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Em 2018, fábricas de Franca totalizaram 18,3 mil funcionários, menor número desde 2000
O empresário Alan Marcondes representa uma das 75 indústrias calçadistas
de Franca que chegaram à Couromoda 2019 com a expectativa de reverter os
resultados de um dos piores momentos do setor.
Com negócios já firmados com Chile, Argentina e Bolívia em uma das
maiores feiras de sapatos e acessórios que reúne mais de 31 mil visitantes de
50 países em São Paulo até quinta-feira, 17 de janeiro, ele espera direcionar
até 40% de seus calçados femininos para o mercado externo no primeiro semestre
deste ano.
A esperança é de um cenário diferente em relação a 2018,
marcado pela menor produção calçadista do município desde 1997 e o nível mais
baixo de empregos em 20 anos.
A dificuldade descrita por Marcondes fica evidente nos números
recentemente divulgados pelo Sindicato da Indústria Calçadista de Franca
(Sindifranca), com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), da
União.
As fábricas do município – que com Birigui (SP) e Jaú (SP) responde por
quase 8% da produção nacional de sapatos e 10% das exportações do país –
registraram em novembro de 2018 um total de 18,3 mil empregados ativos, o menor
resultado desde 2000. Os dados de dezembro ainda não foram finalizados.
Para se ter uma ideia da baixa, em novembro de 2013, as empresas da
cidade chegaram a garantir emprego a 29,1 mil pessoas, ou seja, 37,11% a mais.
Em relação a 2017, a queda é de 10,7%.
A média parcial do ano passado, de 19,7 mil
funcionários, só não é pior se comparada ao período entre 2000 e 2002.
Segundo José Carlos Brigagão, presidente do Sindifranca,
tudo isso aconteceu em meio a uma conjuntura marcada por greve dos
caminhoneiros e instabilidade política.
Baixa em produção e exportações
A baixa nos empregos vem acompanhada do pior volume de
produção de sapatos desde 1997, de acordo com o Sindifranca.
Segundo
Brigagão, a expectativa é de que as fábricas tenham produzido 27,3 milhões de
pares em 2018, 30,8% a menos que em 2013, ano em que a cidade apresentou o
melhor saldo na série, com 39,5 milhões de pares, bem próximo da capacidade
instalada do município, de 40 milhões.
A queda
em relação a 2017, que também foi um período de baixa, é de 5,5%.
O ano passado também agravou o cenário das exportações, a cada ano menos
representativas e mais pulverizadas, enquanto o mercado interno passou a ser a
principal saída para a sobrevivência do segmento.
As fábricas, que em 1993 chegaram a comercializar 15,5 milhões de pares
para o exterior, sobretudo para os Estados Unidos, esperam ter fechado 2018 com
uma margem de 2,8 milhões de pares, ou seja, 81,9% a menos.
A derrocada das vendas internacionais, segundo Brigagão, é reflexo de um
cenário de falta de incentivos fiscais, problemas políticos e burocracia que
reduz a competividade do produto brasileiro.
Na análise do representante calçadista, a recessão política e econômica
do país desde 2014 apenas agravou um ambiente de baixo investimento e
desindustrialização ao longo dos anos.
Retomada
A esperança, de acordo com o representante calçadista, é de
que a indústria tenha uma recuperação gradual após reformas previstas pelo novo
governo federal, como a tributária e política, além de medidas solicitadas ao
governo estadual.
Durante
a abertura da feira em São Paulo, o presidente do Sindifranca reivindicou ao
governador João Doria (PSDB) a redução do ICMS de 17% para 7% para o varejo e a
ampliação do prazo de recolhimento do imposto nas indústrias de 40 para 90
dias. “Quando fazemos uma venda para o mercado interno temos que pagar o
ICMS proveniente dessa venda em menos de 40 dias. Damos 120 dias para o
comprador pagar e temos que pagar o imposto dessa venda em menos de 40. Quer
dizer: estou usando meu capital de giro ou pedindo dinheiro emprestado pra
bancar o estado”, afirma Brigagão.
Também anima o setor uma lei aprovada em setembro de
2018 pelos Estados Unidos – ainda o principal parceiro comercial do polo
calçadista – que reduz tarifas de importação para produtos como os sapatos. “Exportação não pode ter impostos, burocracia, corrupção. Tem que
ser sério, cumprir data de entrega. Aí o mundo é nosso”, diz o presidente.
Esse otimismo deve dar seus primeiros sinais na Couromoda, de acordo com
o presidente do Sindifranca.
No Espaço Moda Franca, estande coletivo que reúne 20 fábricas de pequeno
e médio porte do município, a projeção é de que as vendas superem às de 2018,
quando os empresários faturaram juntos R$ 12,6 milhões com mais de 164,6 mil
pares comercializados durante a feira.
Bolívia, Arábia Saudita, Uruguai e Emirados Árabes foram alguns dos
países de origem dos compradores no ano passado.
Há 28 anos no mercado e com uma produção média de 1,2
mil sapatos por dia, a fábrica comandada por Marcondes em Franca levou à
Couromoda 73 novos modelos voltados ao público feminino com o objetivo de
ampliar em até 10% os contratos em relação a 2018.
O solado leve e o cabedal flexível são as apostas para atrair
compradores da América do Sul e da Europa em busca de conforto acima da média,
diz o empresário.
Até março, quando o mercado interno começa a se aquecer, as exportações
devem representar quase a metade dos pedidos fechados, segundo ele. “A
maioria que vinha nos anos anteriores vinha pra pesquisar preço, dar uma
olhada. Este ano estão vindo mais pra comprar mesmo”, conta.