Pequenos confinados: saiba como o isolamento impacta a saúde das crianças

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 2 de agosto de 2020 às 19:35
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:03
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Sono alterado, ensino a distância, choro… Quarentena influencia comportamento e desenvolvimento das crianças

​​“Mamãe, por que a escola está fechada? Por que a gente não pode ver a vovó? Eu estou com coronavírus? Quando é que ele vai embora?” 

Pais escutam essas perguntas quase que diariamente  e muitas vezes se pegam tentando escolher o que responder, tomando o cuidado de respeitar a bagagem e o entendimento deles. 

São muitos outros questionamentos, assim como mudanças de comportamento.

Mas nada mais natural: de repente, os pequenos foram arrancados de sua rotina e trancafiados em casa sob a ameaça de um inimigo invisível. 

“Não tem jeito. Independentemente da idade, o confinamento vai impactar de alguma forma a vida de todas as crianças”, afirma Guilherme Polanczyk, professor de psiquiatria da infância e adolescência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

As primeiras repercussões começam a ser apontadas por estudos lá fora. 

Um levantamento realizado na província chinesa de Xianxim com 320 crianças e adolescentes revela os efeitos psicológicos mais imediatos da pandemia: dependência excessiva dos pais (36% dos avaliados), desatenção (32%), preocupação (29%), problemas de sono (21%), falta de apetite (18%), pesadelos (14%) e desconforto e agitação (13%).

É evidente que tudo varia de acordo com a idade, as características da menina ou menino, o contexto familiar e, principalmente, o jeito com que os adultos ao redor lidam com a situação.

“Na primeira infância, nos primeiros mil dias do bebê, ele só vai perceber o estresse em função da interação com a mãe ou cuidador”, explica Polanczyk.

“Já em crianças entre 3 e 6 anos, o impacto será sentido em termos de organização da nova rotina, tentativas de entendimento das mudanças e até uma possível relação com a doença e a morte.”

“Fora que, nessa fase, elas necessitam de mais espaço para explorar o mundo, o que faz parte da aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo”, completa o professor da USP.

O confinamento não limita apenas esses horizontes, mas o próprio gasto de energia da garotada.

“E os reflexos dessas restrições são agitação, irritabilidade, alterações do sono…”, esclarece Polanczyk.

Os sinais de ansiedade também se expressam pelo corpo, com maior ocorrência de dores de cabeça ou barriga, e por comportamentos regressivos, como voltar a pedir chupeta, correr para a cama dos pais à noite, retroceder no processo de desfralde, etc.

Essas são as pistas de que o pequeno procura por estabilidade e segurança, um acolhimento que só os adultos à sua volta podem oferecer.

Um erro ainda comum, segundo especialistas, é menosprezar a presença da ansiedade e da depressão na infância. Elas não são exclusividades de adultos.

Como crianças podem ter mais dificuldade de verbalizar suas angústias, vele a pena ficar de olho no surgimento e na persistência de sinais de sofrimento psíquico.

“Repare se o sono está alterado demais, se não conseguem brincar ou se concentrar, se há muitos episódios de choro”, exemplifica Polanczyk. E busque ajuda psicológica para que o quadro não se agrave.


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