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Psicólogos acreditam que a inteligência emocional é mais importante do que o QI – no trabalho e na vida
A inteligência emocional, ou quociente emocional (QE), é um ramo relativamente novo da psicologia.
Foi definido pelos pesquisadores americanos Peter Salovey e John Mayer na década de 1990.
Mas foi popularizado pelo jornalista e psicólogo Daniel Goleman em seu livro Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente (Editora Objetiva).
Goleman identifica várias características básicas da inteligência emocional: consciência de si (compreensão das próprias emoções); autorregulação (permanência no controle); motivação (disciplina pessoal); empatia (percepção e compreensão dos sentimentos dos outros); e habilidade social (construção da autoconfiança).
Talvez de forma surpreendente, o QE não tem muito a ver com a capacidade de demonstrar sentimentos nem com características nacionais.
“A inteligência emocional está relacionada à capacidade de perceber o que acontece no rosto de um colega e entender o que você sente em dado momento”, explica Edgar Bresó, psicólogo social da Universidade Jaime I, em Castellón, na Espanha.
É comum supor que as mulheres, que costumam ser ternas e compassivas, sejam emocionalmente mais inteligentes do que os homens. Mas não é tão simples assim.
“As mulheres são mais fortes em empatia. Os homens, em navegar pelas emoções”, diz Maria Olsson, diretora de network regional europeia da Six Seconds, entidade sem fins lucrativos dedicada à inteligência emocional.
A inteligência emocional no trabalho
A inteligência emocional é muito valorizada no local de trabalho. Hoje, considera-se que é o QE, e não o QI (quociente de inteligência), que determina o sucesso.
A capacidade intelectual responde apenas por 10% a 25% da variação do desempenho profissional.
“O conhecimento não é suficiente para ser competente no mundo de hoje”, explica Bresó.
Celulares e computadores oferecem mais conhecimento do que as pessoas são capazes de absorver durante a vida inteira.
As pessoas serão mais competentes em determinadas tarefas intelectuais se forem mais competentes com suas emoções.
“Afinal, quando temos uma ideia clara do que sentimos, é mais fácil tomar decisões. As emoções são muito mais importantes do que os dados.”
Estudos mostram que trabalhadores com QE elevado tendem a ser mais produtivos, permanecer mais tempo no emprego e ter salários mais altos do que os colegas emocionalmente menos inteligentes.
Pessoas com boa inteligência emocional também têm mais probabilidade de ser promovidas. Um dos fatores é porque conseguem identificar as emoções dos superiores e se adaptam aos outros o tempo todo.
Isto é, embora a inteligência emocional seja considerada inata, especialistas acreditam que possa ser melhorada.
“É possível treinar as pessoas de forma que tenham mais consciência emocional”, diz o psicólogo organizacional e professor Sir Cary Cooper, da Manchester Business School, no Reino Unido. “Não é que as pessoas a tenham ou não. É um continuum.”
Treinando a inteligência emocional
O banco holandês ING ofereceu treinamento de QE a seus corretores do mercado financeiro.
O objetivo era aumentar a confiança e contrabalançar o tipo de ganância e medo que pode provocar reações impulsivas na Bolsa de Valores.
O resultado: o engajamento dos funcionários aumentou e a receita cresceu mais depressa do que a média do setor.
A inteligência emocional também é útil nas profissões ligadas à saúde e à ajuda pessoal.
“Médicos, assistentes sociais, enfermeiros e psicólogos clínicos precisam ter um nível alto de QE para fazer o trabalho com eficiência”, explica Cooper.
Pesquisas feitas na Noruega indicam que treinar o pessoal de saúde para levar as emoções mais a sério ajuda a prevenir depressão em mulheres que se tornaram mães.
O quociente emocional no dia a dia
Mas o QE também é importante no cotidiano.
“A boa inteligência emocional nos deixa mais felizes e satisfeitos. Além de nos proteger de problemas psicológicos como ansiedade e depressão”, relata Moïra Mikolajczak, professora de psicologia da emoção e da saúde da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica.
É importante saber lidar com esses sentimentos.
Ela compara esse efeito protetor com o ato de segurar uma bandeja.
“Quando o braço é forte, ou seja, quando temos boa inteligência emocional, conseguimos pôr muitos copos na bandeja antes de o braço ceder.
Quando o nível de inteligência emocional é baixo, o menor desequilíbrio é um problema. Um copo, tudo bem, mas, se forem dois, tudo cai!”
Se não reconhecemos os primeiros sintomas do estresse, fica mais difícil regular as emoções se elas atingirem níveis perigosos.
