Iniciativa visa coibir que “brincadeira” continue sendo feita e reforça a questão do respeito entre todos
Um vídeo produzido por educadores e alunos da Escola Estadual Pedro Nunes Rocha, de Franca, vem chamando a atenção nas redes sociais.
Os estudantes Nicole Martins da Silva, Vitor Hugo Araújo Santana,Victor Hugo Campos Grande, Francisco Pereira Walderrama e Maria Clara Silva Morais, dos 6º e 7º anos, são filmados prestes a brincar de derrubar uns aos outros no chão, quando param e seguram um dos amigos que seria derrubado com uma rasteira. Nesse momento, começam a falar sobre os riscos de uma brincadeira que viralizou entre adolescentes e vitimou em novembro de 2019, a adolescente Emanuela Medeiros, de 16 anos.
No final, os alunos se abraçam e falam sobre a importância de se respeitar os colegas.
O vídeo tem chamado a atenção e despertado discussão entre professores, pais, estudantes e a sociedade em geral, que temem que novos casos como o de Emanuela ocorram.
Emanuela teve traumatismo craniano ao bater a cabeça no chão na Escola Municipal Antônio Fagundes, em Mossoró, no Rio Grande do Norte.
O caso aconteceu em novembro do ano passado, mas só nesta semana é que o assunto fervilhou na internet, simultaneamente aumentando ainda mais o conhecimento a respeito da brincadeira.
O desafio tornou a conquistar espaço nas redes quando o influencer Robson Calabianqui, que tem mais de 2 milhões de seguidores em seu canal de YouTube, reproduziu a pegadinha no início da semana em seus perfis do TikTok e do Instagram. No vídeo, que inclusive já foi tirado do ar, ele e o irmão aplicam o golpe na própria mãe.
Assim como esse, já houve casos de filhos fazendo essa brincadeira com os pais, e até de pais fazendo com seus próprios filhos (sem ou com a presença de colchões, o que também não diminui os riscos).
Ainda assim, a maioria dos vídeos é feita na escola, entre colegas.
Levando isso em consideração, o recomendável é que os pais orientem os adolescentes a não participarem desse desafio.
Como a brincadeira exige três participantes, e um deles normalmente não sabe que será derrubado (já que a “graça” é justamente enganar a pessoa e derrubá-la sem que ela espere por isso), a grande questão é justamente a falta de conhecimento sobre esse desafio.
De acordo com o pediatra Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da Academia Americana de Pediatria, o desafio da rasteira pode gerar inúmeras consequências. “Isso é extremamente perigoso pode causar danos irreversíveis na cabeça, na coluna. Não se trata só de uma fratura, um quadro de queda. O adolescente também pode ter uma concussão cerebral que é muito mais grave, séria, perigosa”, explica o especialista.
Ele se refere a um tipo de trauma crânio-encefálico (traumatismo craniano) que se caracteriza por uma perda transitória da consciência, ou seja, a pessoa literalmente fica desacordada por alguns segundos.
Em um dos vídeos do desafio, é possível ver um rapaz desacordado depois da queda. “Esse tipo de brincadeira, na realidade, nem pode ser considerado uma brincadeira. É uma atitude impensada. Não vejo isso como um desafio, mas sim como algo que pode prejudicar a saúde das crianças”, acrescenta o profissional.
No entanto, nem todas as consequências são imediatas. O pediatra também alerta: “o adolescente pode convulsionar mais tarde; pequenas fraturas de crânio também podem se formar, porque as crianças se sentem bem na hora e depois podem se sentir mal”.
Segundo o especialista, também é possível acontecer tetraplegia ou paraplegia. E caso aconteça da vítima cair e ficar desacordada, ou não conseguir levantar, o profissional aponta que a primeira coisa a se ter em mente é não tirá-la do chão e ligar para o SAMU imediatamente, pois tirá-la do lugar pode causar “danos irreparáveis”.
Nelson ainda recomenda aos pais e professores que a melhor coisa a fazer para prevenir essa situação é estabelecer um diálogo com os filhos, contar o que pode acontecer, alertar as consequências.
Diante da gravidade da situação, a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia divulgou um comunidade de Utilidade Pública (veja abaixo) alertando os pais e professores sobre os riscos dessa prática. A ideia é evitar que o “desafio da rasteira” continue sendo feito, preservando assim, a integridade física e a saúde de crianças e jovens.