Asma é doença grave e mata oito brasileiros por dia no Brasil, segundo especialistas

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  • Publicado em 26 de agosto de 2019 às 22:02
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:46
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País registra mais de dois mil óbitos por conta da doença respiratória que não deveria ser letal

A inflamação crônica das vias respiratórias, popularmente conhecida como asma, acomete 20% da população brasileira. E foi ela que vitimou a escritora, roteirista, atriz e apresentadora Fernanda Young, de 49 anos, no último domingo, 25 de agosto.

É um problema grave e crônico que precisa ser controlado. Em caso de crise grave, pode levar à morte em minutos. Embora não tenha cura, quando diagnosticada, é facilmente tratada. Requer controle e cuidados do paciente, mas na prática, não deveria ser mortal. Dados do Ministério da Saúde, porém, revelam um índice surpreendente de óbitos provocados por conta da doença: duas mil pessoas morrem e mais de 300 mil são internadas com crises agudas. “Ela é perigosa e varia muito entre as pessoas. Um idoso pode ter asma, mas ficar a vida inteira sem sintomas e, de repente, apresentar uma crise grave”, afirma o clínico geral Roberto Debski.

Segundo Carlos Jardim, pneumonologista do Incor, qualquer queixa de falta de ar deve ser investigada pelo médico. Outros sintomas não devem ser desconsiderados, como cansaço após esforço, aperto, peso e chiado no peito, tosse e produção de secreção.

Os números relativos à doença, segundo Jaquelina Ota, pneumologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, e presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia, deveriam ser nulos ou próximos de zero. “A asma não mata. Os dados são alarmantes e revelam o descontrole no trato da doença.”

A especialista revela que a mortalidade da asma é provocada por uma conjunção de fatores. Falta de cuidado do paciente, automedicação e atendimento ambulatorial precário encabeçam a lista. A morte, segundo ela, só ocorre em uma crise maltratada, seja pelo paciente, que não deu a devida importância e deixou de procurar por atendimento, ou pelo serviço médico não adequado.

“O paciente, no dia a dia, é capaz de controlar a doença. O grande problema é não respeitar a gravidade da crise e se automedicar sem limite. Quando a tosse começa a ser muito frequente e a falta de ar não é sanada com o auxilio do medicamento, é necessário procurar um pronto-socorro. Essa deve ser a orientação dos médicos e a postura do paciente. Se ele não chegar a tempo no hospital, o atendimento não é capaz de reverter os danos da crise a pessoa morre por falta de ar.”

Levantamento feito pelo Delas no DATASUS, banco de dados do Sistema Único de Saúde, abastecido por todos os hospitais do Brasil, mostrou que o nordeste é a região que tem os mais altos índices de internação do País.

De janeiro de 2008 a fevereiro de 2010, a Bahia registrou aproximadamente 80 mil internações por conta da doença. Para Jaquelina, a liderança do Estado pode ser um alerta na questão da qualidade do atendimento médico nos hospitais. “A falta de qualificação dos especialistas e as condições hospitalares precárias estão diretamente associadas a esses dados.”

No interior de São Paulo, em cidades onde há queima da cana-de-açúcar, a internação por crise de asma tende a ser maior, pois a fumaça gerada no processo compromete o sistema respiratório da população. Nesse mesmo período, a capital paulista teve 38 mil casos registrados.

“A doença exige um diagnóstico correto para que seja prescrito o melhor tratamento. Por isso, é importante que o paciente diga ao médico o que sente e qual o período os incômodos se acentuam. Geralmente, há uma piora durante a madrugada e ao acordar”, diz o médico. 

“A asma não tem cura, mas é controlável. É importante esclarecer que existe preconceito em relação à bombinha e a certos medicamentos, mas eles não viciam e nem fazem mal ao coração.” Geralmente, a asma começa na infância, mas isso não é regra. O problema pode ser hereditário.

As estações mais críticas para quem convive com o problema são a primavera, o outono e principalmente o inverno. São épocas em que há maior circulação de alérgenos, ou seja, substâncias de alimentos, plantas ou animais de estimação que provocam uma reação do sistema imunológico e causam inflamação.

Entram na lista exposição ao ar frio, poluição ambiental e fezes de barata. Eles são alguns dos gatilhos que também podem contribuir para o aparecimento da crise.

Para prevenir a asma ou conviver com ela sem passar por intercorrências graves, é necessário mudar o estilo de vida e adotar uma alimentação saudável.

De preferência, tire do cardápio os alimentos que podem causar alergias, como leite, amendoim e frutos do mar, porque a crise asmática também pode vir de uma simples reação alérgica.

Esqueça o cigarro e evite a obesidade. Atividade física regular e sob orientação médica é fundamental. Os esportes mais indicados são os aeróbicos, como natação e caminhada, se a pessoa não estiver em crise.

“Somente o médico pode indicar o exercício adequado, porque depende em grande parte das condições do paciente e do quadro da asma”, diz Debski.

Em caso de crise asmática, o socorro deve ser imediato. “Quem tem asma reconhece os motivos, mas a crise pode surgir por um fator novo e desconhecido. Dê o medicamento, se a pessoa já faz uso, e leve-a a um pronto atendimento imediatamente”, orienta Jardim.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, a asma é um problema mundial de saúde e acomete cerca de 300 milhões de pessoas. Estima-se que no Brasil existam aproximadamente 20 milhões de asmáticos.

Segundo o Datasus, o banco de dados do Sistema Único de Saúde, ligado ao Ministério da Saúde, ocorrem no Brasil em média 350 mil internações anualmente. A asma está entre as quatro principais causa de hospitalizações pelo SUS (2,3% do total).


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