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Receita é um sistema de monitoramento de zoonozes, um esforço para acabar com o desmatamento e fim do tráfico de animais silvestres
A intrusão de pessoas em florestas para provocar desmatamento é um dos fatores de risco de exposição a novos patógenos
Deter a próxima pandemia antes de ela surgir é possível, e o custo de fazer isso equivale a um vigésimo do impacto econômico global que ela provocaria, afirma um novo estudo.
A receita para o planeta conseguir fazer isso tem três ingredientes: a criação de um sistema global de monitoramento de zoonozes, um esforço para acabar com o desmatamento e a eliminação do tráfico de animais silvestres. A notícia foi publicada pelo jornal O Globo.
Em um trabalho liderado pelo sanitarista Aaron Bernstein, da Universidade Harvard, economistas e pesquisadores de diversas áreas estimaram que o preço de fazer tudo isso pode ser distribuído ao longo das próximas décadas a um custo de US$ 20 bilhões anuais.
Impacto
Em comparação, o impacto dos eventos conhecidos como “spillovers” (a passagem de patógenos animais para humanos) tem provocado perdas anuais de US$ 212 bilhões no último século. Se levado em conta o impacto das mortes causadas por essas doenças, somam-se a esse valor mais US$ 350 bilhões.
Segundo Bernstein e colegas, a margem de erro da simulação é grande, mas é possível afirmar que dos mais de R$ 550 bilhões das cifras somadas acima o piso da estimativa é de US$ 400 bilhões. Daí sai a conclusão de que o valor da solução é da ordem de um vigésimo do custo do problema.
O cálculo dos cientistas é baseado no impacto duradouro de epidemias grandes e pequenas iniciadas nos últimos 105 anos, incluindo a Covid-19, a Aids e a gripe espanhola. Para fazer a conta, foram computadas todas as doenças humanas derivadas de zoonozes que deixaram ao menos dez mortos.
Para estimar o peso financeiro das mortes provocadas pelas pandemias, os pesquisadores atribuíram preços a cada óbito causado pelos patógenos, usando o conceito econômico de WTP (“willingness to pay”).
Investimento
Esse recurso consiste em determinar o tamanho do investimento que cada país está disposto a fazer para reduzir sua taxa de mortalidade. Dependendo da riqueza de cada nação, esse valor variou entre US$ 107 mil e US$ 6,4 milhões por morte.
Precificar a vida de pessoas pode parecer uma maneira cruel de fazer planejamento, mas é o que permitiu aos cientistas comparar métodos diferentes de políticas públicas para salvá-las. E, segundo os cientistas, as diretrizes que guiam a atual resposta global contra epidemias não são aquelas que previnem mais mortes.
Segundo Bernstein, essa abordagem “reativa”, em contraposição a uma estratégia “proativa”, precisa ser reconsiderada por gestores de saúde em governos nacionais e por organismos internacionais.
Benefícios à humanidade
“Se a Covid-19 nos ensinou alguma coisa, é que a testagem, os tratamentos e as vacinas podem prevenir mortes, mas eles não param por completo a disseminação global dos vírus, e podem nunca prevenir a emergência de patógenos novos”, afirmou o cientista, em entrevista coletiva.
A demógrafa brasileira Márcia Castro, professora de Harvard e coautora do estudo, afirma que a melhora no custo-benefício de tomar as medidas para um sistema global de prevenção ao ‘spillover’ foi até subestimado no estudo, porque inclui medidas que beneficiam a humanidade em outras frentes, como a preservação ambiental.
A intrusão de pessoas em florestas para provocar desmatamento, por exemplo, é um dos fatores de risco de exposição de humanos a novos patógenos.