo de desinformação e mito
que alimenta o preconceito. A avaliação é do pediatra e neurologista infantil,
Clay Brites.

Para o especialista, o Dia Mundial da Conscientização sobre o
Autismo, lembrado nesta terça-feira, 02 de abril, ajuda a sociedade a refletir
melhor acerca dos avanços e, principalmente, do que ainda precisa melhorar para
dar suporte amplo e transdisciplinar e esse grupo de pessoas e suas famílias. 

A
data é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Muitos casos são severos e passam essa impressão mesmo, mas a
maioria, não. Ainda vemos muitos casos graves, inclusive, porque estamos
assistindo a uma geração passada, em que o diagnóstico foi tardio. Espero que,
com as informações recentes, a nova geração tenha outra evolução, bem mais
satisfatória, e derrube muitos mitos.”

Brites lembrou que o transtorno
atinge 1% das crianças no mundo e leva a prejuízos na percepção e na capacidade
de interação social adequada. Isso faz com que a criança com autismo perca boa
parte da capacidade de interagir socialmente de forma construtiva, coerente,
com reciprocidade, atenção concentrada e compartilhada.

O autismo, segundo o pediatra, também pode levar a comportamentos
repetitivos e interesses excessivamente restritos a determinados objetos,
contextos e até pessoas. A criança diagnosticada geralmente não apresenta bom
contato visual, não olha nos olhos e tem dificuldade para perceber mudanças de
comportamento de grupos e de ambientes. “Essas crianças costumam ter reações corporais anormais frente a
situações emocionais ou induzidas pelo grupo como, por exemplo, movimentos de
mãos repetitivos. Elas têm muita dificuldade em conversar, só falam aquilo que
lhes interessa – qualquer coisa induzida por terceiros ela simplesmente ignora,
não dá continuidade. Elas têm uma hiper preferência por objetos, têm distúrbios de
sensibilidade, costumam ter medos inexplicáveis ou desproporcionais ao que está
acontecendo”, acrescentou.  

Os sintomas começam a aparecer nos primeiros três anos de vida e
o ideal é que o diagnóstico seja feito o quanto antes, abrindo caminho para
modelos de intervenção comportamentais ou de desenvolvimento – de preferência,
abordagens que tenham fundamentação cientifica e um grande número de pesquisa
com amostragem populacional significativa.

“A importância está em ajudá-los a adquirir competências
suficientes e a tempo de poderem ser mais funcionais e socialmente melhores
adaptados nos anos mais difíceis que se seguirão, ao adentrarem na escola ou no
trabalho.  Nesse processo, a intervenção precoce e a oportunidade de
oferecer os melhores modelos auxilia na preservação ou até no ganho de
capacidade intelectual e de linguagem social verbal e não verbal.”

Clay Brites e a esposa, a psicopedagoga Luciana Brites, são
autores do livro Mentes Únicas. A proposta é colocar à disposição informações
que ajudem a nortear a família, a escola, os profissionais e as instâncias de
gestão e de Justiça sobre como proceder com pessoas com autismo.

Com linguagem acessível, a publicação, segundo ele, mostra que o autismo, ao contrário do que muito pensam, não é o fim de tudo e que, apesar de todas as dificuldades, o conhecimento é fator fundamental para que crianças dentro do espectro tornem-se seres humanos realizados dentro de suas particularidades.


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