Apesar de obras, SP ainda precisa de chuvas para evitar nova crise hídrica

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 25 de fevereiro de 2018 às 23:48
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:35
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Níveis apresentados atualmente, há um mês do fim do verão, não são satisfatórios e preocupam

Em março, enquanto especialistas
e chefes de Estado estarão debatendo a gestão sustentável dos recursos hídricos
no planeta, no 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, a capital paulista
completa exatos dois anos do anúncio do fim da crise hídrica no estado. À
época, em 2016, a informação era de que a Grande São Paulo não enfrentava mais
problemas de falta de água e que os reservatórios que abasteciam a cidade
estavam em níveis seguros. Especialistas concordam que a situação atual é
melhor, mas alertam que os riscos do desabastecimento não estão totalmente afastados.
Hoje, em pleno verão, o reservatório da Cantareira, o principal da metrópole,
apresenta os mesmos níveis da fase anterior ao início da crise, quatro anos
atrás.

O secretário de Saneamento e
Recursos Hídricos de São Paulo e presidente do Conselho Mundial da Água,
Benedito Braga, afirmou que a situação atual é mais tranquila e que obras e a
conscientização da população ajudaram nessa melhora. “Estamos numa situação
relativamente tranquila do ponto de vista dos recursos hídricos. Passamos em
2014 e 2015 uma situação muito complexa, mas as obras que executamos e as
medidas que foram tomadas no controle do uso das águas pelas pessoas tiveram
uma colaboração importante”, ressaltou. Embora considere a situação normal, o
secretário espera pelas chuvas: “Estamos aguardando as chuvas do verão para que
a gente possa encher os reservatórios e ficar mais sossegados ainda no início
do ano que vem”.

O engenheiro especializado em
gestão de recursos hídricos e professor da Universidade Mackenzie, Paulo
Ferreira, concorda que a situação está mais tranquila, mas, segundo ele, não há
água de sobra no estado. “Hoje estamos no limite, o que produz gasta, e nós não
temos reserva. Dizer que estamos fora da crise hídrica é um pouco temerário. Se
ficarmos com um período hidrológico de um ano irregular, acho que voltamos para
a crise. A Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo] tem
gestão eficiente para trabalhar, tem recursos, capacidade técnica para
enfrentar, então vai ser minimizado esse problema, mas não vai deixar de
existir, estamos no fio da navalha em termos de consumo e produção”. Ferreira
também já atuou como diretor da Sabesp e da Companhia Ambiental do Estado de
São Paulo (Cetesb).

Obras

A interligação Jaguari-Atibainha
é uma das principais obras em execução para ampliar os níveis de segurança
hídrica de São Paulo.

Os índices dos sistemas de
abastecimento de água da Grande São Paulo são divulgados diariamente pela
Sabesp. De acordo com última atualização, o índice global de armazenamento de
água marcava 58,9%. Já no Sistema Cantareira o índice era de 51,9% armazenado.
O Cantareira é o maior e o mais importante reservatório do Estado de São Paulo
e abastece cerca de 9,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo.

Chuvas

As chuvas mais volumosas ao
longo do verão passado e os registros de 2017 contribuíram para a recuperação
dos sistemas que abastecem a Grande São Paulo. Os níveis apresentados
atualmente, a um mês para o fim do verão, pelos seis mananciais administrados
pela Sabesp são os seguintes: Cantareira com 51,9%, Alto Tietê, 59,3%;
Guarapiranga, 75,3%; Alto Cotia, 90,3%; Rio Grande, 83,3% e Rio Claro, 102%.

As chuvas de janeiro ficaram
29,5% abaixo da média esperada para o mês na capital, de acordo com os
pluviômetros do Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura
de São Paulo (CGE). A cidade registrou 184,4 milímetros (mm) de chuva em média
este mês, sendo que o esperado é 261,7 mm.

A média histórica é calculada a
partir da base de dados do CGE, que compila as informações desde 1995. “Apesar
da ocorrência de intensos temporais em algumas tardes, as chuvas continuaram
ocorrendo de forma irregular ao longo do período, o que contribui para o menor
acumulado em média”, explica o meteorologista do CGE, Michael Pantera. Assim,
este é o quarto mês de janeiro mais seco da série histórica do CGE. Vale
observar que o janeiro de 2017 foi o terceiro mais chuvoso desde 1995, acumulando
375,7mm.

De acordo com o CGE, para este
mês de fevereiro, a expectativa é de chuvas dentro ou ligeiramente abaixo da
média, que devem ocorrer de forma irregular. Os meteorologistas do órgão
ressaltam que temporais durante as tardes são comuns durante o verão e devem
continuar até o fim de fevereiro que é, historicamente, o segundo mês mais
chuvoso para a capital paulista. “O fenômeno La Niña segue em curso no Pacífico
Equatorial, mantendo a irregularidade das chuvas, principalmente sobre o Sudeste
e Centro-Oeste do Brasil”, completa Pantera.

No entanto, para o nível do
Cantareira aumentar é necessário que chova nas regiões sul de Minas Gerais e
norte de São Paulo, especificamente em quatro cidades: Extrema, Itapeva e
Camanducaia, no distrito Monte Verde, em Minas Gerais, e Joanópolis, em São
Paulo, municípios que abastecem os reservatórios do sistema.


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