6 razões que justificam porque o isolamento social não é nenhuma besteira

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 16 de abril de 2020 às 14:13
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:36
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O relaxamento das pessoas em relação ao isolamento social está preocupando médicos e autoridades

Única medida efetiva para evitar a contaminação em massa do novo coronavírus é o isolamento social. 

A medida tem sido defendida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pelo Ministério da Saúde, mas, ao passo em que aceleram os casos da covid-19, aumenta também o número de brasileiros que têm desrespeitado a orientação.

Índices de isolamento social aferidos pela empresa In Loco, com dados enviados por aplicativos que aferem deslocamento os usuários, indicam que na primeira semana de abril mais brasileiros saíram de casa em comparação com as últimas de março. 

O pico de isolamento foi entre 24 e 30 de março.

Esse relaxamento das pessoas preocupa as autoridades de saúde. 

De acordo com o secretário de Vigilância da Saúde do ministério, Wanderson de Oliveira, a situação já está crítica em alguns estados como São Paulo, Ceará, Rio de Janeiro e Amazonas. 

De acordo com ele, caso a população não mude o comportamento, municípios dessas unidades da Federação podem precisar de medidas drásticas de restrição como o lockdown. 

O secretário ressalta que a maneira mais efetiva de evitar o contágio é reforçar o distanciamento social, lavar as mãos com frequência, cobrir rosto ao tossir, usar máscara e ficar em casa se estiver doente.

“Higiene e distanciamento social são as únicas e mais eficientes armas que dispomos no momento”, diz Oliveira.

Aqui estão seis argumentos que justificam a necessidade dessa medida. 

1. Uma simples tosse leva carga viral elevada

O novo coronavírus tem a particularidade de ser um patógeno de alta transmissibilidade. 

Diferentemente do que causou a SARS (síndrome respiratória aguda grave), doença detectada pela primeira vez no fim de 2002, também na China, este coronavírus não se replica apenas no trato respiratório inferior, próximo da região dos pulmões.

Ele se replica também no trato respiratório superior, que inclui as cavidades nasal e oral. Por isso, a transmissibilidade é maior.

“Esse vírus consegue ser pior porque ele replica tanto no trato respiratório inferior, quanto no trato respiratório superior, como um vírus de resfriado, no nariz, na orofaringe, e aí qualquer espirro, tossezinha você já têm uma transmissão de vírus grande. 

“O que tem se notado é que a carga viral nessa região é alta. Acaba transmitindo para pessoas na rua, em casa, e também no hospital, quando as pessoas pioram”, explica Clarissa Damaso, professora de virologia da UFRJ. 

2. No Brasil, um quarto dos mortos por coronavírus está fora dos grupos de risco

No Brasil, aumentou o número de vítimas fora do grupo de risco da covid-19. O percentual de mortos com menos de 60 anos foi de 11% em 27 de março para 25% no último dia 11, de acordo com levantamento feito pelo jornal O Globo.

Os que não apresentavam doenças pré-existente, como diabetes e cardiopatias, independentemente da idade, aumentou também, de 15% para 26%, no mesmo período.

Ou seja, a tese de isolamento vertical, no qual apenas os integrantes do grupo de risco ficam confinados, não faz sentido entre os brasileiros e o argumento de que a doença é perigosa apenas para idoso cai por terra. 

Especialistas argumentam que as condições sociais dos brasileiros são diferentes das de outros países. A epidemia pode se expandir para regiões em que as condições de moradia são mais frágeis. 

3. Não lotar os hospitais 

O infectologista Julio Croda, ex-diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis da pasta, explica que, se o confinamento for relaxado, mais pessoas vão vão precisar de hospital ao mesmo tempo. 

“Se a gente libera a circulação para todo mundo, todo mundo vai pegar a doença ao mesmo tempo e vai sobrecarregar o serviço de saúde. 

“A ideia maior do isolamento é que todo mundo chegue a 50%, 70% de imunidade, mas não ao mesmo tempo. 

“Parece contraditório, mas é complementar porque você quer que as pessoas peguem [o vírus] ao longo de um período maior, entre 6 a 12 meses e não que todo mundo pegue entre um e dois meses, que você não vai ter leito de UTI [unidade de tratamento intensivo]”, diz.

4. Capacidade de mudar a previsão de lotação das UTIs na primeira quinzena de maio

No atual ritmo de contágio do novo coronavírus, os hospitais do País vão entrar em colapso na primeira quinzena de maio. Isso ao se considerar que hoje a cada 5,1 dias a quantidade de infectados duplica. 

Com isso, os hospitais do SUS ficariam lotados em dois meses e os hospitais privados em cerca de um mês.

A estimativa é calculada por uma ferramenta desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A simulação dá aos gestores uma visão realista sobre a ocupação dos leitos. 

Em alguns estados, como Amazonas e São Paulo, a situação já está crítica. Em SP, as internações em UTI por causa de covid-19 cresceram 2.260%. No Amazonas, a taxa de ocupação dos leitos do estado chegou a 91%, segundo dados do governo.

5. Covid-19 deixa pacientes por maior tempo internado 

Normalmente um paciente permanece em ventilação mecânica de 5 a 7 dias. Na covid-19, a média tem sido maior. D

e acordo com a pneumologista da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz Margareth Dalcolmo, o paciente pode permanecer em ventilação mecânica até 11, 12, 14 dias.

“Tem uma permanência em ambiente de terapia intensiva estatisticamente superior às pneumonias que nós estamos habituados a tratar. Isso é que torna a utilização de leitos de CTI muito complexa porque a rotatividade será menor do que a que estamos habituados”, explica.

6. Não há remédio milagroso

Embora a cloroquina tenha sido tratada por algumas pessoas, como o presidente Jair Bolsonaro, como uma grande esperança, não há medicamento capaz de curar a covid-19.  

 Apesar de ter usado o remédio para tratar a covid-19, Kalil  admite que é preciso esperar o resultado de estudos científicos feitos por instituições sérias como a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para saber se a droga efetivamente funciona. 

Há pesquisas em curso, mas nenhuma cumpriu requisitos técnicos para garantir o uso amplo e seguro. O principal risco é de danos cardíacos.


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