Como feminicídio gerou ação do Magazine Luiza que já atendeu 250 mulheres

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 8 de outubro de 2019 às 20:50
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:54
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Desde que o programa foi criado, houve 250 registros e nenhuma mulher morreu depois da denúncia

​Aos 37 anos, Denise Neves dos Anjos foi esfaqueada e morta pelo marido. 

Ela era mãe de um garoto de nove anos e trabalhava como gerente de uma unidade da rede Magazine Luiza em Campinas, no interior de São Paulo. 

Ocorrido em julho de 2017, o feminicídio impactou a empresária Luiza Helena Trajano. 

Presidente do Conselho Administrativo da companhia, ela preside também o Grupo Mulheres do Brasil, que hoje reúne mais de 25.500 participantes e, desde 2013, desenvolve iniciativas visando aos direitos femininos.

“Conhecemos os números, mas, quando algo acontece com alguém tão próximo, temos uma dimensão maior da gravidade do problema”, disse Luiza.

Ela se refere ao fato de que, a cada 90 minutos, uma mulher é morta por violência doméstica no Brasil, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). 

Com 13.500 mulheres trabalhando em suas 958 lojas, ela percebeu que o Magazine poderia atuar de forma efetiva para mudar, ainda que aos poucos, essa realidade. 

Medida de proteção 

Assim nasceu, em julho daquele ano, o Canal da Mulher. Trata-se de um disque-denúncia que atende funcionárias por meio do site, e-mail ou telefone 24h.

Os registros podem ser feitos pela vítima ou por qualquer pessoa que tenha notado que algo vai mal com um colega. 

Não é preciso se identificar. A partir da denúncia, uma equipe de três psicólogas (o time é totalmente feminino) faz contato e conversa diretamente com a possível vítima. 

O objetivo é, em um primeiro momento, entender detalhes e conferir se realmente se trata de violência doméstica. 

Em caso positivo, o passo seguinte consiste em oferecer orientação emocional..

As psicólogas criam uma relação de confiança com as mulheres por meio de ligações quinzenais, semanais ou até diárias, dependendo da gravidade dos casos.

Elas ouvem os relatos, direcionam as funcionárias para os Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) das cidades onde vivem e fazem a ponte entre elas e a defensoria pública para as questões jurídicas. 

Desde que o programa foi criado, houve 250 registros e nenhuma mulher morreu depois da denúncia. 

Segundo Tarsila Mendonça, responsável pelo Canal da Mulher, os dados positivos refletem a eficácia da conscientização de toda a grade de trabalhadores:

“Elas estão munidas de informação, o que previne casos mais severos. Quando ela é vítima de violência psicológica, já está fortalecida e consegue agir antes que chegue ao físico”.

Graças ao sucesso, o canal tem recebido upgrades constantes, que vão desde o aumento da equipe de psicólogas até a criação de novas metodologias para profissionalização das ferramentas. 

O projeto também tem servido de modelo para outras companhias. “Compartilhamos nossa experiência, pois ela funciona muito bem e tem custo baixo”, afirma Luiza Helena.

Em setembro 2018, a companhia fez um evento com cerca de 200 membros de outras empresas onde entregou uma cartilha em que estão descritos os detalhes da implantação e manutenção do programa. 

Segundo a empresária, a experiência tem mostrado que só o fato de o Canal da Mulher ter sido criado já funcionou como uma forma de inibição. “Afinal o agressor sabe que o local onde a companheira trabalha a protege”, diz.

O Magazine Luiza tem outros dois canais de comunicação entre funcionários e a empresa. 

Um deles é o Canal da Luiza, em que qualquer trabalhador pode pedir uma conversa com a presidente do Conselho de Administração da companhia. 

Há também o disque-denúncia corporativo, criado para que os próprios funcionários denunciem casos de descumprimento de procedimentos, irregularidades, assédio moral ou sexual nas dependências da empresa.

O funcionamento das ferramentas é parecido com o do Canal da Mulher, em que é possível fazer o registro por meio do site, e-mail ou telefone. 

O acompanhamento das requisições, porém, é distinto: “A conduta dos funcionários é avaliada e, de acordo com o caso, os envolvidos recebem feedback, advertência ou, em casos extremos, podem ser demitidos”, explica Tarsila Mendonça.

Reconhecimento garantido 

Em abril, Luiza Helena Trajano foi eleita pela segunda vez consecutiva a líder de negócio com melhor reputação do país ,segundo o ranking da consultoria Merco. 

Sua empresa também está em destaque. O Great Place to Work 2018 elegeu o Magazine o melhor lugar para se trabalhar entre os varejistas. 

A companhia foi a segunda colocada no ranking geral.


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