Artigo com poema

  • EntreTantos
  • Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 20:21
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:27
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O fato é que eu, você e toda essa gente maluca ao redor, vamos nos desintegrar, tais quais as folhas secas, estraçalhadas, engolidas pelo solo. Afinal, somos, de fato, folhas que tarde, ou cedo demais, seremos apartados desta arvore gigantesca, naturalmente, ou, por consequência de uma tragédia. E não importa o quão preparados estejamos. Nós morreremos. Muito provavelmente, sem realizarmos boa parte de nossos planos. E tenha como um luxo restrito a pouquíssimos seres, se por acaso, conseguir despedir-se. De nós, só ficarão lembranças, eternizadas numa fotografia, ou materializadas num objeto, do qual gostávamos tanto, e que certamente será doado, ou, descartado. Talvez, você ainda sobreviva por uns dias, no restinho de sua loção preferida, odorificando a última roupa usada. Seus chinelos certamente calçarão outros pés e, aos poucos, você vai sendo substituído, porque, as pessoas vão se acostumando com sua ausência.

O fato é que, contrariado ou resignado, nós entraremos no trem, com passagem só de ida. Afinal, sempre estivemos na estação à sua espera. Não há maneira de se evitar isso. Não adianta qualquer tentativa de barganhar um fiapo a mais de vida.

Ah! Paciente leitor!

Concordo que ninguém abre uma página, esperando encontrar palavras tão fúnebres, e ainda que você esteja, neste momento, sob o ímpeto de abandonar tais palavras e seguir para outra seção, insisto que, tais quais estas linhas, nossa vida também terá um fim.

Não tenha aqui um epitáfio. Também não se trata de lamurias. É somente uma proposta clara de reflexão da vida. Imaginar nossos nomes impressos no próximo obituário, talvez, reanime nosso desejo de viver, de aproveitar cada instante desta vida maravilhosa. Não que devamos trabalhar em oposição ao relógio, que segue sempre em frente, mas, sempre há tempo de reativar as engrenagens da vida. Não essa vida mecânica, que eu e você levamos, baseada em labuta exaustiva e pasto ao fim da tarde.

Talvez, paciente leitor, esteja na hora de fazer aquela viagem em família, que foi adiada pela décima vez, afinal, há uma possibilidade de você fazer esta viagem mais tarde, sozinho. Talvez, seja a hora de perdoar ou pedir perdão àquela pessoa, ouvi-la ou falar-lhe mais, pois, talvez, amanhã você ainda esteja aqui, mas, esta pessoa não.

Viva, paciente leitor!

Na mesma intensidade de um último dia, pois, cá entre nós, pode ser mesmo nosso último dia.

Por falar em morte…

Sebastião nos quintos do céu

Acordou no céu assustado.Com bando de anjos do lado.Não sabia o que lhe tinha acontecido,

Mas, que havia morrido,

Não foi difícil entender.

Ouviu liras angelicais,

Numa calmaria assaz,

Ficou logo agoniado,

Foi pensando ressabiado,

“Aqui não tem nada que fazer”

Não que estivesse reclamando,

Mas, aquela gente toda rezando

Já lhe dava agonia.

E perguntou revoltado,

Com medo de ser pecado,

Qual seria o desgraçado que lhe tirou da putaria?

Viu arcanjos e querubins,

Pensou, “se a morte é chata assim

Não quero mais morrer”.

Foi quando um tal de Pedro,

Lhe apontando o dedo,

Pediu-lhe um passo à frente.

E ele já mostrando os dentes,

Foi logo se adiantando.

Ao que o santo já se desculpando

Tratou de resolver.

Dizendo: Meu senhor!

Queira, por favor,

Aceitar nossas desculpas,

Pois, foi por minha culpa,

Que se encontras neste estado.

E ele já animado,

Sentindo a razão do lado,

Disse convencido,

Que aquilo seria esquecido

Sem qualquer ressentimento.

Desde que retornasse imediatamente.

Não que fosse exigente.

Mas, se lhe desse um bocado mais de anos

Para desfazer de vez o engano,

Não teria mal algum,

Pois, como todo bebum,

Voltaria ao boteco,

E com um ou dois canecos,

Daria por encerrada a questão,

Sem demais aborrecimento;

Ao que o homem disse: Não!

Houve sim um erro,

Mas, foi no seu enterro

Que confundi um papel,

E lhe trouxe de engano ao céu,

Mandando para o cão,

Um outro Sebastião

Que deveria cá estar.

E ele sem pestanejar

Disse: Deixemos esta peleja,

E onde quer que meu xará esteja

Que Deus o ajude,

Mas, a melhor atitude

É declarar morto o assunto.

A menos que queira ir junto,

Explicar ao pai celestial,

Que fizeste um grande mal,

Trocando os presuntos.

Imagino que o lastimável incidente,

O deixaria descontente,

Ao qual adicionaria uns trechos mais,

E diria que o próprio satanás

Tem em ti um Judas traidor,

Que, às custas de um favor,

Trouxe cá um outro defunto.Uma alma penada

Pra endiabrar a “anjarada”

E fazer do céu um inferno.

Seu castigo, por certo, será eterno,

E eu que nada tenho a perder,

Por certo, hei de descer,

Mas, pode anotar na caderneta,

Pois, sou porreta.

Na lábia, levo o senhor, pra morar junto d’eu com o capeta.

*Essa coluna é semanal e atualizada às quartas-feiras.


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