A AMAZÔNIA CALVA SANGRA

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 3 de julho de 2019 às 21:35
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:20
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Começa com AMA

Quem ama, cuida. E não cuidamos. Sofremos. Mas não cuidamos.

Testemunhamos. E nunca cuidamos.

Não conservamos. Cortamos. Não replantamos.

A ignorância é uma bênção, é também a tragédia: a praga.
Vendados pelo discurso dos idiotas, não cuidamos.

Na pele, sofremos com o sol e com o frio.
E falamos e falamos e falamos e falamos. E nada fazemos. Só falamos. E só.
Protestamos. E só. Praguejamos. E só. Só sabemos protestar. E só. Só sabemos praguejar. E só.
Quem cuida, morre.

Ativistas viram notícias de pé de página. Orelha de livro ou nome de ONG, quando muito.

Como sempre viram memória. Como sempre, acabam esquecidos, ignorados.

Todos os dias morrem ativistas. E os governos safadamente surdos e mudos os empilham como carvão.
E nós, como sempre, desativados, alienados, abobalhados. Surdos e cegos por conveniência ou indecência.
As árvores agonizam. Os rios agonizam. As populações agonizam.
Aprisionados nos nossos umbigos, aplaudimos o discurso dos idiotas de plantão. Dos interesseiros e despreocupados. Dos lobistas. Dos canalhas de plantão. Interessados si8m na verba para a próxima eleição.

Interesse no capital e desinteresse na humanidade, no SER humano em algum momento da vida. Discursos proferidos como merda aos borbotões em uma ilha chamada Brasília.

Terra de todos e terra de ninguém, onde se fala, fala, fala do que não sei. Sei do escuso? Do obtuso? Sei.

E sofremos. E não entendemos, porque não queremos.

Consentir vale muito. Consentir desobriga. Mas, vale dinheiro. Muito dinheiro. E muito suborno.
Poderosos e indecorosos mentem e mentem. Em nome de interesses, mentem. 
E sabemos. E nos acovardamos. E nos escondemos. Da morte. Da sorte.
Morre a árvore. Morre a seiva da terra. Estéril.

A árvore não tem cio. Não gera filhos. Não existe comunhão.

Só chão esturricado. Desértico. Só chão. Terra batida. Só chão. Só deserto. Só chão. Sem pássaros, sem fauna, sem flora, só a morte aflora. Sobra morte.
Morremos ressecados, esturricados ou afogados, engolfados, como sempre e não nos damos conta.

E reclamos, e reclamamos, e reclamamos das secas inclementes e enchentes indecorosas.
Fazemos de conta que não entendemos. Só da terra do faz de conta. 
O ativista morre antes de morrer.

O dedo do gatilho apertado, mesmo antes de o cano cuspir a morte.

Viver assim?
Agoniza a Amazônia. Já calva. Cada vez menos ar, para cada vez mais gente respirar.
A gente morre cada dia um pouco. Sabemos. Mas não queremos saber.

A Amazônia já calva morre todo dia, estuprada a céu aberto.


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