As mulheres estão muito mais sobrecarregadas durante a pandemia

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 13 de setembro de 2020 às 12:44
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:13
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Desigualdade na divisão de tarefas domésticas acaba impactando no trabalho das mulheres

Não é de hoje que muitas mulheres vivem jornadas de trabalho duplas ou triplas, acumulando tarefas profissionais, da casa e dos filhos. A pandemia, no entanto, escancarou a divisão desigual entre os sexos. 

Para Hildete Pereira, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora de gênero e economia, a sobrecarga é reflexo da crença estrutural de que o cuidado é uma responsabilidade apenas do sexo feminino.

“As mulheres são tão socializadas com o cuidado que, mesmo as que rompem as barreiras e conseguem ir ao mercado de trabalho, carregam a responsabilidade de administrar a casa”, diz a pesquisadora. 

“E esse trabalho não remunerado é o que permite que as pessoas existam e não adoeçam. Imagine quanto se gastaria, se fosse preciso pagar por serviços feitos ‘por amor’!?”

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2018, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprovam que as mulheres dedicam mais horas aos afazeres domésticos e ao cuidado de pessoas, mesmo em situações ocupacionais iguais às dos homens. 

Enquanto elas gastam 18,5 horas por semana, eles despendem 10,3 horas. Entre os não ocupados, a discrepância é ainda maior: 23,8 horas dedicadas pelas mulheres, contra 12 horas empregadas pelo sexo masculino.

O chamado trabalho do cuidado, segundo pesquisa da UFF, é um esforço que equivale a 11,2% do PIB, embora não seja usado no cálculo da riqueza do país. Essa falta de valorização afeta diretamente o trabalho remunerado feminino.

Segundo o estudo “Tempo de Cuidar”, desenvolvido pela Oxfam, as mulheres são responsáveis por mais de três quartos do cuidado não remunerado, o que representaria uma contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia mundial. 

Essa responsabilidade afeta a inserção no mercado de trabalho: 42% das mulheres em idade ativa não têm remuneração, contra apenas 6% dos homens.


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