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Racionamento é o governo que decide fazer, apagão é a falta de capacidade de fornecimento de energia elétrica em determinados horários
Pelo marcador dá para ver o nível extremamente baixo da represa do reservatório de Furnas
O ex-diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e da ANA (Agência Nacional de Águas) Jerson Kelman disse que o Brasil pode sofrer apagões nos horários de pico de uso.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o especialista disse acreditar que o país vai “passar raspando” sem racionamento de energia elétrica neste ano.
“Temos duas agendas em 2021. No curto prazo, é gerenciar a oferta e demanda para passarmos raspando sem racionamento. Os reservatórios estarão muito baixos, ninguém vai dormir tranquilo até novembro”.
Segundo ele, esta é uma situação preocupante. “Estamos correndo mais risco. Suponhamos que chova em novembro e dezembro, aí podemos começar a pensar numa nova reforma do setor”, afirmou.
Força-tarefa
Kelman foi o líder da força-tarefa criada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, durante a crise de racionamento em 2001.
Por isso, destacou que, como naquela época, “algo está errado agora” e destacou que nem todos os problemas foram corrigidos.
Entre os pontos principais, segundo ele, está a visão superestimada da garantia física das usinas. Isso porque, no entendimento do país, o sistema seria capaz de atender uma demanda “maior do que de fato conseguiria”.
“Ou seja, não basta ter usina térmica, tem de ter gás. Hoje temos o mesmo problema. Há duas térmicas no Ceará que não têm gás para operar. Elas usam GNL em um navio da Petrobras.
Fora de combate
Mas a estatal tirou o navio de lá e levou para a Bahia. A manutenção de Mexilhão também colocou as plataformas da Petrobras fora de combate. É muita coincidência. Na hora que mais precisa, alguma coisa acontece e falta gás.
“Parece um déjà-vu”, disse. Na visão do especialista, a ANA e o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) deveriam ter se articulado para trabalhar a flexibilização das restrições operativas das hidrelétricas, o que só aconteceu a partir da criação da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética, em junho de 2021.
Por fim, Kelman defendeu a “retomada das avaliações sobre a possibilidade de construção de usinas hidrelétricas, de preferência com reservatórios”.
Isso porque, na opinião dele, o país desistiu de construir hidrelétricas “cedo demais” e “sem examinar quais os casos favoráveis”.
“O Brasil sempre foi líder no tema hidreletricidade e penso que abandonamos essa riqueza natural precipitadamente”, finalizou.