Saiba o que pode ser a causa da nuvem de gafanhotos que se aproxima do Brasil

  • Rosana Ribeiro
  • Publicado em 25 de junho de 2020 às 12:28
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:53
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Nuvem avança pela Argentina e está a cerca de 100 kms em linha reta da cidade de Barra do Quaraí (RS)

​​A nuvem de gafanhotos que está a cerca de 100 km do Brasil,  levou o Ministério da Agricultura a declarar estado de emergência fitossanitária nas áreas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, estados que podem ser afetados pelos insetos.

A portaria foi publicada no início da madrugada desta quinta-feira (25) no Diário Oficial da União (DOU), assinada pela ministra Tereza Cristina Correa da Costa Dias.

O decreto 8.133 de 2013 permite a contratação de pessoal por tempo determinado e autoriza a importar temporariamente defensivos agrícolas para conter a praga.

A espécie Schistocerca cancellata é um gafanhoto da subfamília Cyrtacanthacridinae. É a principal espécie de enxame na América do Sul subtropical.

A nuvem de gafanhotos que avança pela Argentina está a 100 km em linha reta do município brasileiro de Barra do Quaraí, no oeste do Rio Grande do Sul, de acordo com o último levantamento do governo argentino.

Para meteorologistas, a chegada vai depender da condição climática no Sul nos próximos dias.

Entenda o que acontece​

Os fatores que levam ao surgimento de nuvens de gafanhotos na américa do Sul ainda não estão totalmente claros, mas é bastante provável que alterações ambientais causadas pela ação humana, como as grandes lavouras de monocultura, acabem favorecendo a formação desses bandos com dezenas de milhões de insetos.

“A monocultura não apenas concentra grandes quantidades de alimentos para os gafanhotos num único lugar como também tende a eliminar competidores e inimigos naturais” diz o entomólogo Ângelo Parise Pinto, da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

“Há ainda o fato de que a monocultura retira obstáculos para a movimentação deles, criando uma espécie de paisagem homogênea que facilita a agregação e a migração dos grupos”.

Registros históricos​

Nuvens de gafanhotos como a que apareceu os últimos dias na fronteira da Argentina com o Brasil são um fenômeno registrado de forma intermitente há milênios.

Os insetos são uma das dez pragas enviadas por Deus contra o Egito segundo o livro bíblico do Êxodo, no Antigo Testamento.

Também há menções a tais pragas em épicos gregos e hindus da Antiguidade.

Em épocas mais recentes, o aparecimento periódico das grandes agregações de insetos pode devastar plantações em quase todos os continentes, as exceções são América do Norte e Antártida.

Mas o efeito costuma ser localizado, raramente afetando de forma significativa os recursos agrícolas de um país inteiro, a não ser em regiões que já sofrem com insegurança alimentar crônica, como África do Sul e Saara.

Espécie​

Gafanhotos capazes de formar essas agregações são, na verdade, muito raros: apenas 20 das 6.000 espécies do grupo apresentam esse comportamento.

Além disso, espécies com essa capacidade normalmente levam vida solitária, encontrando outros indivíduos apenas para o acasalamento.

Circunstâncias ambientais específicas, como maior disponibilidade de alimento, podem alterar essa dinâmica e fazer com que surjam as nuvens.

Nesses casos, a própria anatomia dos insetos sofre mudanças profundas, com alterações na coloração e o surgimento de certas protuberâncias no corpo.

Como o processo de formação das nuvens é gradual e começa quando os gafanhotos ainda estão em sua fase imatura (chamadas ninfas), o melhor método de combate ao problema é monitorar os insetos com frequência e eliminar as agregações em seu estágio inicial.

Além do uso de inseticidas convencionais, também é possível aplicar bioinseticidas, esporos de fungos capazes de infectar e matar os gafanhotos.


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