A “BAGUNÇA” DE BEETHOVEN – só uma reflexão!

  • Fofocas Musicais
  • Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 22:37
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:23
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

​Fico
impressionada ao ler as biografias e constatar como os músicos e compositores
sofreram preconceitos ou bulliyng e ninguém se oferecia para ajuda-los no que
precisassem, mas era o eterno julgamento da sociedade.

Beethoven escreve a seu amigo e médico Franz Gerhard Wegeler:

Você tem tido notícia da minha situação? Os meus ouvidos nos últimos 3 anos estão cada vez mais fracos. Frank, o diretor do Hospital de Viena, procurou retonificar o meu organismo com tônicos e meus ouvidos com óleo de Mandorle. Não houve nenhum efeito, a surdez ficou ainda pior. Depois um asno de um médico me aconselhou banhos frios, o que me levou a ter dores fortes. Outro médico me aconselhou banhos rápidos no Danúbio, todavia a surdez persiste, as orelhas continuam a rosnar e estalar dia e noite. Te confesso que estou vivendo uma vida bem miserável. Há quase 2 anos me afastei de todas as atividades sociais, principalmente porque me é impossível dizer para as pessoas : Sou surdo !… Se minha profissão fosse outra, talvez poderia me adaptar à minha doença, mas no meu caso a surdez representa um terrível obstáculo. E se os meus inimigos vierem a saber ? O que falarão por aí? Para te dar uma ideia desta estranha surdez, no teatro eu tenho que me colocar pertíssimo da orquestra para entender as palavras dos atores e a uma certa distância não consigo ouvir os sons agudos dos instrumentos e do canto. Surpreendentemente, nas conversas com as pessoas muitos não notaram minha surdez, acreditam que eu sou distraído. Muitas vezes posso ouvir o som da voz mas não entendo as palavras, mas se alguém grita eu não suporto ! O doutor Vering me disse que certamente meu ouvido melhorará, se isso não for possível tenho momentos em que penso que sou a mais infeliz criatura de Deus.” Ludwig Van Beethoven

Como somos pequenos!

O julgamento sempre severo e cheirando a maledicência acusava os gênios, apontava seus defeitos, mas a eternidade se encarregou de mostrar a que vieram.

Beethoven tinha tantas ideias, sua mente, coração, pensamentos, estavam na música e somente na música. Não conseguia ser comum ( e não era para sê-lo mesmo) e as pessoas criticavam sua bagunça, papéis jogados no chão, livros esparramados, cabelo despenteado. Nada disso poderia interromper seu processo criativo. Penso que é como se ele parasse para arrumar a casa, a inspiração fosse embora ou então ele não conseguia fazer outra coisa senão dedicar-se ao que vinha em sua mente, o que sentia em seu coração e passar tudo para o papel em forma de sons.

OS GÊNIOS SE RESPEITAVAM E SE RECONHECIAM

Não foi a primeira vez que li numa biografia que um músico reconhece o talento do outro e o coloca no patamar onde merece. Liszt pagou a construção do salão de concertos e a estátua de bronze de Beethoven. Antes, quando Liszt estudava, Beethoven lhe mandou um piano de presente. E assim os missionários se reconhecem e se ajudam.

Não houve julgamento, muito menos competição entre os grandes. Houve um profundo respeito de uns para com outros. Isso não é sublime ? Maravilhoso e celestial ?


Salão Beethoven 

A inauguração oficial do Monumento de Beethoven seria o ponto alto de um Festival de Beethoven de três dias. Um mês antes do início do festival, não havia um local adequado para acomodar os 3.000 participantes esperados. A pedido de Liszt, e somente depois que ele se ofereceu para arcar com todo o custo, o comitê contratou um arquiteto e construtores para construir o Salão de Beethoven. Quando finalmente começaram, tinham menos de duas semanas para fazer isso e precisavam trabalhar contra o relógio para terminá-lo a tempo.


E o grande Beethoven deixou muitos relatos sobre os problemas que vivenciava.


“Ó homens que me tendes em conta de rancoroso, insociável e misantropo, como vos enganais. Não conheceis as secretas razões que me forçam a parecer deste modo. Meu coração e meu ânimo sentiam-se desde a infância inclinados para o terno sentimento de carinho e sempre estive disposto a realizar generosas ações; porém considerai que, de seis anos a esta parte, vivo sujeito a triste enfermidade, agravada pela ignorância dos médicos. […]Devo viver como um exilado. Se me acerco de um grupo, sinto-me preso de uma pungente angústia, pelo receio que descubram meu triste estado. Mas que humilhação quando ao meu lado alguém percebia o som longínquo de uma flauta e eu nada ouvia! Ou escutava o canto de um pastor e eu nada escutava! Esses incidentes levaram-me quase ao desespero e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, eu pusesse fim à minha existência. Foi a arte, somente a arte, que me salvou. Ah, parecia-me impossível deixar o mundo antes de ter dado tudo o que ainda germinava em mim![…]Esta foi minha vida, angustiosa. Quando lerem estas linhas saberão que aqueles que de mim falaram, cometeram grande injustiça. Peçam ao Dr. Schmidt para descrever minha doença para que o mundo possa se reconciliar comigo, ao menos após minha morte. Ludwig van Beethoven, in Testamento de Heilingenstadt, 6 de Outubro de 1802. [O testamento foi encontrado em Viena, numa pequena escrivaninha, anos após a sua morte.”

*Esta coluna é semanal e atualizada aos domingos.​


+ zero