Acabamos reagindo com exagero quando o parceiro ou o filho diz ou faz algo sem importância.
E depois nos arrependemos. Se um padrão assim se desenvolve, é a receita para o desastre.
O quociente emocional e a saúde
O QE também afeta a saúde. Mikolajczak realizou pesquisas sobre o efeito do QE para uma grande organização de saúde belga.
“Quanto mais alto o nível de inteligência emocional, menos medicamentos os indivíduos tomavam, menos iam ao médico e menos eram internados”, explica ela.
Embora o QE elevado não possa garantir que você não adoeça, é muito mais provável que a falta de inteligência emocional provoque problemas de saúde. Principalmente os digestivos e cardiovasculares resultantes do estresse.
O QE e os relacionamentos
A inteligência emocional realmente causa um impacto nos relacionamentos.
“O QE pode ser um atributo muito positivo na interação com amigos, vizinhos, conhecidos, onde quer que você esteja”, diz Cooper.
“Quando você decide derrubar a árvore que fica na divisa do seu terreno com o do vizinho, se tiver bom QE, vai até lá conversar. O vizinho pode gostar daquela árvore. Tudo se resume a empatia. Você pode precisar daquele vizinho em algum momento importante da vida.”
E não vamos nos esquecer do sucesso no amor. “Casais em que os dois parceiros têm inteligência emocional duram mais”, confirma Moïra Mikolajczak.
Ser emocionalmente inteligente também nos ajuda a criar filhos mais felizes que se tornarão adultos bem-sucedidos.
Um bom exemplo
Nomeda Maraziene, médica e psicóloga de Vílnius, na Lituânia, trabalha para aumentar a inteligência emocional dos jovens de seu país.
As taxas de suicídio na Lituânia são das mais altas do mundo e, de acordo com um relatório de 2013 do Unicef, um número elevado de crianças lá é infeliz.
Ela começa o treinamento de QE com pais, professores e outros adultos que servem de modelo para essas crianças.
“O trabalho com o QE começa com os adultos, para aumentar a consciência, o otimismo e a motivação interior. Afinal, somos responsáveis pelo conteúdo emocional que propagamos”, conta ela.
“Temos a responsabilidade de ser a melhor versão possível de nós mesmos em termos de atitudes, crenças e expectativas.”
Caso contrário, teme Maraziene, talvez haja um preço a pagar. O comportamento egocêntrico é um resultado possível.
“Se não desenvolvermos a empatia nas crianças, isso pode provocar isolamento e uma abordagem individualista que torna o trabalho em equipe impossível.”
Contudo, ela enfatiza a importância do trabalho em equipe e da comunidade.
“O respeito incondicional é o principal ingrediente. Todos têm direito à própria opinião e depois podemos discuti-la e concordar ou discordar.”
Recentemente, Maraziene trabalhou num centro de adoção para aumentar a autoestima das crianças que sofreram rejeição e tiveram lesões físicas e psicológicas.
Para desenvolver sua empatia e senso de responsabilidade, os jovens foram ajudar um centro de resgate de cães, levando-os para passear e cuidando deles.
Aliás, essas e outras atividades deram frutos. Por exemplo, duas meninas muito fechadas se abriram. “Elas começaram a debater, não só falando, mas exprimindo sua opinião e expandindo-a.”
Como promover a sua inteligência emocional?
“O mais importante é ser capaz de perceber as próprias emoções”, diz Edgar Bresó.
“Portanto, antes de uma reunião, antes de vender um carro, antes de começar uma tarefa, reserve um instante para pensar: ‘Onde estou? Estou bem? Estou negativo ou positivo demais?’”
Certamente, também podemos desenvolver técnicas para regular nossas emoções.
“Quando perceber que vai brigar com seu parceiro, diga a si mesmo: ‘Tudo bem, vou sair da sala e respirar fundo’”, sugere Moïra Mikolajczak.
“Então saia e não faça nada durante dois minutos.” E a professora ressalta que talvez valha a pena que pessoas que tenham cargos estressantes tirem folgas em intervalos frequentes. Por exemplo: uma semana a cada dois meses.
Dessa forma, desenvolver a inteligência emocional não acontece da noite para o dia.
“Exige tempo e prática”, diz o golfista Glenn Hinds. Mas não há dúvida de que, no mundo atual tão veloz e tecnológico, talvez devêssemos nos preocupar menos com o QI e enfatizar o QE para ter uma vida mais feliz e saudável.
(Adaptado do texto de Susannah Hickling)