A medicina vem se aproximando cada vez mais da espiritualidade

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 24 de junho de 2018 às 21:46
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:49
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Vem crescendo a cada dia o número de estudos sobre o seu impacto na saúde física e mental dos pacientes

Uma dupla de peso integrou a
única mesa do XXI Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia que debateu
o tema espiritualidade: Anna Cristina Pegoraro de Freitas, psicóloga e mestre
em ciências da religião pela PUC-Minas, onde dá aulas; e Anita Liberalesso
Neri, também psicóloga e professora do programa de pós-graduação em
gerontologia na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Nas últimas três décadas,
houve um notável crescimento no número de estudos que abordam questões
relacionadas às implicações da religiosidade e espiritualidade na saúde física
e mental dos pacientes.

A professora Anna Cristina
pontuou as diferenças entre religião, religiosidade e espiritualidade. De
acordo com os teóricos, entre os quais se destaca Harold G. Koenig, religião é um
sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos designados para
facilitar o acesso ao sagrado.

A religiosidade se dá quando
um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião e a espiritualidade é a
busca pessoal para entender questões relacionadas ao sentido da vida e as
relações com o transcendente – e pode ou não levar ao desenvolvimento de
práticas religiosas. “Revisões sistemáticas avaliaram que intervenções
religiosas e espirituais tiveram resultados promissores, como menor ansiedade e
depressão, em alguns contextos específicos, assim como menos dor, melhor
funcionalidade e maior qualidade de vida em pacientes com câncer”, ela relatou.

Apesar de reconhecer a
importância de religião e espiritualidade no conjunto de estratégias para lidar
com circunstâncias adversas, a professora Anita fez uma ressalva sobre o que
chamou de um excesso de expectativas sobre a construção de uma maior
resiliência psicológica, ou seja, a capacidade de se recuperar de reveses.
“Cuidado para não usarmos a resiliência de maneira muito pródiga”, afirmou
Anita, “como se estivesse ao alcance de todos. Pessoas desfavorecidas estão
mais expostas, porque são impactadas continuamente. Não esqueçamos que
vantagens geram vantagens e desvantagens geram desvantagens”.

A Duke University tem um
centro dedicado à espiritualidade, teologia e saúde. A universidade criou
inclusive uma Escala de Religiosidade, que abrange cinco questões envolvendo a
frequência com que a pessoa vai a uma igreja, templo ou encontro religioso; a dedicação
do seu tempo a atividades religiosas; se sente a presença de Deus; se crenças
religiosas estão por trás de toda a sua maneira de viver; e se se esforça para
viver a religião em todos os aspectos da vida.

A médica norte-americana
Christina Puchalski desenvolveu o Questionário FICA, que inclui perguntas sobre
se o paciente gostaria que o profissional de saúde considerasse a questão da
religiosidade/espiritualidade no tratamento. “Quando alguém está vivendo
momentos de dor intensa, ou talvez enfrentando os momentos finais de sua vida,
surgem muitas questões relacionadas com a espiritualidade. Não se trata apenas
de administrar morfina ou medicamentos para aplacar a dor, e sim de ouvir
aquele paciente”, defendeu.

O cardiologista Roberto
Esporcatte, professor-adjunto de cardiologia da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro e presidente do Gemca, o Grupo de Estudos em Espiritualidade e
Medicina Cardiovascular, defende que conhecer os valores espirituais do
paciente deveria fazer parte da anamnese.


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