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Para juíza Andréa Pachá, conflitos da intimidade passam a ser tratados com o mesmo reducionismo de bem X mal
Habituada ao dissenso como premissa de trabalho, a juíza Andréa Pachá acumula décadas de observação de brasileiros em conflito.
Só na Vara de Família do Rio de Janeiro são 20 anos, acolhendo processos de separação, guarda parental, paternidade e outras demandas do (des)amor.
A experiência inclui participação no Conselho Nacional de Justiça, na implantação de varas de Violência Doméstica em todo o País e na formalização de pedidos de adoção.
No local onde são decididas questões objetivas, a subjetividade das pessoas presentes dá o tom da situação.
“Muitas vezes, o tribunal é o único lugar onde elas conseguem falar e serem ouvidas”, conta.
A escuta, aliás, anda em falta nas relações. Os conflitos domésticos ganham contornos parecidos com as contendas políticas.
Ao mesmo tempo, responsabilidades privadas são submetidas a decisões públicas.
As fragilidades humanas observadas no dia a dia fomentaram as crônicas ficcionais de A Vida Não é Justa.
O livro, publicado originalmente em 2012, ganhou relançamento neste ano pela Editora Intrínseca e inspirou o quadro Segredos de Justiça, exibido no Fantástico em 2016 e estrelado por Glória Pires.
Se a vida não é justa, como a Justiça atua em nossa convivência?
Andréa Pachá discute o alcance da atividade judiciária e seus pilares fundamentais em uma democracia.
Ela reforça a importância do cumprimento das leis por todos e destaca o direito ao contraditório e à ampla defesa como atos que nos distanciam da barbárie.
Sobre a percepção da sociedade brasileira sobre a Justiça e os juízes atualmente, Andréa Pachá diz que, “por mais que o Judiciário tenha mudado, por mais que se tenha transmissão dos julgamentos na TV, o poder ainda é muito fechado, desconhecido e inacessível para a maior parte da população”.
Ela acrescenta que ninguém respeita o que não conhece. “Nesse sentido, é essencial que o Judiciário revele à sociedade o seu papel de garantidor de direitos, especialmente dos direitos fundamentais e humanos, que vêm sendo desqualificados com frequência”.
O sistema é confuso até mesmo para quem trabalha nele. Melhorar a comunicação e escancarar as portas da Justiça para quem precisa é o melhor caminho.
Como observadora privilegiada das relações humanas, Andréa Pachá diiz:
“Lamentavelmente assistimos ao crescimento da extrema direita em todo o mundo e também no Brasil. O discurso da intolerância, os linchamentos e as milícias virtuais têm transformado o outro, qualquer que seja ele, em inimigo”.
Para a juíza, “não há vida em grupo possível e sustentável sem um profundo respeito pela pluralidade e pela diversidade, e a viabilidade dessa convivência depende da afirmação permanente dos direitos fundamentais, da cultura, do afeto, valores humanos que nos constituem. Se por um lado há razão para tristeza e pessimismo, também é com alegria que vejo crescer uma juventude mais afetuosa, ocupada com a questão ambiental, com a afirmação da identidade, da liberdade. Meu exercício diário é recusar o pessimismo que paralisa e não perder a capacidade de me indignar com as injustiças. Fico atenta para não reagir ao ódio e à intolerância com mais ódio e intolerância. Resistir, nesses tempos, é com afeto e humor”, diz.