Netflix é acusada de sexualizar as crianças: entenda o caso ‘Lindinhas’

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 13 de setembro de 2020 às 00:49
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:13
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A jovem protagonista vive um embate entre as descobertas de sua nova vida e as suas origens e costumes

Cartaz do filme francês que vem causando polêmica no catálogo da Netflix

Recém-lançado na Netflix, “Lindinhas” conta a história de Amy, uma menina de 11 anos de origem senegalesa que se muda para a França com sua família. A pequena conhece um grupo de dança de garotas de sua idade, Mignonnes – também o nome original do filme, em francês –, o que não é aprovado por sua família religiosa e conservadora.

A jovem protagonista, interpretada pela atriz Fathia Youssouf, vive um embate entre as descobertas de sua nova vida e as suas origens e costumes. Mas o que poderia ser mais um filme sobre diferenças culturais e as descobertas do começo da adolescência virou objeto de uma série de polêmicas.

O longa, acusado de sexualizar crianças, chegou aos assuntos mais comentados no Twitter nos Estados Unidos quando estreou no catálogo da Netflix. Em entrevista ao site especializado Deadline, a diretora e roteirista Maïmouna Doucouré disse que recebeu ameaças de morte.

O pontapé inicial foi um cartaz de divulgação, lançado pela Netflix em agosto. A imagem, que é uma reprodução de uma cena do filme, mostra o quarteto de amigas em cima de um palco, com roupas curtas, em poses que lembram movimentos da dança conhecida como twerking, com movimentos sensuais. Depois de uma primeira leva de críticas, a empresa de streaming removeu o cartaz.

Com a estreia do longa, a polêmica ressurgiu e foi um dos assuntos mais comentados nas redes. Há também duas petições online, uma pedindo que a Netflix retire o longa de seu catálogo e outra que pede que as pessoas cancelem suas assinaturas. Até a publicação desta reportagem eles tinham 203 mil e 623 mil assinaturas, nesta ordem.

O movimento de boicote foi puxado por figuras do Partido Republicano, dos Estados Unidos, como DeAnna Lorraine, ex-candidata a um cargo parlamentar, que criticou a obra no Twitter. “Pornografia infantil é ilegal na América”, escreveu em uma publicação, com a hashtag #CancelNetflix.

Em resposta ao reboliço, a Netflix publicou uma entrevista com a diretora num vídeo chamado “Why I Made Cuties”, em que ela comenta a obra. O filme tem uma proximidade com a história pessoal de Doucouré, que também é de família senegalesa, mas nasceu e foi criada em Paris. Ela defendeu o caráter crítico da obra.

“Amy acredita que pode encontrar sua liberdade por meio desse grupo de dançarinas e por meio de sua hiperssexualização. Mas isso é realmente a verdadeira liberdade? Especialmente quando você é criança? Claro que não”, diz a cineasta.

Além do vídeo com a diretora, a Netflix também emitiu um comunicado, afirmando que o filme se preocupa com as mesmas coisas que os escandalizam. 

“‘Lindinhas’ é uma crítica social à sexualização de crianças. É um filme premiado, com uma história poderosa sobre a pressão que jovens meninas sofrem das redes sociais e da sociedade em geral enquanto crescem – e encorajamos qualquer pessoa que se importa com esse tema fundamental a assistir ao filme”, diz o texto oficial.

Por outro lado, o filme parece ter agradado a crítica especializada. A produção rendeu à diretora o prêmio de direção no festival Sundance e ainda foi exibida em Berlim. Antes de chegar à Netflix, o filme foi lançado nos cinemas franceses em agosto.

O embate fica evidente nos portais que avaliam obras cinematográficas. No site Rotten Tomatoes, por exemplo, o filme tem 3% de resenhas positivas do público, enquanto as dos críticos alcançam a marca de 88%.

Em tempos em que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, instituição responsável pela entrega do Oscar, anunciou uma série de medidas para promover maior diversidade nas produções que concorrem ao prêmio principal, e com o racismo em evidência após as manifestações com o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, um filme protagonizado e dirigido por mulheres negras parece ter ficado de fora da discussão.


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